Medidas de segurança em excesso
Cinema

Medidas de segurança em excesso



Ontem vi algo inédito. O convite para "Doubt" indicava que material de gravação de imagens e som estava proibido de entrar na sala. É frequente em festivais estar situações acontecerem. Em Cannes ninguém entra no Mercado sem ter os sacos revistados e passados pelo detector de metais, uma vez em Sitges peguei no telemóvel para ver as horas e imediatamente um segurança me pediu que o guardasse. Em Portugal a única vez que me fizeram pedido semelhante foi no visionamento de imprensa de um Harry Potter. Considero situações normais quando o filme está nos primeiros visionamentos. Só que "Doubt" já vai com um mês de exibições pelo mundo fora. Procurando no Google logo o primeiro resultado de torrents diz que 65000 pessoas o estão a partilhar, muito provavelmente com melhor qualidade do que qualquer um conseguiria com a câmara de 3 Megapixeis.

Chegando ao cinema qual não é o meu espanto ao ver que há fila para entrar na sala. Confesso que cheguei em cima da hora, mas não era dito nada no convite acerca da hora de chegada. Apenas que a sessão teria início às 21:30. Junto-me aos incautos e aguardo pacientemente. Passados alguns minutos o número de pessoas atrás de mim continua a aumentar e à frente não se via avanços. Perguntei a um segurança se quem não tinha telemóvel podia entrar e diz-me que todos têm de ficar na fila. Passados uns minutos esse mesmo segurança vem dizer que quem não tiver telemóvel com câmara pode passar. Inacreditável!
Ao alcançar à porta o espectáculo era ainda melhor. Muito pessoal dos cinemas assistia, mas ninguém sabia bem o que fazer. Os funcionários entre guardar telemóveis em algo que me pareceram sacos numerados e ouvir reclamações não tinham mãos a medir. O segurança que fazia a detecção de metais ficou surpreso por me ver com carteira e chaves na mão, deve ter pensado que lhas ia atirar. Presumo que não soubesse trabalhar com aquilo. A detecção não acusou nada e mesmo assim o desconfiado perguntou-me se trazia algum gravador. Depois da espera só me apetecia ser irónico, mas como preferia ver o filme a ser retido para averiguações disse um simples não.
Ao entrar na sala fico em choque pois já umas 300 pessoas estavam lá dentro. Se tiverem demorado com elas o mesmo tempo que estavam a demorar com os que ainda estavam do lado de fora deviam estar a entrar desde a hora de almoço. Os comentários gerais não se afastavam muito do "vou começar a gravar com a câmara que trouxe no sapato".
O filme começou com um atraso pequeno, mas o detestável intervalo voltou a aparecer. Como por causa de todo o aparato não tinha levado o meu gravador para registar as primeiras impressões tive de o fazer à moda antiga: papel + caneta = gatafunhos incompreensíveis. Felizmente a maior lição que tive de jornalismo foi que um jornalista anda sempre com uma esferográfica.

Fica uma pergunta no ar. O que se terá passado para que procedam assim? Não seria mais simples divulgarem o que se passou com o prevaricador caso exista (ou um boato caso não haja nenhum) como forma de desmotivação? É para isso que existe um intervalo publicitário antes de cada filme.

Pontos fundamentais para visionamentos controlados


Isto sucedeu num cinema Zon, mas mais cedo ou mais tarde vai ser igual em todos. O alerta fica deixado para todas as distribuidoras e salas:

  • Não é bem visto suspeitar das pessoas. Façam-no apenas quando se justifica (quando o filme ainda não está na net).
  • Se querem fazer recolha de telemóveis, detecção de metais e tudo o mais façam-no com pessoal treinado e despachado. Pelo preço certo até posso dar a formação.
  • Para desmotivar os cameramen amadores que estejam na sala cumpram a ameaça e estejam com óculos infravermelhos na sala. Não incomoda ninguém e é mais agradável do que estar na fila meia hora. Assim a única mensagem que passa é que ir ver um filme de graça dá demasiado trabalho.
  • Os vencedores de convites são em 90% dos casos pessoas com contactos nos sítios certos que vão a dois filmes por semana ou participantes vitalícios de passatempos de jornais/rádio/blogs que ganham algo de quinze em quinze dias no nome dos próprios(as), dos irmãos(ãs) ou namorados(as). Nenhum deles interessado em perder o privilégio. Dá menos trabalho a todos dizer "quem for apanhado a gravar sons ou imagens ficará proibido de entrar num cinema por 5 anos" ou melhor ainda "quem detectar actividades ilícitas na sala ganha 10 bilhetes grátis".

    Para o espectador:
  • O controlo não é tão rigoroso como a entrada num estádio ou concerto, imaginem que vão embarcar num avião. Quem só vai ao shopping para o filme escusa de levar telemóvel, deixe-o em casa. Se tiver de levar deixe-o escondido no carro. Evitem objectos metálicos e não transportem volumes suspeitos (sacos do hipermercado, pochettes ou malas de senhora). Ao chegarem ao segurança levem objectos metálicos como chaves e porta-moedas na mão. Telemóveis e gravadores desligados e prontos a ir para o saco. Pequenas coisas que facilitam a vida de todos.



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