O Futuro das Salas de Cinema
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O Futuro das Salas de Cinema


As salas de cinema têm futuro? A Socorama ? Cinemas, uma das maiores exibidoras nacionais, acabou de anunciar que já deu entrada no Tribunal de Comércio de Lisboa com um pedido de falência. É de recordar que a Socorama fechou, no início deste mês, mais de meia centena de salas de cinema em todo o país e, pelos visto, vai fechar mais umas quantas até ao final do presente trimestre. Segundo João Paulo Abreu, administrador da histórica exibidora, o pedido de insolvência, que foi requerido pela própria empresa, é apenas um meio drástico para obter um fim necessário. A Socorama pretende, com este meio, ganhar algum tempo para elaborar um plano de revitalização financeira que terá como principal objetivo a recuperação económica da empresa. O plano irá prever também o pagamento faseado da sua dívida global que, segundo a imprensa nacional, ascende aos doze milhões de dólares. A Sonae Sierra é, pelos vistos, a maior credora do grupo, tal como a Segurança Social e a Banca. Se tudo correr bem, a Socorama não deverá encerrar definitivamente, mas não há duvidas que esta falência técnica da Scoroama é um duro golpe para o mercado cinematográfico nacional. 
Esta triste notícia leva-nos a questionar se as salas de cinema têm ou não futuro. Eu acredito que os cinemas têm ainda muito para dar e, apesar desta fase menos boa que atravessam, espero, muito sinceramente, que recuperem toda a sua glória num futuro próximo, porque o nosso país e os portugueses precisam de ver cinema nas salas, afinal de contas é nelas que os filmes devem ser vistos. É claro que os dados oficiais do Instituto do Cinema e do Audiovisual (ICA) são tudo menos animadores, e contrariam este meu fervoroso otimismo. Os números que aparecem na tabela de assistências têm vindo a diminuir de ano para ano. A dura realidade é que os portugueses já não vão tantas vezes ao cinema como costumavam ir. Os últimos dois anos têm sido particularmente maus no que toca às assistências, mas é curioso verificar que, apesar da queda drástica na presença de pessoas nas salas de cinema, as receitas não parecem ter sofrido uma redução assim tão drástica, muito por culpa dos filmes em três dimensões e dos preços inflacionados destas sessões especiais. A pergunta fulcral é simples ? O que é que está a afastar os portugueses das salas de cinema que, durante décadas, foram uma das maiores fontes de entretenimento do nosso país. 

1 ? A Crise Financeira ? A crise financeira que tem afetado e devastado o nosso país, pode ser apontada como a principal culpada pela ausência de espectadores das salas de cinema. Os vários exibidores nacionais têm sido afetados pela falta de apoio e pelo aumento de impostos, mas apesar destas medidas de austeridade terem contribuído para o fecho de algumas salas e para a delicada situação financeira da grande maioria das empresas do sector, a grande consequência da crise reside na diminuição do poder de compra do consumidor final. A triste realidade é que a grande maioria dos portugueses têm cada vez menos dinheiro para gastar em hobbies culturais, porque todo o dinheiro que ganham tem que ser ?investido? em coisas mais importantes como a alimentação, a habitação, a saúde ou a educação. O pouco que sobra nem sempre dá para uma ida ao cinema para toda a família, até porque os bilhetes estão cada vez mais caros. Isto leva-nos a outro problema crasso.

2 ? O Preço dos Bilhetes ? Se os bilhetes de cinema em todo o território nacional custassem, no máximo, dois euros, então acredito que as salas iam ter mais pessoas que nunca. O facto do preço médio de um bilhete rondar os seis euros é, no mínimo, dramático e excessivo. É claro que, com descontos e outras artimanhas, um preço individual por menos de seis euros até não parece assim tão caro, mas temos que ter em conta que se uma família de quatro elementos quiser ir ao cinema, então tem que desembolsar cerca de vinte e cinco euros. Por este preço, esta família pode ir a um restaurante de fast food ou low cost e saciar-se com uma boa refeição. A maior parte das pessoas aponta, e bem, o elevado preço dos bilhetes como a principal razão por não ir mais vezes ao cinema, mas será mesmo? É claro que o preço é demasiado elevado, mas o fato de ter a possibilidade de ver um filme no conforto da sua casa através da internet também não pesa na sua decisão de não por os pés no cinema?

3 ? A Pirataria ? É um ?mal? inevitável e incontrolável que, diretamente e indiretamente, tem afastado as pessoas das salas de cinema. É bastante fácil e comodo fazer o download ilícito de filmes, mas este sistema também tem as suas limitações. É pertinente recordar que o download ilícito ainda é um crime que é punível com pena de prisão. É claro que são raros os casos de prisão por este ilícito criminal, porque a fiscalização e controlo da pirataria online é extremamente ineficiente e limitado, assim sendo, é praticamente impossível fiscalizar quem faz downloads ilícitos de filmes ou músicas. Eu sou absolutamente contra qualquer restrição da internet e, ainda mais contra, a punição abusiva (ou não abusiva) de uma pessoa que faça, ocasionalmente, um ou outro download ilícito, mas também acho que deve haver limites morais à nossa vontade de ?sacar? tudo o que é filme. A outra grande limitação reside na falta de qualidade de grande parte das cópias ilegais que circulam por aí. As cópias das estreias raramente têm boa qualidade e, mesmo que tenham, nunca compensam a experiência cinematográfica de ver um filme num ecrã de cinema, com um excelente sistema de som e sem distrações ao nosso redor.

4 ? As Distribuidoras ? As distribuidoras também têm que arcar com a sua quota parte da responsabilidade pelas fracas assistências nas salas de cinema. É quase impossível sentir vontade de ir ao cinema ver um filme de 2009, que só passado dois ou três anos é que estreia no nosso país. Os atrasos na distribuição são incómodos e desmoralizantes, mas também são absolutamente ridículos. Eu acho que, no máximo, devia haver um atraso de duas semanas entre a estreia de um filme no país onde foi feito e a sua estreia no nosso território, assim quanto menos tempo passar entre as estreias, menos probabilidades há de o filme ir parar à internet com uma qualidade aceitável. 

5 ? A Televisão e V.O.D ? É das coisas que menos contribui para a diminuição de espetadores nas salas de cinema, porque são poucas as pessoas que gostam de ver filmes na televisão, mas o fato de cada vez haver mais canais de televisão a passarem bons filmes a um custo acessível pode ajudar a explicar porque é que certas pessoas não vão tantas vezes ao cinema. O mesmo pode ser dito sobre os serviços Video-On-Demand, que oferecem aos seus clientes a possibilidade de ver filmes relativamente recentes a um preço acessível. 

6 ? O Comodismo e a Falta de Civismo ? A outra grande ameaça à sobrevivência das salas de cinema é o progressivo comodismo dos espectadores. Quem é que tem vontade de ir para um shopping ou multiplex cheio de pessoas a meio da tarde ou noite para ver um filme, que pode muito bem ver em casa e com menos custos para a carteira? Quem é que quer aturar a falta de civismo de algumas pessoas que, para além de arruinar toda a experiência cinematográfica, deixam-nos profundamente irritados com as suas atitudes sem consideração que incluem, por exemplo, as brincadeiras com o telemóvel, as demonstrações excessivas de afeto, os comentários ridículos ou, o mais irritante de todos, a tradicional e barulhenta trituração de pipocas durante quase todo o filme.

A junção de todos estes fatores tem contribuído para a diminuição de espetadores nas salas de cinema, mas há soluções para tudo isto. Quais são essas soluções? A principal solução passa pela diminuição do preço dos bilhetes e pela diminuição do tempo de espera, entre a estreia de um filme no mercado original e a sua estreia no território português. O resto das soluções virá com a mudança de mentalidades e o melhoramento da situação económica da nossa nação. O aparecimento e implementação de novos formatos de salas de cinema (IMAX e 4D) também deverá contrabalançar a queda das assistências e os efeitos da pirataria que, no meu entender, não tem mal nenhum se for utilizada com moderação. A internet é uma mais-valia e nunca deve ser restringida a ninguém, mas se não tivermos cuidado os poderes superiores podem muito bem decidir tomar uma decisão anárquica e começar a limitar tudo o que está relacionado com a internet.  A aposta continuada nos Cineclubes e Festivais de Cinema também pode contribuir para devolver aos portugueses a alegria de ir ao cinema mas, no fundo, o futuro dos cinemas está exclusivamente dependente da vontade dos portugueses em irem ao cinema e de retirarem desta experiência toda a alegria possível.



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