Ficha Técnica
O seu filme anterior ?Valente?, entretanto, desvirtua-se desta filmografia de sucesso e descamba ao clichê, que se repete em ?Ondine?, uma fábula realista sobre sereias e pescadores, contando a história de Siracusa (Colin Farrell), um simples pescador que, durante mais um dia de trabalho, encontra uma bela mulher presa as suas redes de arrastão. Ela parece morta, mas ganha vida assim que ele se aproxima e uma história cheia de altos e baixos se inicia.É natural e perdoável, pois a maré não está dando peixes para a nova fase do diretor. O detalhe talvez seja a escolha de alguns atores. Colin não convence em sua interpretação, muito menos a ?sereia? em destaque. Mas nem tudo está perdido. O espectador poderá absorver a excelente atriz Alison Barry, que faz a filha, Annie, de Siracusa. Com sua curiosidade infantil, vivenciando o estagio maduro por necessidade de ser. Ela precisou de crescimento instantâneo. Isso ocasionou a sua perspicácia e entendimento direto sobre as coisas, buscando a normalidade da sua idade, ilustrando e tentando acreditar na fantasia a fim de se fugir da cruel realidade. Trocam-se os papéis. Os adultos comportam-se de maneira frágil e fraca, mergulhando em deslizes e vícios para mascarar as dores, as decepções e as frustrações.
Neste conto de fadas moderno, nem tudo é o que parece ser. Neil objetiva mudar direcionamentos de quem está do outro lado da tela a medida que se anda com o filme. Mas o que se consegue é o amadorismo, não chega a ser pretensioso, apresenta-se, apenas, com ingenuidade. A parte técnica conduz competentemente o roteiro. A fotografia acinzentada compara-se ao simples cotidiano como um dia sem sol em uma vila de pescadores. Quase não há a luz, projeta-se a superficialidade iluminada, propositalmente. Ao retornar ao elemento interpretativo, há quebra de qualidade. As conversas (diálogos) traduzem-se como perdidos, vazios e melodramáticos. Não há consistência nem no texto, nem nas expressões faciais dos protagonistas. ?Não posso morrer duas vezes?, ?Mas pode morrer uma vez de verdade?, diz-se entre as muitas frases de efeito que não funcionam, extremamente exageradas, quase falsas. A trilha sonora ?navega? no equilíbrio. Ora há musica estilo ?Brokeback montain? de ser, ora há Sigur Rós (incluindo um show televisionado) causando o ?canto das sereias? ou ?mulher foca?. A trama caminha à seguridade, por explorar a diálise de uma personagem, entre tantos comuns, defensivos as suas maneiras e sobrevivendo como podem e ou conseguem. Ambienta-se a estranheza natural. ?Um dia estranho?, sobre aqueles dias que se vivencia o surrealismo de um sonho acordado. ?Ondine, ela veio do mar?, explica-se.
O gênero romântico aparece com todos os óbvios clássicos deste tipo. ?Você me traz sorte?, sobre o milagre dos peixes multiplicados. A chegada da ?mulher foca? modifica a vida do pescador e o estimula a acreditar na felicidade e no amor. Como já disse, a garotinha é o melhor parte do filme. Ela humaniza as imperfeições próprias e alheias, definindo com poesia madura o seu próximo, com percepção aguçada e sincera sobre as pessoas e seus comportamentos intrínsecos. ?Cada vez mais curioso?, diz com o seu bordão. ?Foi o que Alice disse ao coelho branco?, complementa. ?Felicidade inesperada?, ?Homem da terra?, ?Ter vidas incontáveis?, algumas colocações, incluindo ?Cada um faz a sua sorte?. Há o politicamente correto ?Não é deficiente, mas sim necessidades especiais?. A moral da história é a de que as pessoas acreditam no que querem acreditar. Cada um possui o seu livre arbítrio para decidir o caminho a percorrer, sendo responsável pelos seus próprios atos. Concluindo, o longa tem os seus méritos: a atuação de Alison Barry (a Annie) e a fotografia seca e depressiva, mas não seguram a atenção do espectador que dispersa a maior parte do tempo. O conjunto da obra gera a pobreza verborrágica (reitero o que já disse: excetuando os diálogos de Annie) e o excesso da previsibilidade. Vecendor do IFTA Award nas categorias: Melhor Ator (Colin Farrell), Melhor Atriz (Dervla Kirwa), Melhor Design de Produção (Anna Rackard) e Melhor Sonorização (Brendan Deasy).
O Diretor