Cinema
Pérolas Indie - Eva (2011)
Realizado por Kike Maíllo
Com Daniel Brühl, Marta Etura, Alberto Ammann
Género ? Drama/ Sci-Fi
Sinopse ? Espanha, 2041. Álex (Daniel Brühl), um famoso engenheiro cibernético, regressa à sua pacífica cidade natal para trabalhar num ambicioso projeto robótico que está a ser financiado pela universidade onde se formou. O regresso de Álex às antigas rotinas fica marcado por um certo constrangimento em relação ao seu irmão e ex-namorada que, após a sua partida, refizeram a sua vida em conjunto e até tiveram uma filha ? Eva (Claudia Vega), uma menina com uma personalidade magnética e energética que cativa de imediato a imaginação de Álex, que olha para Eva como a filha que nunca teve. Os dois tornam-se amigos e cúmplices desde o primeiro momento em que se conhecem e decidem, por isso, iniciar em conjunto e em segredo uma viagem de descobrimento e curiosidade que culminará num final revelador.
Crítica ? A Edição de 2012 do FantasPorto acolheu a estreia nacional desta curiosa e astuta longa-metragem do estreante Kike Maíllo, um promissor cineasta espanhol que nos mostra que é possível fazer um bom filme de ficção-cientifica sem um orçamento astronómico, um conjunto de refinados efeitos visuais e uma narrativa extravagante. A presença destes elementos costuma beneficiar os filmes do género, mas a sua ausência não prejudica em nada este filme que, apesar do seu carácter independente, brilhou nos Prémios Goya 2012 (Óscares de Espanha) e nos Prémios Gaudí 2012 às custas dos seus modestos mas cintilantes efeitos visuais e do seu ardiloso enredo, que está longe de ser complexo ou largamente imprevisível, mas que consegue manter o espectador preso a uma certa ideia de surpresa que eventualmente culmina numa conclusão ritmada e emocionalmente avassaladora. Este seu forte desfecho é antecedido por um desenvolvimento relativamente lento mas deliciosamente intimista, que prepara e antecipa adequadamente todas as grande emoções finais ao montar um interessante tabuleiro de sensações e intenções que envolvem o protagonista e as suas relações com as outras personagens do filme, nomeadamente com a inocente e caricata Eva. A poderosa relação de cumplicidade que nasce e cresce entre Álex e Eva acaba mesmo por se destacar como a verdadeira força dinâmica desta produção, já que é sobre ela que giram todos os eventos relevantes e é dela que derivam os principais momentos dramáticos e emotivos do filme. A relevância desta relação para o seu desfecho é clara desde o inicio, mas só com o avançar da trama é que conseguimos compreender tudo o que ela envolve, daí ser tão importante a base intimista do seu argumento. O grande problema desta aposta mais pessoal reside na ausência forçada, por falta de tempo e de espaço, de uma significativa abordagem cientifica e moral ao tema base desta obra, ou seja, não encontramos em nenhum lado uma análise séria e central às várias questões éticas que rodeiam a utilização dos robots nas suas variadas formas no nosso dia-a-dia, no entanto, tenho que admitir que estas questões estão sempre em segundo plano e nunca ganham relevância ao longo do filme, pelo que uma abordagem mais complexa seria sempre contraproducente. O que também está em segundo plano são os seus efeitos visuais que, apesar de não serem predominantes do inicio ao fim, têm sido elogiados por muita gente, já que Kike Maíllo conseguiu criar, com muito pouco dinheiro, alguns efeitos interessantes e uns robots muito convincentes, tal como o gato robótico ou o protótipo que aparece na fase de testes do projeto em que o protagonista está a trabalhar. Por muito tímidos e breves que sejam, estes truques tecnológicos conseguem enriquecer o filme e tornam-no muito mais apelativo, mas também acabam por originar algumas questões de contexto e ligação, como o facto de não conseguirmos compreender porque é que as pessoas que vivem num futuro tão avançado ainda conduzem automóveis com um design bastante antiquado até para o nosso tempo, ou porque é que os alunos de uma faculdade de robótica têm aulas em auditórios clássicos feitos em madeira e sem nenhum material informático. É claro que todas estas falhas não passam de pormenores que até podem passar ao lado do espetador. O elenco de "Eva" também tem um trabalho coletivo muito bom, sendo de destacar as performance individuais do popular Daniel Brühl e da magnifica Marta Etura, uma atriz muito talentosa que devia seguir o caminho de Brühl e tentar a sua sorte em Hollywood. A jovem Claudia Vega também tem um papel muito convincente. É pena que "Eva" só tenha sido exibido em Portugal no FantasPorto, mas já pode ver esta agradável produção espanhola em DVD/ Blu-Ray. Eu acho que vale a pena, mas convém ter em conta que "Eva" é uma produção independente e não um grande blockbuster norte-americano de ficção científica cheio de colossais efeitos visuais e sonoros.
Classificação - 3,5 Estrelas em 5
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