Cinema
Pérolas Indie - Frank (2014)
Realizado por Leonard Abrahamson
Com Domhnall Gleeson, Maggie Gyllenhaal, Michael Fassbender
Género - Comédia/ Drama
Sinopse - John é um aspirante a músico que se encontra meio perdido quando decide juntar-se a uma banda de pop alternativo liderada pelo enigmático e excêntrico Frank, um génio musical que se esconde dentro de uma grande cabeça falsa.
Crítica -Foi um impressionante fenómeno de popularidade em dois dos mais importantes festivais de cinema independente do mundo, o Festival de Sundance e o Festival South by South West, tendo merecido sem qualquer reparo ou polémica todo o feedback positivo que conquistou nestes palcos, porque "Frank" é uma genuína delícia cinematográfica sem qualquer hipótese de contestação. É um daqueles filmes bizarros que, graças à sua inerente extravagância, tornam-se empolgantes e absolutamente irrepreensíveis em qualquer ponto que se opte por discutir. Neste caso específico, "Frank" é um brilhante exemplo de como um filme pode ter piada, pode ser extravagante e pode ter um forte significado humano sem ser pesado ou puramente filosófico, sim porque a sua intriga não tem nada de muito complexo ou poderoso, pelo menos não durante a sua primeira hora, onde o espectador entra num mundo repleto de extravagância com muito humor negro à mistura e, claro, fortes doses musicais a acompanhar tudo o que rodeia a sua intriga bizarra mas aparentemente simples. O que é certo é que, perto do seu final, "Frank" deixa de ser assim tão simples e com isso torna-se um pouco mais sério e dramático do que inicialmente se previa, ficando assim também mais próximo de um drama humano que de uma comédia humana. É nesta sua parte final que sobressaem as suas mensagens morais e as suas componentes humanistas de relevo, levando assim este projeto para um caminho que nos leva a dar um mergulho mais dramático em tópicos difíceis e desconfortáveis que nos fazem pensar sobre tudo o que vai sendo discutido.
Há aqui um forte equilíbrio entre o humor, o drama e a música que funciona em pleno, tornando-se impossível ficar indiferente a este competente e empolgante produto, que tanto nos faz rir como perdidos com algumas das suas sequências e situações inesperadas, como nos faz pensar dramáticamente sobre alguns temas importantes, como a importância e as consequências da saúde mental ou o pior lado da indústria musical. Estes dois tópicos estão sempre presentes em todos os quadrantes da intriga, mas só se tornam mais prevalentes durante a sua parte final, porque é nesta fase que se tornam verdadeiramente relevantes. Ao ter como cenário a complexa indústria musical, "Frank" nunca poderia deixar de ignorar este tema que, por isso mesmo, está sempre presente ao longo do filme, mas enquanto no seu início somos confrontados com uma espécie de visão mais independente e generalista de tudo o que ela envolve, na sua parte final já somos confrontados com o seu lado mais negro e instável. Esta degradação também influencia outros parâmetros dramáticos do filme, já que os pormenores e preocupações referentes ao tópico da saúde mental também se tornam mais prevalentes à medida que os dois protagonistas de "Frank" vão sendo influenciados pelos pesos e especificidades de uma indústria competitiva que se move ao ritmo de um mercado exigente. Estes dois tópicos andam por isso lado a lado, sendo desta forma muito interessante acompanhar como o jovem John cai de paraquedas num mundo musical bizarro e conhece aí um grupo de personagens igualmente bizarros que, à medida que os vamos conhecendo, vão-se tornando cada vez mais impressionantes de um ponto de vista humano, sem no entanto nunca perderem o seu lado cómico e bizarro. Isto é particularmente notório em relação a Frank, uma das personagens mais desenfreadas e curiosas que provavelmente veremos este ano no grande ecrã, mas que por detrás da sua excentricidade esconde grandes pesos humanos que só existem graças à pressão de um mundo que não é adequado para todos, como aliás John irá descobrir.
Para além de um guião brilhante, "Frank" é dotado de um elenco sublime e de uma direção fantástica. Há portanto um conjunto de peças de qualidade que funcionam em perfeita harmonia e ajudam assim a tornar esta obra em algo muito especial sem nenhum elo fraco que se destaque. É óbvio que "Frank" não é para todos os gostos nem para todos os públicos, mas é um daqueles filmes únicos que sobressaem em qualquer lista ou qualquer tópico de conversa e debate.
Classificação - 4,5 Estrelas em 5
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