Crítica - Tal como já se esperava, "La Grande Bellezza" venceu o Óscar de Melhor Filme Estrangeiro (Língua Não-Inglesa) com todo o mérito e sem nenhuma contestação. O clássico estilo das icónicas comédias dramáticas italianas está bem vivo nesta bela obra de Paolo Sorrentino que, após uma breve mas interessante passagem pelo cinema mais mainstream e semi-americano com "This Must Be the Place" (2011), decidiu regressar ao estilo mais clássico da sua cultura e do cinema italiano. É por isso que "La Grande Bellezza" pode ser descrito como um filme leve mas extremamente acutilante, porque apesar de ter na sua base uma narrativa sem complexos e com grande facilidade de percepção, acaba por incluir pelo meio muitas lições de vida e filosofia que merecem uma análise bem profunda e particular do público, já que cada um poderá retirar a sua própria conclusão em relação à jornada existencial de Jap Gambardella, um protagonista bem vivido que, infelizmente, parece estar preso a um estilo de vida demasiado ostentoso para as suas posses e até para a sua vida já em decadência. É ao aperceber-se que a sua vida já não parece ter muito significado que Jap entra numa espécie de viagem emocional para tentar compreender a sua existência e mudar o seu estilo de viver a vida, sendo por isso que todo o filme não é composto apenas por um único segmento, mas sim por várias composições de vida e episódios dramáticos que recuperam o tema central do filme, ou seja, a mudança, já que no fundo, "La Grande Bellezza" evoca uma espécie de biografia do protagonista numa tentativa de criar uma introspecção muito pessoal sobre o seu passado, presente e futuro para assim podermos compreender o seu desejo de mudança ou a sua intransigência em avançar.
É por isso muito interessante seguir a jornada de Jap, um velho intelectual sem posses monetárias mas que leva ainda assim uma vida de luxo, que pouco ou quase nada fez de relevante desde que lançou o seu best-seller e que, passado várias décadas, parece acordar finalmente para a vida, após ter passado muito tempo preso a uma vida de luxos e de maus hábitos que o habituaram mal ao tédio e à inércia, mas que ainda assim não o deteve de aproveitar ao máximo as festas e as mulheres, que sempre foram uma constante na sua vida. É curioso seguir a sua tentativa de recuperar um sentido para a vida, mas também é curioso descobrir como é que ele viveu durante anos, porque acaba por servir como um retrato bem interessante da inércia e luxuria da classe alta, que só parece viver para as aparências.
Esta bela história de Jap Gambardella é retratada com muita mestria e beleza por Paolo Sorrentino, um ainda jovem realizador muito talentoso que, frame por frame, filmou "La Grande Bellezza" com um cuidado incrível, criando assim várias sequências de enorme nível, como por exemplo a sequência inicial, que nos mostra a festa de aniversário do protagonista. É claro que para além destas imagens de qualidade, "La Grande Bellezza" conta também com um guião fenomenal e cheio de diálogos de qualidade superlativa, que são interpretados sem falhas por um elenco vigoroso e profissional que apenas acrescenta mais uma nota positiva a um filme já de si muito positivo e altamente recomendável, que voltou a colocar o cinema italiano onde este merece estar, ou seja, nas bocas do mundo pelas melhores razões.
Classificação - 4,5 Estrelas em 5