Direção: Wim Wenders Roteiro: Wim Wenders Elenco: Pina Bausch, Regina Advento, Malou Airoudo Fotografia: Hélène Louvart Música: Thom Produção: Gian-Piero Ringel, Erwin M. Schmidt, Wim Wenders Distribuidora: Imovision Estúdio: Neue Road Movies Duração: 106 minutos País: Alemanha/ França/ Reino Unido Ano: 2011 COTAÇÃO: ENTRE O MUITO BOM E O EXCELENTE
A opinião
Pode soar redundante, mas me parece lógico que só alguém dotado de sensibilidade consegue captar a sensibilidade do outro. Estamos abordando aqui, dois seres inquietos, que buscam a qualidade técnica da perfeição, utilizando-se dos próprios elementos ao redor, tanto emocionais, quanto naturais (da natureza mesmo). De um lado, o cineasta Wim Wenders, aclamado pela filmografia autoral, instituindo novas linguagens e ângulos de câmera diferenciados, resolveu realizar um filme homenagem a coreografa, dançarina, pedagoga de dança e diretora de balé alemã, Philippine Bausch, nascido em Solingen, 27 de julho de 1940, mais conhecida como Pina Bausch, que contava histórias enquanto dança, baseando-se em experiências de vida dos bailarinos e feitas conjuntamente. O diretor (de ?Paris Texas?, ?Asas do Desejo?, ?Tão longe, tão perto? e da incursão musical ?Buena Vista Social Cub?) buscou a essência que precede a essência de Pina. O roteiro imprimiu na narrativa, depoimentos adjetivados e metafóricos, na maioria das vezes por pensamentos, já que a protagonista dava uma atenção maior ao silêncio, a dizer sem palavras, insinuar como um filme mudo, ora exacerbando o momento, ora o introspectando. ?Há situações que ficamos sem palavras e tudo que se pode fazer é insinuar. Aí que vem a dança, sem palavras?, disse logo no início do documentário, que conta também com fragmentos dos espetáculos, como por exemplo, Café Muller. É explicito a carga emocional e terapêutica das apresentações. Os dançarinos entregam-se às próprias catarses, solidões, tristezas, alegrias, anseios, medos, carências, dependências. Ela foi diretora da Tanztheater Wuppertal Pina Bausch, localizada em Wuppertal, local que se transformou em nuvem, em 30 de Junho de 2009, deixando o céu mais leve. Wenders trabalhou o elemento presente e passado, mesclando pessoas da antiga turma da companhia com as da nova.
O longa-metragem pode ser assistido em terceira dimensão, mais um diferencial do cineasta, assim, criando o contraste entre o moderno tecnológico e a verdade da base real de cada um. Pina atiçava a descoberta, a reinvenção pessoal, interagindo vida e arte. Wenders soube aproveitar este elemento, inserindo a câmera como personagem, fazendo que participasse do jogo de cena. O material de arquivo que mostra a coreografa em ação, tanto nas ideias, quanto atuando como bailarina, transpassa a preocupação pela sutileza, de ser direto sem ser superficial, de ser louco para se libertar do mundo e conectar-se. É direto e existencial, sem ser clichê. É poético e realista, sem ser chato. ?Pina foi como encontrar uma linguagem, antes de aprender a falar. Ela me deu um vocabulário?, pensa-se. Ou ?Torna-se tinta para colorir a imagem?. Para ela, o mais ínfimo detalhe importava. Dessa forma, inovava, saindo do convencional, transgredindo a própria arte, sem invocar política, mas sendo somente arte, única e exclusivamente pelo autoconhecimento. ?Tudo é uma imagem que você pode aprender a ler?, incrível como expressa terapia cognitiva, despertando a sinestesia do espectador, que congela na cadeira do cinema, absorvendo e questionando sobre o que vê e o que sente sobre o que vê. Curiosamente, alguns atos são feitos de olhos fechados pelos dançarinos, que precisam confiar no outro para que não se machuquem. ?Fragilidade com força?, ?superando limites?, ?dor?, ?pena?, ?perda?, são alguns expoentes encontrados na obra hiperbólica e analítica da então ?nuvem celestial?. ?Pina, aparece PA mim?, pede uma integrante da companhia de dança.
Wenders complementa com músicas atuais, como jazz, tango e ?Leãozinho?, de Caetano Veloso, entre outras, e objetiva transpassar uma moderna nostalgia, expondo as mitigações quanto o processo teatral do balé contemporâneo. ?Honestidade em cada gesto?, diz-se. ?A sua fragilidade também é a sua força?, dizia ao personificar e humanizar as ações do cotidiano. Podemos nos apropriar da frase de Leonardo da Vinci ?a simplicidade é a sofisticação máxima?, para contextualizar a obra de Pina. É simples, complexa, básica, intrínseca, definidora, não sistemática, nem um pouco fria, com emoção epifânica e revolucionária. ?Dançar por amor. Dance, dance, senão estamos perdidos?, sentencia a nossa personagem principal, uma exploradora radical que procurava a resposta à pergunta ?De onde vem a saudade??. Concluindo, um filme obrigatório, necessário. Escrever sobre Pina é embarcar nas vivências e sentimentos do ser humano. Um não vive sem o outro. O olhar de Wim Wenders encontra a genialidade de Pina. Vale à pena assistir. Recomendo. Há muito tempo Wim Wenders sonhava em filmar com Pina Bausch. Somente em 2007, depois de ver um show do U2 filmado em 3D, ele percebeu que ?o espaço havia se expandido e tive a intuição de que filmar com Pina era finalmente possível?. A morte da coreografa em 2009, pouco antes do início da filmagem mudou o tom do filme. O que era um filme ?com Pina? virou um filme ?para Pina?. Um tributo a essa artista que marcou para sempre a dança contemporânea através da introdução de seu estilo único, uma teatralidade misturada a um refinado senso de humor.
Trailer
O Diretor
Ernst Wilhelm "Wim" Wenders (Düsseldorf, 14 de agosto de 1945) é um cineasta alemão e uma das mais importantes figuras do Novo Cinema Alemão.
Filmografia
1970 - Verão na Cidade
1972 - A Angústia do Goleiro na Hora do Penalti
1972 - Der scharlachrote Buchstabe
1974 - Alice nas Cidades
1975 - Movimento em Falso
1976 - No decurso do Tempo
1977 - O Amigo Americano
1979 - Nick's Film
1982 - Hammett
1982 - O Estado de Coisas
1982 - Reverse Angle
1983 - Quarto 666
1984 - Paris, Texas
1985 - Tokyo-Ga
1987 - As Asas do Desejo
1989 - Aufzeichnungen zu Kleidern und Städten
1991 - Until the End of the World
1993 - Tão Longe, Tão Perto
1994 - Sob os céus de Lisboa
1995 - Al di là delle nuvole (com Michelangelo Antonioni)
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