Plano Nacional de Cinema - Proposta V
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Plano Nacional de Cinema - Proposta V


Definir um plano para o cinema não é apenas fazer uma lista de filmes obrigatórios. É preciso pensar no que se quer transmitir e escolher os filmes adequados para passar a mensagem.

Evitei ao máximo as animações pois terão disso aos magotes em casa deles ou de amigos, na pré-escola... Essa realidade pode não se verificar em todos os ambientes sócio-económicos pelo que ficaria responsabilidade das câmaras e cineclubes organizar sessões de cinema infantil aos fins-de-semana, períodos de férias e demais oportunidades. Um bom filme é cultura disfarçada de entretenimento.

PRIMEIRO CICLO


Para o primeiro ciclo a prioridade deve ser explicar o que é cinema. As suas origens, os avanços técnicos, tudo o que levou ao cinema que vemos hoje em dia. Para isso escolhi um conjunto dos primeiros filmes no seu género. Tinham de ser um marco da história do cinema e com uma violência mínima. Os que têm vilões têm-nos caricaturais para que não assustem.
Nos primeiros como a duração é pequena, as explicações podem mais ser demoradas e os filmes revistos. Também se recomenda alguns exercícios práticos para que os alunos se interessem, se envolvam e comecem a brincar ao Cinema.
Após fazer a lista e pensar se mostraria estes filmes a uma criança de 6 anos concluí que não mostraria com a intenção de a entreter, mas com finalidade lúdica porque não? Os primeiros seis da lista somados demoram uma hora pelo que não se está a aborrecer as crianças nem se corre o risco de perder a atenção delas.

L'Arrivée d'un train en gare de La Ciotat (1895) Lumière
Os primeiros cineastas e toda a responsabilidade que isso acarreta... Com este trabalho dos irmãos Lumière o importante é realçar a função documental e de curiosidade que acompanhou o nascimento do cinema. Haverá um imediato riso pela diferença de 120 anos em relação a tudo o que já viram, isso permitirá explicar curiosidades sobre material de filmagem. O tema dos comboios vai ser recorrente no primeiro ciclo pois é algo com que estão familiarizados e que, pelo que me lembro, mantém o encanto entre os mais pequenos.

Le voyage dans la lune (1902) Georges Méliès
O cinema como ficção e magia começou com Méliès. Este breve filme permite explicar conceitos básicos de montagem e da importância da imaginação para cativar o público.

The Great Train Robbery (1903) Edwin Porter
Para passar da indústria francesa para a americana, optei por um western que será facilmente reconhecido como de tema americano. Tem também um pouco de colorização manual para que se explique o processo e a cena final para explicar como a tela ainda causava uma ilusão de real aos espectadores.

Le Royaume des Fées (1903) Georges Méliès
Este filme é uma súmula de tudo o que foi dito anteriomente. Com uma duração um pouco superior, ainda de temática fantástica e com colorização quase completa, é um apogeu daquilo que os primórdios do cinema conseguiram.

Pauvre Pierrot (1892) Emile Reynaud
Para se falar da animação, convém retroceder uns anos e explicar que anos antes da captura de imagens em movimento, já se capturava imagens e se dava a ilusão de movimento.

Steamboat Willie (1928) Ub Iwerks
O som ficou erradamente associado a este filme, mas não parece mal que o “Steamboat Willie” seja usado para o apresentar como tema de estudo. Um extra é verem a evolução de uma personagem que seguramente conhecerão.

Block-Heads (1938) John G. Blystone
Antes de avançarmos para as longas-metragens, optei por introduzir uma média-metragem sonorizada. Nâo só se acostumam a filmes mais demorados como podem sentir a importãncia do som e dos efeitos sonoros antes de explorarem as longas do cinema mudo. Calhou ser esta apenas por ser daquelas que mais acompanhou a minha infância.

The General (1926) Buster Keaton, Clyde Bruckman
Para fechar este ciclo optei por três longas de muito fácil visonamento (comédias) e que considero obrigatórias. Primeiro “The General” pela complexidade narrativa, pela técnica, pela história, um daqueles filmes sublimes que só melhoram com a idade. E novamente num comboio.

“The Gold Rush” (1925) Charlie Chaplin
Sou da opinião que quanto mais cedo tiverem contacto com o cinema de Chaplin melhor. No segundo bloco de filmes o difícil foi parar, mas para este primeiro bloco teria de vir algum e este pareceu o mais adequado por não ser demasiado triste nem tratar de temas complicados como a Grande Depressão e a Segunda Guerra Mundial, mas explicar os riscos corridos pelos exploradores nos terrenos selvagens que facilitará o tema dos descobrimentos e colonização que darão no 5º ano.

The Wizard of Oz (1939) Victor Fleming
Obra incontornável com cor e som, uma história sobejamente conhecida e valores que devem ser transmitidos. Segue a maioria dos padrões actuais de cinema permitindo fechar um conjunto de filmes complicados com algo mais aprazível.




SEGUNDO E TERCEIRO CICLO


Estando o básico do cinema explicado, definiria como prioridade para o segundo bloco de filmes, aqueles onde a criatividade seja a ferramenta mais poderosa. Mundos utópicos e distópicos, formas coloridas de ver um mundo negro.

E.T. The Extra-Terrestrial (1982) Steven Spielberg
Se ao ver um filme pela décima vez ainda aplaudo e me sento até ao final dos créditos porque é melhor ouvir aquela música do que arriscar ver outro canal, há uma enorme probabilidade de ser um Spielberg. Em “ET” discute-se o microscópico lugar de cada um no universo, a solidão, a importância dos amigos e os pequenos gestos que dão significado à vida.

Wall-E (2008) Andrew Stanton
Voltando a um tema muito importante, até que ponto são precisos os diálogos? E os actores? E sequer personagens humanas? Em “Wall-E” discute-se valores ambientais, o futuro da humanidade e da robótica e o amor. Mais uma vez, motiva a descobrir filmes que não estão nesta lista.

The Great Dictator (1940) Charlie Chaplin
La Vita è Bella (1997) Roberto Benigni
Dois filmes, uma missão. Como transformar um dos acontecimentos mais trágicos da história da humanidade em algo comovente e divertido. Seja a versão simples que Chaplin nos oferece de “O Príncipe e o Pobre” ou o jogo dos 1000 pontos de Benigni, uma entrada suave facilita o estudo deste tema tão negro.

It’s a Wonderful Life (1946) Frank Capra
A adolescência traz muitas dúvidas existenciais. Este pérola permite a cada um parar para reflectir e descobrir o seu lugar no mundo ou, se ainda não o tiver, trabalhar para o conseguir. Pela duração sugeria que fosse intervalado com algumas tarefas de auto-descoberta.

Dead Poets Society (1989), de Peter Weir
Os filmes são uma ferramenta pedagógica desde que existem televisões e vídeos nas escolas. Recordo-me de ter visto muitos filmes, mas não me lembro da maioria deles. A excepção foi este, uma obra-prima sobre a vida, as expectativas externas, os sonhos, as ilusões, a morte. E talvez sirva para recuperar algum do respeito que os professores estão a perder de forma imparável.

Shichinin No Samurai (1954) Akira Kurosawa
Juro que tentei controlar-me nas durações dos filmes. Mas para mostrar o cinema não-anglófono numa história magistral e linear não conseguia arranjar melhor. Valores como trabalho e honra marcam presença num daqueles filmes que todos deviam ver, nem que sejam obrigados.

Rope (1948) Alfred Hitchcock
Um dos tópicos chave que importa referir é a influência dos planos utilizados para a interpretação que se tem da história. Hitchcock é um mestre dessa arte em todas as formas. A escolha recaiu sobre um dos que será mais difícil encontrar nos circuitos convencionais e cuja mestria em planos-sequência mostrará aos jovens - acostumados a filmes com muita acção e movimento - que é possível contar uma história em tempo real e com um cenário reduzido. Basta planificar e ensaiar.

The Hound of the Baskervilles (1939) Sidney Lanfield
Hesitei um pouco antes de colocar este filme, mas achei importante para fazer a ponte às adaptações literárias e ao conceito de sequela. São personagens facilmente reconhecíveis, uma história muitas vezes adaptada e, para a época, saiu um belo filme.

Nuovo Cinema Paradiso (1988) Giuseppe Tornatore
Acabada esta segunda viagem pelo fantástico mundo do cinema, o ideal é ver um seu semelhante a ficar maravilhado perante a magia daquela luz que ilumina a escuridão, trazendo histórias de sítios distantes a um pequeno lugar perdido no tempo. Permitirá acesos debates sobre responsabilidade, censura e até mérito cultural do cinema. E aquele extra sempre desejado que é motivar para ver mais filmes antigos.


SECUNDÁRIO


Para os alunos do secundário trouxe uma lista de filmes que apesar de já terem sido minuciosamente analisados podem sempre proporcionar acesos debates.
Esta lista não tinha existência própria. Há medida que me lembrava de novos títulos para a lista de 2º/3º Ciclo, os mais difíceis iam passando para a lista seguinte. Acabou por ficar uma lista diversificada e muito propícia a discussões.


Os primeiros quatro foram escolhidos com base numa premissa muito simples: a noção de família.
The Kid (1921) Charlie Chaplin
O conceito de família biológica e afectiva. Assim como voltar a um cinema preto e branco numa fase em que começam a ir ao cinema sozinhos e são socialmente influenciados para irem em busca dos blockbusters mais recentes.

Forrest Gump (1994) Robert Zemeckis
Famílias monoparentais, criancas especiais, valores a transmitir aos filhos. É também uma referência para terem cuidado com as amizades criadas pois são pessoas que estarão connosco para toda a vida, mesmo que o outro lado não mereça e não queira (Jenny, Dan), e diz que qualquer um pode fazer qualquer coisa. Melhor mensagem a passar no início da vida adulta.

The Royal Tenenbaums (2001) Wes Anderson
Uma das famílias mais disfuncionais da história do cinema e um contacto com o cinema independente camuflado de actores conhecidos. A mensagem é que pessoas geneticamente destinadas à grandeza podem ser infelizes. É preciso pensar no presente enquanto se constrói o futuro.

"Thirteen" (2003) Catherine Hardwicke
Estando a adolescência a meio convém olhar para trás e pensar nos erros que se cometeu, na forma como se tratou os pais e perceber de que forma família e amigos nos moldam. Esta é uma entre várias perspectivas sobre as famílias do século XXI, mas considero esta a mais independente daquele factor sempre desactualizado chamado internet.



Metropolis (1927) Fritz Lang
Regresso ao tema dos mundos dispóticos dado no 2º/3º ciclo. Este ficou para depois devido aos exigentes requisitos mentais para ser minimamente percebido. O secundário é uma fase em que há mais mobilização, sentimento de protesto, desafio à autoridade e desejo de afirmação por isso podem-se identificar com a analogia dos carneiros, do trabalho mecanizado...

Monty Python
Holy Grail? Life of Brian? The Meaning of Life? Qualquer um deles merece ser visto pela criatividade e pelo humor ousado e desregrado. Essa ousadia irreverente na temática é suficiente para ter forte oposição religiosa, por isso, em vez de definir um, preferia deixar à escolha da escola. Até porque no contacto com alunos de outras escolas acabariam por querer ver os restantes.

Belarmino (1964) Fernando Lopes
Por vezes esquecemo-nos dos nossos heróis. Este filme foi rodado com pouco orçamento, com um tema que em Portugal nunca teve grande foco e acabou por se tornar um sucesso intemporal do documentário.

Ana (1982) António Reis e Margarida Cordeiro
Novamente em busca do Portugal desconhecido. O melhor e mais esquecido cineasta nacional, criador de um estilo próprio que ainda persiste e dos com maior visibilidade internacional na sua época. Qualquer filme serviria, mas este tem histórias por trás que dá gosto descobrir.

"Citizen Kane" (1941), de Orson Welles
Se há filme que nunca ficará completamente discutido é o mais famoso trabalho de Welles. Aqui discute-s os pequenos prazeres da vida, os atalhos para o sonho americano, formas de liderar e manipular pessoas. Tem de ficar quase no fim da lista para que tenham bagagem suficiente.

Blazing Sadles (1974) Mel Brooks
Para fechar recomendo um filme que quebre com as regras de cada género de filme, algo que atravesse os limites de um cenário e os desafie a conhecer os estúdios e a arte secreta de fazer a magia do cinema.



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