Cinema
Resenha de Filme: Barbara
Premiado em diversos festivais, principalmente o de Berlim (2012), quando ganhou o prêmio principal do júri e o Urso de Prata de melhor diretor para Christian Petzold, Barbara também foi o filme alemão selecionado para aspirar uma vaga entre os finalistas ao Oscar de melhor filme estrangeiro de 2013. Se não conseguiu chegar entre os cinco escolhidos para o prêmio da AMPAS, isso pouco importa e nem desmerece a produção, pois é um eficiente drama que retrata momentos cruciais da vida da médica que intitula o filme, passado durante os anos 80 na então Alemanha Oriental socialista.
Sem procurar pelo didatismo exagerado, a trama logo apresenta Barbara (Nina Hoss), uma médica egressa de Berlim Oriental, transferida para uma cidade pequena com um hospital de poucos recursos. O médico-chefe do hospital é André (Ronald Zehrfeld), um sujeito de aparente boa índole e preocupado com o bem-estar dos pacientes. Curioso com relação à história de Barbara, onde a trama sugere um envolvimento da mulher com rebeldes contra o regime do país, André desenvolve uma espécie de protecionismo pela médica. Reticente quanto à preocupação do médico, Barbara mostra-se competente no trabalho, mas um tanto escusa na vida pessoal.
Com o andar da narrativa, contemplativa, mas agradável, Bárbara começa a se envolver com os problemas locais, notando assim a evidente falta de recursos para o tratamento dos pacientes. Isso se torna mais claro quando atende Stella (Jasna Fritzi Bauer), uma jovem local, residente de um campo de trabalhos forçados e que contraiu meningite. Em paralelo, o amante da médica parece arquitetar um plano para que ela fuja do país. Nesse meio tempo, esperando pelo dia de sua fuga, Bárbara se divide entre o trabalho no hospital, criando vínculos com André, e as constantes e incomodas visitas das autoridades para revistarem seu apartamento a procura de vestígios de panfletagem ou movimentação rebelde.
O interessante em Barbara, é que o filme, também roteirizado por Petzold, não procura abordar com veemência todas as problemáticas vividas na Alemanha Oriental. Contudo, o diretor parece o fazer por entrelinhas, trazendo o recorte da protagonista infringida pelas questões que discorda em relação a seu país, mas também pontuando com eficiência as adversidades da população, ainda que em um lugar mais remoto, mas não menos atingido pela política do país. Nesse sentido, Barbara pode ser um filme de aspecto menor, minimalista, mas nunca pequeno. Em suas pretensões de mostrar o caráter humano dos relacionamentos naquele regime, onde podar sentimentos das pessoas era recorrente, pode-se dizer que o filme se sai muito bem.
E não há dúvidas que o ponto principal do filme, capaz de passar toda a veracidade da situação, advém da atuação da atriz Nina Hoss. A sua Barbara é carregada de reminiscências, não relatadas, mas que elucidam uma pessoa desiludida, não somente com o país, mas com as pessoas pelo qual compartilhou uma utopia. A opção de não abordar fatos do passado da médica acaba por dimensioná-la de uma forma misteriosa e isso não deixa de trazer tensão para muitos momentos do filme, criando sempre a dúvida em relação às atitudes da mulher. A atriz - de filmes como Yella (2007) e As Donas da Noite (2010) ? que em entrevistas sempre se mostra carismática e com um sorriso no rosto, aqui, traz uma personagem de feições fechadas, desprovida de beleza evidente e um olhar carregado de melancolia.
Se a atuação de Nina Hoss é crucial para trazer a credibilidade a Barbara, também se deve destacar o trabalho de direção de Christian Petzold. O diretor faz escolhas interessantes para captar a sensação de tristeza e apreensão que paira no ar. Uma delas, e talvez a mais importante, é a ausência de uma trilha sonora, outra é a opção por uma fotografia de tons gris. Conjurando esses dois aspectos, o filme ganha um tom altamente cru, duro, áspero, condizendo com atuações e o sentimento geral dos personagens. Sem grandes recursos, mas com muita desenvoltura e sobriedade, o diretor constrói um filme com história envolvente e que apesar da consternação evidente, nunca deixa de mirar a esperança.
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