Resenha de Filme: Camille Outra Vez (Camille Redouble)
Cinema

Resenha de Filme: Camille Outra Vez (Camille Redouble)



Filme com mais indicações (treze no total) ao César Awards 2013, o Oscar francês, Camille Outra Vez é uma obra que aposta em uma temática bastante recorrente no cinema: a viagem no tempo. Fazendo valer referências e clichês do sub-gênero, curiosamente o trabalho dirigido, co-roteirizado e protagonizado pela parisiense Noémie Lvovsky aponta muito mais para o cinema norte-americano do que para os conterrâneos louvados de outrora. Talvez essa exaltação nas nomeações a premiação somente comprove a força do atual cinema comercial francês, que anda lotando as salas (vide Os Intocáveis) em detrimento a obras com interesses mais artísticos. Tais realizações continuam sendo feitas, mas parece existir pouco interesse em apreciar um novo TruffautGodard ou Rohmer. A tônica dominante é a comoção edificante ou então diversão simples. Nesse segundo quesito, se pode dizer que Camille Outra Vez atinge seu intento, pois realmente o filme é de fácil identificação e apreciação.

Quando afirmei que Camille Outra Vez se aproxima do cinema ianque é porque a trama praticamente remonta premissa, personagens e situações do "Copolliano" Peggy Sue, Seu Passado a Espera (1986). Assim como a Peggy Sue oitentista de Kathleen Turner, a Camille de Noémie Lvovsky é uma quarentona meio frustrada, principalmente pelo iminente termino de seu casamento com seu amor da época escolar. Enquanto se afunda na bebida, a mulher trabalha fazendo pontas em filmes de quinta. Sim, o seu sonho também era ser atriz. Logo a não concretização dele também é motivo para seu estado permanente de melancolia. O inicio do filme se situa perto da virada do ano de 2008 para 2009. Praticamente obrigada ou mesmo procurando regozijo, Camille resolve participar da festa promovida por uma de suas amigas de adolescência. Lá ela reencontra toda a trupe antiga e bebe muito mais do que está acostumada. Perto da  tradicional contagem regressiva, acaba desmaiando. E quando acorda, está em 1985, ano crucial para a sua existência. 

Assim como no filme de CopollaCamille Outra Vez não utiliza de atores mais novos na volta no tempo. Noémie Lvovsky, suas amigas e seu ex-marido, o fanfarrão Éric (Samir Guesmi - 13º Distrito), então ainda pretendente, se fazem de adolescentes meio desmiolados. Como Camille mantém sua personalidade e as memórias adquiridas ao longo de seus quarenta e poucos anos, tal solução do roteiro aumenta a sensação de deslocamento, tanto do personagem quanto do espectador, e funciona a favor da comédia. Pois é, diferente de sua fonte de inspiração, o apanhado proposto por Lvovsky é mais leve, menos sério, e pronto para fazer o público se divertir com a exagerada direção de arte, trilha sonora retrô e interpretações propositalmente caricatas. Nessa sua volta a juventude inocente, Camille vai buscar acertar contas com o passado, principalmente com os pais, reviver  o romance com Éric, tentar promover um improvável futuro diferente e experimentar coisas que deixou de lado pela falta de coragem.

Mesmo com uma narrativa agradável de se acompanhar, Camille Outra Vez guarda seus probleminhas. Um deles e acredito ser o principal, é o desinteresse crescente sobre o desfecho da jornada da protagonista. A falta de fatores misteriosos, problematizando a trama/pastiche, onde a diretora não se furta a utilizar de pontos de virada idênticos ao de Peggy Sue, apenas comprovam a escolha pela zona segura, onde ousar não é mesmo uma opção. E creio não ser um bom sinal quando parte da audiência deixa de se preocupar com o que vai acontecer em seguida. Tal consideração pode até passar desapercebida, principalmente porque existe todo um mise-en-scene elaborado com afinco para camuflar essas fragilidades do roteiro. Camille Outra Vez não é feito para causar reflexão, como o cinema francês costumava fazer, mas nem precisa e não é um demérito. Desde o primeiro momento promete ser um entretenimento saudável, carismático e abstrair o espectador em um conto fantasioso para gerar bem estar. E isso, faz com eficiência.





Ficha Técnica:
Camille Outra Vez (Camille Redouble).
Direção: Noémie Lvovsky.
Roteiro: Noémie Lvovsky, Maud Ameline, Florence Seyvos, Pierre-Olivier Mattei.
Ano: 2012.
Elenco: Noémie Lvovsky, Samir Guesmi, Judith Chemla, India Hair, Julia Faure, Yolanda Moureau, Michel Vuillermoz.



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