Resenha de Filme: Ginger & Rosa
Cinema

Resenha de Filme: Ginger & Rosa



O drama de viés intimista Ginger & Rosa é um filme sobre a amizade das jovens personagens, duas adolescente egressas da classe operária, que intitulam a obra. Mas também é um apanhado sobre a desconstrução melancólica dessa forte amizade de outrora, principalmente pelo amadurecimento e a forma de ver o mundo de ambas as personagens. E do mesmo modo é uma realização que procura retratar um período específico da história britânica: os ebulitivos e contestadores anos 60. A diretora e roteirista Sally Potter, de filmes como Orlando - A Mulher Imortal (1992) e Porque Choram os Homens (2000), tem esse cuidado para delinear camadas ao seu trabalho. Entretanto, o conjunto de situações nunca consegue ser suficientemente orgânico ao ponto de fazer toda a trama soar natural. Existe uma forçada de barra aqui e acolá. Ainda assim, com dificuldades em manter um ritmo constante em seu poucos mais de noventa minutos, Ginger & Rosa é um filme deveras interessante.

Certamente o que mais chama atenção em Ginger & Rosa são as boas atuações da dupla principal: Elle Faning (Super 8) que interpreta com vivacidade a espivitada Ginger e Alice Englert (Dezesseis Luas) defendendo com tons languidos a sua Rosa. Nascidas no mesmo dia, desde sempre as meninas caminharam juntos, apesar de pensarem diferente. O próprio nome que carregam denotam suas personalidades. Ginger com seu cabelo vermelho, gengibre, é o exemplo da rebeldia jovem da década de 60. Antenada com os problemas mundiais, como a crise dos misseis em Cuba que pode render uma guerra atômica entre EUA e União Soviética, ela procura seu lugar no mundo e fazer alguma diferença. Enquanto Rosa, mais singela, delicada, afetada pelo abandono do pai, tem a utopia de viver uma vida "normal". Para ela, um romance, um marido para cuidar, as coisas simples que ela acredita definir uma mulher parecem suficientes. Ginger é agnóstica, muito por influência de seu pai, o pensador Roland (Alessandro Nivola - Coco Antes de Chanel). Enquanto Rosa é cristã, parcialmente temente aos preceitos religiosos. 

Em ritmo lento, o inicio de Ginger & Rosa mostra as meninas tendo suas experiências com garotos, a dificuldade encontrada em focar nos estudos e na forma como lidam com suas mães "a moda antiga". A mãe de Rosa pouco é retratada, pois trabalha arduamente, acentuando até a sensação de abandono da mocinha. No entanto, a mãe sempre presente de Ginger, Natalie, interpretada com eficiência por Christina Henfricks (Drive), surge como ponto de partida dos fatores desestabilizadores da relação das duas amigas. O casamento entre Roland e Natalie está em crise. Ele não aguenta mais a vida prostrada que leva ao lado da esposa e decide abandonar o lar. Perturbada pelo mesmo "mal", Ginger decide seguir o pai. Logo Rosa também passa a frequentar a nova casa do homem. E cada vez com mais intensidade. Roland têm um espirito comunista por natureza, escreve panfletos exaltando a ideologia politica e motiva a face questionadora da filha. Aqui, entra a roda de amigos do homem como o núcleo "vermelho" do filme, onde se destacam os personagens ativistas de Annette Bening (Destinos Ligados) e Timothy Spall (O Discurso do Rei)

Carregando moderadamente nas considerações anti-capitalistas e mirando também a crítica ao modismo do posicionamento, em certo momento, um personagem secundário observa em tom irônico: "Adoro comida comunista." E ainda que a já citada problemática da crise dos misseis motive Ginger, que acredita no eminente fim do mundo, a pauta principal de Ginger & Rosa é mesmo o desfecho dessa amizade que antes foi importante, mas que sem cerimônias foi perdendo sua magia. Curiosamente, é um tipo de situação que acredito que a maioria das pessoas costumam passar. O que faz o trabalho de Sally Potter, apesar do pontual recorte de época, uma obra com certo caráter atemporal. O que depõe contra é a maneira urgente como alguns fatos são delineados, transformando parte da narrativa em episódios novelescos e por vezes esvaziando alguns momentos onde a contemplação se faz necessária para surgir a emoção. Ginger & Rosa é um filme irregular, mas tais desnivelamentos são incapazes de comprometer um resultado final satisfatório.




Ficha Técnica:
Ginger & Rosa.
Direção: Sally Potter.
Roteiro: Sally Potter.
Ano: 2012.
Elenco: Elle Faning, Alice Englert, Alessandro Nivola, Christina Hendricks, Annette Bening, Timothy Spall, Oliver Platt. 



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