Seção CINEMA // Crítica Cisne Negro
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Seção CINEMA // Crítica Cisne Negro


Garota Interrompida

Cisne Negro // Black Swan

Nota: 9,5

Eu sei que altas expectativas são sempre um risco. As possibilidades de frustração são muito maiores que a de satisfação. Mas acho que inconscientemente eu sabia que podia confiar no Aronofsky. Não sou grande fã de O Lutador, e detestei A Fonte (não consegui nem terminar de ver de tão confuso), e nunca vi o elogiadíssimo PI (π), mas Réquiem Por Um Sonho é um dos melhores da década sem sombra de dúvidas, e a combinação de dança, Lago dos Cisnes, Natalie Portman e thriller psicológico era realmente apetitosa demais e inevita- velmente as expectativas subiram. As boas recepções nos Festivais de Veneza e Toronto (onde tanto Portman quanto Nicole Kidman, por Rabbit Hole, foram ovacionadas e hoje são aparentemente as favoritas às premiações dos próximos meses) e as diversas indicações ao Independent Spirit também contribuíram, apesar de eu já saber que prêmios não significam exatamente muita coisa. Até mesmo o Spirit.

O roteiro inteiro é um paralelo entre o determinado momento da vida de uma bailarina e a história do Lago dos Cines, para os alienígenas que não sabem, é uma das mais famosas obras escritas por Tchaikovsky. É justamente essa dança que Natalie Portman é encarregada de estrelar na Cia. de balé em que trabalha. Mas ela é uma “goody two shoes”, gíria que os americanos usam pra descrever pessoas como a Sandy, por exemplo, perfeita para o cisne branco, mas precisa encontrar em si e separar os seus lados médico e monstro pra poder compor o seu cisne negro no palco. Mas a pressão do inescrupuloso dono da Cia, Vincent Cassell, a concorrência da sua sexy substituta, Mila Kunis, a preocupação da protetora mãe, Barbara Hershey, e a sua própria busca incessante pela perfeição acabam por exigir dela mais do que ela aparentemente pode oferecer.

Não existe nada mais assustador e perturbador que a perda da sanidade, do contato com a realidade, e quase todos os filmes de suspense e terror que são bem sucedidos teclam justamente nessa tecla. Mas há de ser interessante e bem construído também. Alienígenas, monstros e serial-killers não chegam perto jamais do medo da loucura. Podem ser mais divertidos e render risos, mas jamais mais intrigantes e perturbadores.

Se você sabe como se desenrola a história do Lago dos Cisnes, deve imaginar como mais ou menos termina o filme, mas é sempre interessante ver como cruzaram as histórias e trouxeram outros enredos secundários para fundamentar a odisséia da bailarina atormentada pelo sistema. Podemos interpretar a história também como uma metáfora das exigências que a grande maioria das sociedades põe sobre as mulheres. Como é muito mais difícil ser uma minoria na sociedade. Conviver com machismo e misoginia, ou racismo, imperialismos, colonialismos e intolerâncias, no caso de outras minorias.

Pra mim perdeu meio ponto só pelo Vincent Cassell. A personagem é mal escrita, unidimensional, caricata, todas suas falas são uma punhalada no estômago de tão literais. Diálogos “on the nose”, como se diz no mundo do cinema. Talvez isso tenha levado o Vincent e se sair tão mal também. E de certa forma acho frustrante seu comportamento não ser punido ou ao menos criticado devidamente em algum momento no filme. Ele é de longe o ponto fraco do filme. Capricharam tanto na “vilã” da Mila Kunis que o dele ficou devendo.

Tirando o Vincent, como já expliquei, o elenco é soberbo. Natalie perfeita, e sua melhor obra desde Closer (que devia tê-la dado o Oscar, apesar de eu idolatrar Cate Blanchett). Barbara é sempre competente, e é uma dos vários artistas pouquíssimo lembrados em Hollywood, tipo Gary Oldman, Willem Dafoe e Mia Farrow. Mila Kunis mostrando que pode ser muito mais que a patricinha vazia de That 70’s Show. Ainda no elenco temos a larápia-mor de Hollywood, Winona Ryder, como a ex-bailarina principal da companhia, que Natalie substitui, o que a deixa devastada e traz em Natalie o medo de seguir o mesmo rumo.

Tecnicamente o filme também é impecável. A montagem, como em todos os filmes do Aronofsky, é fantástica. E apesar da Natalie ter sido uma daquelas diversas meninas que fizeram balé boa parte da vida, e mesmo treinando intensivamente para o papel, acredito que ela não seja do nível de uma primeira bailarina de uma respeitada companhia, e aí a montagem entra pra fazer dos seus movimentos perfeitos. Além de acentuar a dramaticidade da trama. Fotografia, figurinos, efeitos visuais e trilha sonora também muito competentes.

Aronofsky diz que esse é um filme que acompanha O Lutador, mas cá entre nós, que não tem nem como comparar. Gosto de pensar na dupla como A Bela e A Fera. Literalmente. A inspiração para o projeto vinha da sua irmã bailarina e de filmes como A Malvada e Repulsa ao Sexo, e ele tinha em mente fazer essa obra desde 2000, quando a discutiu com a então adolescente Portman, e só nove anos depois pôde por a mão na massa. E valeu à pena a espera.



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