A Hora do Pesadelo
E por onde começar a falar desse? Difícil... Qualquer coisa que se falar a respeito vira spoiler. Vou só falar o básico: Leonardo DiCaprio é um investigador encarregado de cobrir o desaparecimento de uma paciente de um hospital psiquiátrico para criminosos que fica em uma ilha próxima a Boston. No barco ele conhece seu novo parceiro, feito pelo Mark Ruffalo. Lá, eles recebem pouca ou nenhuma cooperação dos médicos responsáveis pela instituição, feitos pelos sempre ótimos bem Kingsley e Max von Sydow, o que desperta nele muitas desconfianças sobre o que realmente acontece por lá.
As interpretações são todas ótimas, e o elenco é muito competente. Além dos já citados Leo, Ruffalo, Kingsley (Gandhi, Casa de Areia e Névoa) e Sydow (Pele – O Conquistador, O Exorcista), ainda temos a Michelle Williams, que era minha favorita de Dawson’s Creek (junto com o Joshua Jackson), e ex do finado Heath Ledger, Jackie Earle Haley, de Pecados Íntimos, numa aparição breve, porém marcante, Emily Mortimer, de Match Point e Querido Frankie, filmes que adoro, e a Patrícia Clarkson, sempre ótima também.
Scorsese foi perfeito ao criar o clima de suspense que o filme precisava. Desde a música, marcada principalmente pela “Sinfonia no. 3” de Krzysztof Penderecki (que também tem músicas na trilha de O Iluminado) e “Root Of An Unfocus” de Boris Berman, até a montagem, sempre responsabilidade da Thelma Schoonmaker. Além disso, Scorsese é um famoso adorador do cinema, antes mesmo de ser cineasta, e nesse filme as influências de outros cineastas são bem claras, como o clima de paranóia de "Um Corpo que Cai" de Hitchcock, por exemplo.
Ele consegue manter o mistério e o entrelaçado de segredos interessantes o tempo inteiro, claro que com a ajuda do roteiro de Laeta Kalogridis, que não fez nada que me interessasse antes, e Steven Knight, do ótimo Senhores do Crime, baseado no livro homônimo de Dennis Lehane. E as cenas de flashback, ou os sonhos de DiCaprio nos confundem ainda mais na história, mas ao fim tudo se explica.
Esse já é o quarto filme da parceria entre Scorsese e DiCaprio, que começou com Gangues de Nova York e O Aviador, que são chatinhos, e seguiu-se com o excelente Os Infiltrados. Recentemente Scorsese afirmou à revista New York que o diferencial de Leo é seu rosto extraordinariamente cinematográfico. “Ele poderia ter sido um grande ator do cinema mudo porque tanta coisa acontece nos seus olhos, pode-se ler tanta coisa em seu rosto.” Eu não só concordo como já gostava do trabalho dele desde antes mesmo da histeria coletiva por Titanic e Romeu + Julieta. Scorsese assumiu o projeto depois que David Fincher desistiu (ele ia ser estrelado por Brad Pitt e Mark Wahlberg), e passou quatro meses filmando em um hospital abandonado.
Esse filme estava programado pra estrear ano passado, em outubro, pra ter chances de concorrer a prêmios no início desse ano, mas foi adiado. Pode ter sido boa decisão, porque Leo certamente ia perder pro Jeff Bridges (assim como acontece com o Colin Firth agora), e o filme provavelmente ia ser só mais um na lista de 10, ofuscado no meio da névoa da disputa particular do ex-casal Bigelow-Cameron, e rejeitado na opinião pública (que quase nunca é boa, vide os big brothers da vida ou até mesmo as eleições) por Avatar. O Oscar desse ano nem aconteceu ainda, então vamos ver se o filme tem fôlego pra ser lembrado daqui a um ano, ou se só coisas como Guerra ao Terror e Crash conseguem se sustentar no tempo.