Feitiço do Tempo
O Curioso Caso de Benjamin Button // The Curious Case of Benjamin Button
Nota: 10
Poucas vezes a gente tem oportunidade de ver filmes com histórias tão inusitadas, que ao mesmo tempo são tão tocantes e sensíveis. Esse é um caso. Acho que a última vez que um filme me passou essa sensação foi À Espera de Um Milagre, há bons 9 anos atrás. Uma equipe de primeira qualidade, que soube como transformar da melhor forma um conto de 1921 escrito por F. Scott Fitzgerald num belo filme. David Fincher dirigiu o filme. Ele é conhecido por filmes como Clube da Luta, Zodíaco, Seven e O Quarto do Pânico. O roteiro é assinado por Eric Roth (que ganhou um Oscar por Forrest Gump e fez também Munique, O Encantador de Cavalos e O Informante) e Robin Swicord (Adoráveis Mulheres, Memórias de Uma Gueixa e O Clube de Leitura de Jane Austen).
Tudo começa quando um homem abandona seu filho recém nascido na porta de um asilo, por ele ter nascido “velho”. Ele é adotado pela zeladora da casa, uma mulher com instinto maternal aguçado e que vê aí sua chance de se tornar mãe, já que é aparentemente estéril. Ela é feita pela Taraji P. Henson, que fez Hustle & Flow, que eu nem lembro o título em português. Ela cantou o rap do filme que ganhou o Oscar na cerimônia, e eu achei a música horrenda, e fiquei com birra dela. Mas aqui ela está maravilhosa. Muito melhor do que cantando.
Voltando ao assunto, o menino vai tomando o caminho inverso, rejuvenescendo cada dia mais, crescendo no asilo enquanto acompanhamos como ele vai desenvolvendo sua vida. Como ele descobre o amor com a Cate Blanchett, e como vai aprendendo sobre a vida num barco de resgate. No elenco ainda temos a Tilda Swinton (A Praia, Queime Depois de Ler, Conduta de Risco), que ganhou o Oscar de coadjuvante ano passado, e Julia Ormond (Lendas da Paixão, Sabrina).
O ritmo do filme lembra um pouco Titanic, pela narrativa em tempo passado, mesclando ficção e realidade, e Forrest Gump, pela longa descrição cronológica dos fatos. Dois filmes que fizeram muito sucesso e que eu gosto muito. Titanic enjoou pelo excesso de badalação, mas hoje em dia a dá pra ver clara a importância dele, o impacto que ele causou e é um belo filme por sinal. Forrest explica demais os fatos para o público, um pouco desnecessário, porque inibe o raciocínio e a liberdade das pessoas de tomar suas próprias conclusões, mas eu adoro mesmo assim.
O elenco em todo no filme está esplendoroso, em especial, mãe e filho, Brad e Taraji. Brad está no auge da sua maturidade artística. Fez como poucos um abobalhado em Queime Depois de Ler e logo em seguida já brilha num outro projeto totalmente diferente. Ele me lembrou demais Robert Redford durante o filme, não só fisicamente, mas pela sutileza da interpretação. E o filme todo se baseia nisso, nas singelas coisas, na leveza dos movimentos, em ver importância na simplicidade, como a vida é feita de momentos que a tornam agridoce, mas é tudo isso que nos engrandece e fortalece. Apesar das quase três horas de filme, a gente não sente o tempo passar.
O filme é um dos que lidera as indicações ao Globo de Ouro (Filme/Drama, Diretor, Ator/Drama - Pitt, Roteiro e Trilha Sonora), e certamente vai estar lá em muitas no Oscar. A parte técnica é impecável. Fotografia, trilha sonora, maquiagem, figurinos, efeitos especiais (nada mirabolante, acalmem-se), além dos já citados. Pitt com certeza vai dividir o favoritismo dos prêmios com Sean Penn. O rumo das coisas deve ficar um pouco mais claro depois da entrega do Globo de Ouro, no próximo domingo. Apesar de a safra este ano estar boa, se eu pudesse escolher um filme pra levar os prêmios, seria este.