O Brutos Também AmamUm Sonho Possível // The Blind SideNota: 8,5Eu sabia! Tinha certeza que ali no fundo, bem dentro no âmago daquele ser, havia uma atriz. Acho que pela primeira vez vejo a Sandra Bullock fazendo um filme interessante. Mentira. Eu já tinha visto outros filmes interessantes dela, mas nada desafiador, que ela tivesse que se transformar em alguém muito diferente dela. Ela já tinha feito algo parecido em Miss Simpatia, que não é um filme pra ser levado a sério... Crash é uma porcaria, nem me cogitem a opção de citar. A direção e o roteiro são do John Lee Hancock, que eu não conhecia, mas dirigiu O Álamo, que deixei passar.
A história é adaptação de um livro às telas (como sempre!). O livro fala sobre a evolução de uma posição daquele jogo civilizado, cordial, elegante (um xadrez, uma esgrima, um hipismo, uma ginástica rítmica!), que os americanos chamam de futebol e com mais proteções, e no resto do mundo usam só um short e uma camisa. Na outra parte do livro vem a história lacrimejante de um dos grandes (talvez o maior, mas como não entendo bulhufas do assunto, seria arriscado apontar) jogadores dessa posição na atualidade, Michael Oher.
Michael teve uma infância difícil, filho de uma drogada que perdeu a guarda dele pro Estado, lá nos sul dos EUA (Tennessee), aquele lugar cheio de republicanos religiosos, onde há toda uma inclusão social, um clima gostoso de solidariedade, em que eles brincam de Guerra de Secessão, relembrando os bons tempos que já se foram e não voltam mais. Ele é admitido em uma escola para ricos devido ao seu potencial esportivo. Mas suas notas não o permitem participar dos times. Em um feriado de Ação de Graças (Thanksgiving) uma família rica o vê andando sozinho no frio e o leva pra casa.
A família rica consiste da Sandra Bullock, loira, peruézima, extravagante, altiva e imperiosa, quase uma Susana Vieira, o Tim McGraw, cantor country marido da Faith Hill, a filha adolescente, a Lilly Collins, que é filha do Phil Collins, e o filho mais novo, que é uma figura. Os conservadores e bons cristãos acolhem o rapaz por uma noite, mas ele vai ficando cada vez mais, conquistando a família inteira, que acaba por adotá-lo, e ainda contratam uma tutora, a Kathy Bates (que eu adoro e acho que deveria ser muito mais aproveitada tanto nesse filme, como em Hollywood em geral), pra ajudá-lo a melhorar as notas, entrar pro time de futebol e conseguir bolsas de estudos pra faculdade.
A fórmula é batidíssima e clichê, mas a história não deixa de ser muito bonita. Vale a pena ser contada. O elenco tá perfeito, o jovem protagonista é muito carismático, a Kathy está perfeita como sempre, mas quem rouba as cenas é a Sandra. A superação do rapaz é o mais importante da história, mas ela é que é a alma do filme, e já dizem estar na disputa por prêmios nos próximos meses. Ela tá tão cheia de plástica, com a cara mais esticada que lençol no varal, e acabou conseguindo um papel perfeito pra ela, coisa que eu achava estar ficando cada vez mais distante. Plásticas acabam com a expressividade facial, e um ator precisar transmitir emoções. Esse mês saem as indicações ao Globo de Ouro e a Critics’ Choice. Vamos ver no que dá.
O roteiro prima pelo senso de humor, como quando a Sandra reclama em uma repartição pública da falta de eficiência dos funcionários, e pergunta quem é o responsável pelo lugar, e a atendente aponta pro quadro do Bush. Ou quando a Kathy diz na sua entrevista a Sandra que tem duas coisas a dizer, que é ateia e democrata. O filme tem esse outro lado também de dizer que os brutos também amam e que os conservadores têm sentimentos nobres. Eu não sei, nunca tive muito contato com esse tipo de gente pra saber, e só acredito vendo. Sou São Tomé incrédulo mesmo, nesse aspecto. Ainda mais nessa época em que Obama é presidente, vencedor do Nobel da paz, e Sarah Palin e Miss Califórnia viraram os ícones dessa camada da sociedade, um filme desse pra limpar a barra vem a calhar. Tirando esses poréns, o filme é bem agradável de ver.
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