Uma reflexão cultural I (continua)
Cinema

Uma reflexão cultural I (continua)


I. A propósito da notícia que o Nuno oportunamente veiculou, do encerramento da sala de cinema da cidade de Chaves, e no seguimento de outras que vêm vindo a lume acerca de alegadas dívidas a actores do produtor Filipe La Féria, não posso deixar de recordar o marasmo cultural em que caiu um país com tradição marcada em vários campos de acção cultural.

Na verdade, sinto-me na necessidade de lembrar que o Teatro Municipal Rivoli, aqui na cidade do Porto, foi oferecido ao dito produtor e encenador, com contrapartidas que, pela leitura atenta dos jornais nos últimos meses, deixam muitas dúvidas, e que terminou, aparentemente, com um fim ainda por explicar do tal contrato que unia a autarquia e a empresa que explora(va?) o dito espaço.

Passando por cima da polémica, das decisões judiciais, dos boicotes e dos comentários populares (que mesmo assim foram escassos), a situação actual do Rivoli é o espelho de uma sociedade que deixou de procurar ser informada e educada culturalmente, contentando-se com o que existe. Neste particular, procuro três exemplos.

Se por um lado, e numa peça televisiva, assistimos a alguém falar do valor dos bilhetes de cinema (que sem dúvida poderão ser pouco apelativos), bem como dos downloads ilegais dos filmes, a verdade é que estes não podem ser só as únicas desculpas para o encerramento de salas de espectáculos pelo país. Do preço elevado, tendemos sempre a procurar como ponto de partida a relação custo / benefício do serviço a prestar. Mas já dos downloads (ilegais), desses, eu confesso-me a favor.

Vejamos. De Setembro passado até ao final do ano (quatro meses, e tendo em conta alguns filmes previstos, estando a lista de estreias de Dezembro incompleta) existe uma média de estreias de 7 filmes por semana. Sete! E obviamente que alguém fica a ganhar com o camião de filmes que entra no país. Se ficcionarmos que um cinéfilo quer assistir a metade das estreias, arredondando para baixo, num bilhete a, digamos, €4,00, esse mesmo cinéfilo, nestes 4 meses, gastaria quase €200,00. Impraticável. Da minha parte, o filme é para ser visto numa sala de cinema. O acto de assistir ao filme é uma complexa teia sociológica, onde o local é ponto assente na geografia do crescimento pessoal. Mas o valor terá obrigatoriamente a ser tido em consideração.

Por outro lado, nunca é demais observar que a programação do circuito comercial continua inundada de incompetência. Alguém, no seu perfeito juízo, vai sentir falta de “filmes” como "Macgruber", “Marmaduke” ou “StreetDance 3D”, entre outros, a estrear nas salas? Alguém, no seu perfeito juízo, enviaria “500 Days With Summer” directamente para DVD? A criação de públicos faz-se tendo por base a formação do indivíduo.



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