Cinema
Up - Altas Aventuras
(Up, EUA, 2009)Mais do que divertir e trazer uma nova tecnologia para o cinema, a Pixar tem modificado a cara do cinema infantil de grande distribuição. O mercado de animação segue há anos uma mesma tendência de personagens e estruturas e é também nessa continuidade que encontra parte do seu sucesso.
A Pixar, sempre junto com a Disney, marco tradicional da animação mundial, seguiu o padrão na maioria dos seus filmes. Aliando o 3D a técnicas de computação gráfica e elementos mais modernos, porém, começou a revolucionar aquilo que as crianças conheciam tão bem e há tanto tempo.
Enquanto nos longas, a construção dos personagens ainda era tradicional e os diálogos eram responsáveis pela transmissão de muito da história contada, nos curtas-metragens a realidade era outra. Em poucos minutos tínhamos histórias completas, que abordavam temas como a solidão (Geri?s Game), o preconceito (For the Birds), a baixa auto-estima (Red's Dream) e a adolescência (Bouncin?) contados de uma maneira inovadora e envolvente. Deixando que todo aquele mundo visual criado falasse por si, sem grandes explicações.
Foi o retorno dos curtas que levaram a produtora, na figura do roteirista Pete Docter, a investir em uma nova linguagem para os longas e o resultado veio em dois belíssimos filmes: WALL-E, com história de Docter roteirizada por Jim Reardon e Andrew Stanton e dirigida por este, e Up ? Altas Aventuras, roteiro de Bob Peterson e Docter, que também assinaram a direção.
Introduções longas, silenciosas e que privilegiam a apreensão de imagens e a percepção sensorial dão força aos dois filmes, que conseguem criar personagens muito mais ricos e permanentes do que os de outros desenhos.
O vínculo das crianças com o solitário robozinho compactador de lixo ou com o idoso ranzinza amargurado com a vida é tão forte que qualquer coisa poderia ser dita, pois eles já são como companheiros dos pequenos e grandes que assistem ao filme. E, de um jeito ou de outro, é o principal motivo para o sucesso dos títulos.
Up ? Altas Aventuras conta a história de Carl, um menino tímido e silencioso que sonha em ser explorador. Ainda criança ele conhece a agitada e faladora Ellie, com quem passa vários anos de sua vida. Depois de ficar sozinho alguns anos, ele resolve fazer a viagem dos sonhos do casal e, sem saber, leva junto com ele o pequeno escoteiro Russell.
A relação de Carl e Ellie é contada com muita poesia e sutileza e consegue retratar um amor como poucas vezes fez o cinema. Detalhes como a caixa de correio e as fotos de Ellie (em especial a que ela está sentada olhando para a janela) são arrebatadores e arrancam suspiros de crianças de todas as idades que, ao passar por uma experiência tão diferente da tradicional no cinema, têm reações interessantes que vão da conversa com a tela ao suspiro.
Assim como WALL-E, a narrativa sofre uma quebra e não só o ritmo do filme fica agitado, como os acontecimentos passam a ser contados de uma maneira diferente. O que é apontado por muitos como um problema, é um novo estilo de se contar história para crianças, que acredita na percepção, mas conhece bem as exigências dos pequenos e, mais do que isso, tenta ampliar seus limites.
Toda a contrastante ação da segunda metade tem seus pontos fortes e diverte. É neste momento que conhecemos melhor o pequeno Russell, que tenta de qualquer maneira atrair a atenção de seu pai ausente. Cachorros falantes e pássaros tropicais chegam para fazer companhia à curiosa dupla e a aventura fica recheada de gargalhadas.
Junto com o colorido visual, sempre competente e estonteante, o filme conta com a bela trilha sonora de Michael Giacchino, compositor de várias animações e da série televisiva Lost.
Outro ponto forte é a direção de arte, sempre tão controversa em animações, mas que, no caso, não poderia ser nomeada de outra maneira. Os responsáveis pelas cores, cenários e cenas do filme são o desenhista de produção Ricky Nierva e Ralph Eggleston, Bryn Imagire, Harley Jessup, Daniel Lopez Munoz e Don Shank.
Uma prova de que a diversão infantil não precisa ser fácil e gratuita e pode sim ser elaborada. Mais uma surpresa da Pixar que conseguiu repetir a dose depois de WALL-E, um filme que, injustamente, não teve o reconhecimento merecido.
Programa imperdível para crianças pequenas e grandes, que diverte do filho caçula ao vovô.
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