Cinema


"Fahrenheit 9/11" por Ricardo Clara


Estreia esta semana o filme choque deste ano, o polémico "Fahrenheit 9/11" de Michael Moore. Palma de Ouro em Cannes, o filme vinha já à nascença rotulado com grandes expectativas: toda a novela da distribuição do filme, ao próprio carisma do documentarista já eram um aperitivo suficiente para este ser um dos filmes mais esperados do ano. O enredo, sobejamente conhecido de todos: um filme de propaganda anti-Bush, que procura que George W. Bush, presidente norte-americano, não seja reeleito nas eleições presidenciais de 2 de Novembro próximo. Ataca violenta e ironicamente o presidente norte-americano e a sua administração, fazendo referências explícitas a ligações económicas entre a família Bush e a família Bin Laden, ao modo de recrutamento de inúmeros militares que se encontram no Iraque, bem como parodia umas prolongadas férias que Bush gozou no período pré 11 de Setembro.
Enquanto peça de cinema, o documentário é claramente de qualidade. Michael Moore, já em "Bowling for Columbine" já tinha dado provas de ser um realizador com boas ideias no campo da montagem e da produção. Mas enquanto conteúdo, as conclusões ficam para quem vir o filme. Há, obviamente, uma clara manipulação dos factos, mas Moore também não esconde o grande motivo deste filme: impedir a reeleição de Bush. E o que me choca mais neste sentido, é a utilização, no meu entender abusiva, do Cinema enquanto Arte como meio de atacar uma pessoa, um ideal ou uma política. E afirmo isto completamente pondo de parte a minha análise pessoal (que não interessa aqui referir) do presidente norte-americano ou das suas políticas exageradamente bélicas. Porque também acabou por oferecer um novo conceito ao Cinema: a própria Palma de Ouro de Cannes também ficou politizada (talvez influenciada pelo presidente do júri, Quentin tarantino), o que revela a influência que neste momento a política imprime ao cinema, este enquanto veículo de propagação de mensagens, quase ao estilo de Leni Riefenstahl (com as devidas proporções) e os seus documentários-propaganda realizados na campanha Hitleriana que marcou o séc. XX.
Já o tom do próprio Moore mantém-se inalterável. O estilo provocador e interventivo do cineasta, perseguindo senadores norte-americanos para lhes propôr que eles enviem os seus filhos para o Iraque, é um modus operandi que Moore utiliza, com vista a divertir e chocar a população, como já havia feito em "Bowling for Columbine", com a entrevista pessoal a Charlton Heston, enquanto presidente da National Rifle Association. Será, de qualquer modo, um produto para seguir com bastante atenção.





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