Crítica - Candy (2006)
Cinema

Crítica - Candy (2006)



Realizado por Neil Armfield
Com Heath Ledger, Abbie Cornish, Geoffrey Rush

Nesta adaptação do romance homónimo de Luke Davies, o realizador Neil Armfield conseguiu trazer de novo à Austrália e ao cinema australiano os actores Heath Ledger, Abbie Cornish e Geoffrey Rush, permitindo-lhes, como o malogrado Heath Ledger afirma numa entrevista que acompanha a edição em DVD do filme na Colecção Heather Ledger, interpretar as personagens com o seu próprio sotaque o que dá abertura a uma maior espontaneidade.
Candy (Abbie Cornish) é uma muito jovem estudante de artes plásticas que se apaixona por Dan (Heath Ledger), um jovem poeta, a quem se une num caminho pautado por um profundo e fortíssimo amor envolto na queda no abismo do consumo de heroína. O efeito da heroína é para os dois a extensão do seu próprio estado de espírito mas progressivamente os dois belíssimos e talentosos jovens são conduzidos por ela num desfiladeiro de degradação e alienação. O amor entre ambos torna-se num triângulo amoroso em que o terceiro elemento é a droga e o que fazem para a conseguir. O seu amor aguenta o afastamento das suas expressões artísticas, a falta de dinheiro, a incompreensão da família, os roubos, a prostituição, o filho que perdem, as inúmeras tentativas para largarem juntos e as outras tantas recaídas até um ponto em que se bate no mais fundo dos fundos e Candy colapsa não podendo nada mais voltar atrás.


Não sendo um filme sobre o consumo de droga mas sobretudo uma história de amor entre dois drogados, o submundo do tráfico não nos é apresentado, nem a própria decadência física é particularmente sublinhada, aparecendo mesmo um lado glamouroso deste universo na riquíssima casa do político homossexual Casper (Geoffrey Rush), também ele um viciado que, no entanto, consegue, pelo dinheiro que tem, não entrar directamente no submundo, sendo sempre um porto de abrigo seguro para o jovem casal até ele próprio morrer de overdose dando a Dan a clara noção de que tudo acaba de um momento para o outro. Não sendo uma obra-prima, este filme consegue desenvolver o fio narrativo com grande graciosidade, garantida em grande parte pela beleza incontestável e inocente de Abbie Cornish e de Heath Ledger, e por alguns momentos realmente tocantes, como as frases que Candy escreve por toda a casa nas várias cores dos seus vernizes para as unhas, tornando as paredes numa desesperada pintura poética extraordinariamente bela. O filme alimenta-se deste contraste constante entre o lado solar do grande amor de ambos e o lado negro da adição, entre a beleza dos seus espíritos e dos seus corpos e os actos de ignomínia que praticam sem grandes hesitações ou reflexões morais.
Apesar da narrativa envolver emoções fortíssimas o tom do filme propositadamente ou não sofre poucas oscilações, não vibramos enquanto espectadores com o sofrimento ou a exaltação das personagens. Essa espécie de distanciação que se cria permite de facto manter sempre claro que ambos são apenas dois jovens apaixonados e talentosos e não seres com deficiências morais graves, permite também transmitir a força do amor de ambos e a mensagem fundamental de que tudo que é humano tem um fim, mesmo as melhores coisas. No entanto, tem o efeito perverso de nunca conseguir de facto envolver totalmente o espectador, agravado pelo facto de fora a prestação de Abbie Cornish nenhuma outra ser particularmente forte ou tocante.

Classificação - 3,5 Estrelas Em 5



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