Com Takeru Satoh, Emi Takei, Munetaka Aoki
Há algumas coisas que, para mim, estão profundamente ligadas à nostalgia e às recordações de uma infância pacifica e muito positiva. Entre esses exemplos felizes está o popular anime "Samurai X"/ "Rurouni Kenshin", que a par de outros animes igualmente populares e empolgantes, como "Dragon Ball", "Cavaleiros do Zodíaco", "Pokémon" ou "Digimon", conseguiu roubar desde cedo um bom pedaço do coração e da atenção de um jovem irrequieto que, simplesmente, não conseguia perder um dos seus episódios que, como alguns se devem lembrar, faziam parte do alinhamento da programação infantil que a TVI exibia da parte da tarde, no âmbito do já extinto mas clássico programa infantil "Batatoon". Ao longo de vários anos, os episódios cheios de ação, lutas e aventura de "Samurai X" ajudaram a incutir ainda mais alegria à minha infância, e ajudaram-me a criar um profundo laço de adoração pelos desenhos animados da cultura japonesa, que hoje em dia são uma parte importante da minha programação de entretenimento semanal. Foi por tudo isto que fiquei em êxtase, em 2011, quando a Warner Bros. Japão anunciou que iria produzir uma versão live-action deste popular anime, que tanto prazer deu a milhares de jovens telespectadores por esse mundo fora, como eu, que vibraram durante anos com os seus completos e bem animados episódios repletos de vigor, energia e cultura japonesa. Foi igualmente, com grande gáudio e expetativa, que me comecei a aperceber, graças em parte aos seus múltiplos elementos promocionais, que "Rurouni Kenshin" poderia muito bem ser uma surpresa imensamente positiva, já que tudo indicava que se tratava de um cativante projeto live-action que se conseguiu manter fiel à sua base anime. É claro que, à medida que mais ia descobrindo sobre o filme, mais vontade tinha de o ver e, após perder toda a esperança de algum dia o poder ver nas salas de cinema portuguesas, acabei por comprovar as minhas expetativas, quando finalmente o consegui ver e apreciar ao máximo o poder, a fidelidade e a magia desta adaptação cinematográfica de um dos maiores ícones da minha infância.
É óbvio que apesar de ser popularmente considerado uma mega produção japonesa, "Rurouni Kenshin" não tem aquele carisma visual ou aquele panache técnico que podemos encontrar, frequentemente, nos típicos blockbusters de Hollywood, mas tal facto não o prejudica em nada, porque com as poucas armas técnicas que tinha à sua disposição, o cineasta Keishi Otomo conseguiu reunir uma talentosa equipa de especialistas em efeitos visuais, coreógrafos de sequências de batalhas e outros especialistas técnicos, que, tendo como inspiração as sumarentas bases do anime, conseguiram criar um empolgante e magnânimo filme de ação que, sem dúvida alguma, honra com toda a justiça o anime "Samurai X". Tendo como base os primeiros capítulos do famoso anime, "Rurouni Kenshin" funciona como uma ampla e muito competente introdução da história de Kenshin Himura, um jovem ronin errante (samurai sem mestre), que após ter cometido inúmeras atrocidades imperdoáveis durante a Guerra Civil Japonesa (1868 - 1869), decidiu reformar-se e jurou, perante a memória das suas várias vítimas, que nunca mais voltaria a utilizar a sua katana para matar um homem e que, como consequência disso, abandonaria para sempre a sua sangrenta fama lendária de samurai esquartejador. Uma década após o final da Guerra, Kenshin vagueia, a solo, pelo território japonês e, a dada altura, chega a uma cidade onde são imputados vários crimes de homicídio à sua figura lendária, algo que o acaba por arrastar, inevitavelmente, para uma inesperada aventura recheada de conspirações e segredos macabros, que puxará de novo pelo seu dormente lado bélico, que agora funciona apenas em prol da justiça e da proteção dos mais fracos. É portanto fácil de deduzir por este breve resumo e, até pelo estilo muito próprio do anime, que este projeto cinematográfico está longe de ser enfadonho, já que aposta, do princípio ao fim, numa competente componente de ação e aventura, que dá azo a várias sequências de batalha e luta muito realistas e atrativas, que realçam o lado mais bélico e aceso deste projeto, que também aposta no desenvolvimento de um guião equilibrado e lógico, mas também na construção de um competente background moral para apoiar o seu carismático protagonista, cujas origens, objetivos e planos são sempre muito bem definidos e delineados, algo que nos leva a recordar a estrutura sempre capaz do anime, que também dava muita importância à lógica do enredo e à construção psicológica dos seus intervenientes, sem negligenciar as suas sequências de ação e o seu espírito bélico, tal como acontece portanto nesta sua pormenorizada adaptação cinematográfica.
Esta equilibrada junção entre um bom argumento e boas sequências de ação facilitam, portanto, a tarefa do grande público, e não apenas dos apreciadores do anime, em se perderem com uma aparente diversão em todas as componentes e pormenores do energético desenrolar desta primeira aventura cinematográfica de Kenshin Himura, que por entre todos os conflitos em que se vê envolvido e pelo meio das suas nobres tentativas de reparar as injustiças, compensar os seus pecados passados e limpar o seu nome, acaba por travar uma poderosa amizade com três aliados de peso (Kamiya Kaoru, Yahiko Myojin e Sagara Sanosuke). Estas três personagens importantes, que no anime sempre estiveram a seu lado para o que der e vier, voltam a ter uma grande importância nesta versão cinematográfica, onde também são responsáveis pela vertente mais dramática e intimista da trama, já que o ajudam a combater os seus demónios pessoais e, claro está, também o ajudam a batalhar contra os seus novos inimigos, sendo neste grupo particular de rivais que se inclui o poderoso vilão Ud? Jin-e, que em "Rurouni Kenshin" se destaca como o principal antagonista de Kenshin, sendo o único vilão do filme que, de uma forma violenta, consegue fazer sobressair as suas lendárias capacidades de batalha, excepto claro o igualmente lendário Sait? Hajime, que aqui, tal como no anime, assume o papel de aliado de Kenshin, apesar de no passado ter sido um dos seus maiores inimigos. É graças a todas estas componentes dignas de elogios que "Rurouni Kenshin" conseguirá agradar aos apreciadores e puristas do anime "Samurai X", mas também a qualquer fação do público que aprecie filmes de ação diferentes mas com substância, porque esta é exactamente a melhor forma de descrever esta emocionante produção, que prepara de uma forma adequada as próximas entregas de um já seguro franchise cinematográfico que, a julgar pela qualidade deste primeiro filme, merece todas as oportunidades que lhe possam dar.
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