Cinema
Crítica: 12 Horas (Gone/2012)
A estréia do diretor tupiniquim Heitor Dhalia em produções ianques, vem com esse, intitulado no Brasil, 12 Horas. Uma típica realização de suspense que os americanos produzem em profusão. O trabalho de Dhalia, aqui, parece mais ser o de um empregado destituído de voz ativa, o que só atesta o caráter genérico da obra. Não vemos sua assinatura, marcante nas suas produções nacionais (Nina, O Cheiro do Ralo, À Deriva) e que o levaram ao patamar de talentoso realizador. Histórias de bastidores dão a entender que o diretor não teve participação no corte final, tendo ficado ao gosto dos produtores. Isso não é estranho, não por Dhalia ser um diretor brasileiro ou mesmo estreante, mas porque os executivos de Hollywood são famosos por mexerem e remexerem, sem pena, em visões de diretores autorais, mas com a premissa de 12 Horas, sinceramente, não sei se o resultado poderia ser tão diferente.
Na trama, Jill (Amanda Seyfried) é uma jovem que sofreu um terrível seqüestro, sendo colocada em um buraco profundo em um imenso parque-floresta e torturada psicologicamente. Em um equivoco do malfeitor, ela consegue escapar do que seria seu destino (uma morte sofrível). Ao procurar as autoridades, ela não consegue apresentar provas substanciais de que tenha sido, de fato, seqüestrada e a própria policia não vai tão a fundo às investigações. A obsessão da moça faz com que seja taxada de louca e problemática pelos médicos e policiais locais (tendo ainda passado, a força, uma temporada em um sanatório). Isso é explanado nos primeiros minutos do filme, situando o espectador até de maneira eficiente. Em um corte, a narrativa é jogada um ano à frente, onde Jill mora com a irmã, Molly (a bela Emily Wickersham). Aparentemente recuperada do trauma, a moça trabalha como garçonete, de madrugada, em um restaurante modesto. Todos acreditam que Jill alucinou sobre o seqüestro, mas ela tem certeza do que sofreu e ainda sente como se o seu algoz estivesse espreitando a todo o momento. A moça tem certeza que não tardará até que ele volte para completar seu serviço.
Um dia, ao voltar pela manhã do trabalho, Jill não encontra sua irmã em casa. Tirando suas breves conclusões, a moça deduz que o seqüestrador pegou Molly. Seria por engano ou como isca para atraí-la? De qualquer forma, é fato suficiente o bastante para ela sair em uma investigação solitária, já que a policia não acredita em nenhuma palavra sua e deduzem que surtou novamente. Não demora, até que se torne alvo da policia, porque é reportado que foi vista armada pela cidade. Então, monta-se o ?jogo de gato e rato?. Jill atrás do paradeiro da irmã e todos da cidade atrás dela. Alguns bons filmes foram realizados com aspectos parecidos, mas, infelizmente, não é o caso de 12 Horas, que fica em um meio termo dos mais razoáveis. O trabalho de Dhaliacarece de soluções mais elaboradas, os clichês são mal utilizados, ainda com personagens desenvolvidos de forma rasteira e estereotipados de forma pouco convincente. Não dá para acusar essa última nuance como problema da direção, até porque os atores escolhidos para darem vida aos ?tiras? não são dos mais talentosos. Os policiais de 12 Horas, em nenhum momento, conseguem convencer o espectador.
Entre vários problemas aparentes, a protagonista Amanda Seyfriedconsegue se salvar com certo louvor. Os aspectos psicológicos de sua personagem são diluídos dentro da própria narrativa, mas a moça confirma seu bom timing para thrillers de ação e suspense. Se tiver algo que faça, realmente, valer à pena a sessão de 12 Horas é o carisma da atriz. Em algumas boas (e poucas) seqüências, como a do epílogo, Seyfried mostra que consegue ter a presença necessária para ancorar um filme levado pela ação e tensão. Sim, podem se surpreender, mas Amanda Seyfried é uma boa action-hero (confirmando as mulheres como as que têm representado com mais propriedade no cinema de gênero atualmente). Trabalhar como operário em Hollywood não é fácil, Heitor Dhalia sentiu isso na pele. O cinemão americano não é de dar segundas chances, mas espero sinceramente que o nosso querido diretor tenha uma.
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