Cinema
Crítica: As Sessões
A Robotização Mecânica do Amor
Por Fabricio Duque
"Imagine sendo um garoto de seis anos...", trecho dito durante "As Sessões" no filme homônimo dirigido por Ben Lewin (de "Um Golpe de Sorte" e de seriados de televisão, como "Ally McBeal" e "Um Toque de Um Anjo". Com a frase inicial podemos entender a linha narrativa que o diretor (também roteirista) quis seguir. É baseado no artigo acadêmico "Se Consultando com uma Substituta", da história verídica de Mark O'Brien (John Hawkes, de "Inverno da Alma", "Lincoln", "Contágio"), um homem que viveu a maior parte de sua vida em um pulmão de ferro, devido a Poliomelite (que se desenvolveu aos seis anos) e que usa a poesia para expressar os anseios e controles de seu corpo. Ao ser convidado a escrever sobre sexo entre deficientes, Mark desperta os impulsos sexuais. Aos 38 anos busca perder sua virgindade. "Por que agora", pergunta-se. "Minha hora tá passando", ele responde. O encontro configura-se mecânico, técnico, quase um contrato firmado. "As Sessões" acontecem com uma terapeuta sexual (Helen Hunt, de "Melhor é Impossível", "Náufrago"). "O que me diferencia de uma prostituta é que a prostituta quer que você vire freguês. Eu não", ela diz, ressaltando a "consciência corporal". Como católico fervoroso, muito por causa da criação, confessa-se com o padre Brendan (William H. Macy, de "Magnólia", "Obrigado Por Fumar"), pedindo orientação e absolvição para que não sinta "culpa" pelo ato "antes do casamento". Não sei se foi proposital, mas a atmosfera transpassada ao espectador é de estranheza, como um mundo perfeito de uma criança de seis anos, que não perceber o julgamento alheio, acreditando sempre na aceitação do próximo. Digo isto, porque não há conflitos. Os personagens riem, entendem, com perspicácia, inteligência e um "paciente" senso de humor. Não há a "crueldade" da realidade (como em "Amor", de Michael Haneke, por exemplo), só relações interpessoais felizes e dispostas. Até mesmo o afiado tom realista do protagonista não encontra nenhum pingo de hipocrisia, só otimismo. Não há infelicidades, apenas o amor "contagioso". Vamos digressionar. Mark deixava apaixonavas as mulheres. E o amor, o sexo, a paixão (que duravam seis sessões - uma por semana - resolveu-se antes). É aí, que o roteiro oferece emoção, clamando por um contexto cúmplice de quem assiste em prol da credibilidade cinematográfica (e realista). As reviravoltas desenrolam-se com extrema facilidade. Amam-se com extrema pressa. É tudo extremado, artificial e teatral, principalmente nas relações, que se entendi do filme, deveria transpor esse vazio robótico inicial. Perdoem-me pelo momento chulo, mas não posso deixar de comentar (já que está explícito na trama). "Que belo grande ereto pênis você tem!", a terapeuta começa a se envolver e questiona o próprio casamento. E complementa dizendo que quando duas pessoas se conhecem, experimentam o toque, sexo, e depois fica a negociação. Inferimos, que com este "cliente", a ordem se apresentasse inversa, movimentando o "universo aceitável". Quanto mais escrevo, menos sinto o filme. É frio, sistemático, acadêmico, e que se comporta como percepções de uma criança, sendo logicamente, infantil, ingênuo, e tentando suavizar ao máximo o tema abordado. Não há vida real, como disse, e sim o lado abstrato, romântico e positivista de se amar alguém. Concluindo, um longa-metragem, de duração curta, um pouco mais de noventa minutos, que se rotula pela mitigação das próprias definições ao buscar leveza, normalidade da fantasia e felicidade do protagonista, quando induz a ideia da primeira vez no sexo, lembrando a referência inevitável ao filme "O Virgem de Quarenta anos". Venceu os prêmios do público e do júri no Festival de Sundance 2012, além de ter sido exibido no Festival de Toronto; e está indicado ao Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante para Helen Hunt. Finalizando em miúdos, não é ruim, pelo contrário, é desafiador e intrigante, porque cria a sensação de não aprofundamento, como se fossem personagens fora do próprio corpo interpretativo, sem o mecanismo da sinestesia, diferentemente da química empregada no filme francês "Intocáveis".
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