Crítica de Os Miseráveis
Cinema

Crítica de Os Miseráveis


I Dreamed a Dream...

Os Miseráveis // Les Misérables

Nota: 8,5

Adoro musicais. Adoro nas telas, como Hair, Chicago, Cabaré, Cantando na Chuva, Hairspray, assim como nos palcos, onde já vi Rock of Ages, Spring Awakening, Wicked, Spider Man, etc. Há de se reconhecer que é uma estrutura diferente de narrativa. O público acostumado com hollywood raramente gosta. Detesta na verdade. E ainda mais no Brasil, onde mal se tem teatro, quanto mais teatro musical, então fica mais difícil ainda ter um público para esse tipo de produção. Mas até os filmes nacionais costumavam ser bem musicais até antes da ditadura. Carmem Miranda, por exemplo, brasileiríssima mesmo sendo portuguesa de nascença, acabou indo parar em Hollywood e sendo a artista mais bem paga do seu tempo. Dá pra ver o bem que a ditadura fez com a cultura brasileira... Por outro lado, os próprios desenhos da Disney são totalmente Broadway, e o público brasileiro os adora. Mas basta colocar um ser deveras humano a cantarolar que o bombardeio se inicia.
Les Mis é clássico dos clássicos dos musicais. Escrito na França por Claude-Michel Schönberg e Alain Boublil, numa adaptação da obra homônima e clássica de Victor Hugo. Foi lançado originalmente como disco e abriu timidamente em Paris em 1980, onde durou três meses nos palcos. Adaptado cinco anos depois no West End, a Broadway londrina, todo traduzido para o inglês, o musical começou muito mal no boca a boca, mas foi ganhando uma base cativa de fãs.
Aos poucos, tendo suas belas canções como carro-chefe, terminou sendo um sucesso estrondoso em Londres e se tornando mais um dos musicais ingleses (entre aspas) a ser adaptado com sucesso na Broadway, junto a Cats, O Fantasma da Ópera e Miss Saigon. Todos hoje icônicos. Mas talvez nenhum deles tenha tantos hinos exaustivamente cantados, gravados e regravados como Les Mis. E por muitos anos nenhuma audição de elenco para musicais se aceitava mais que candidatos cantassem alguma delas.
Depois de três décadas, e várias tentativas frustradas de se produzir no cinema, finalmente o musical chega às telas. Tom Hooper, o relativamente novato que ganhou o Oscar por O Discurso do Rei, foi o escolhido para dirigir, e contrataram uma verdadeira constelação hollywoodiana para estrelar a obra, como Hugh Jackman, Anne Hathaway e Russell Crowe, além de uma ponta de Colm Wilkinson logo no início, que estrelou Les Mis em Londres e na Broadway.
A história, pra quem não sabe, é sobre Jean Valjean, que escapa das agruras da prisão por ter roubado um pão para alimentar parentes famintos, pouco depois da Revolução Francesa, a época da Maria Antonieta e seus brioches. Com novo nome, ele prospera e acaba como prefeito de uma cidadela onde ele conhece Fantine, uma ex-operária desempregada, que no porão do fundo do poço da rua da amargura, precisa se prostituir e se vender como pode para poder sustentar a filha Cosette. Tísica à beira da morte, ela recebe a promessa de Valjean de que ele cuidará de sua filha. Mas perseguido pelo oficial Javert, ele é forçado a continuar fugindo pra não voltar à prisão.
Toda a pompa e melodramaticidade da história e das canções são atenuadas pela simplicidade dos takes, ângulos e enquadramentos. Ao contrário de quase todos os musicais, onde as canções são gravadas previamente e os atores dublam depois nas filmagens como em videoclipes, aqui as canções foram entoadas no ato das filmagens. A idéia de contrastar a precisão vocal da obra teatral com a intimidade da proximidade das câmeras em vocais afetados pela emoção do momento (que com certeza devem ter dado uns retoques aqui e acolá depois) dá um charme diferente à obra e dá ao filme vida própria.
Pra mim esse é o ponto forte da produção, onde seria muito mais fácil transformar tudo em mero espetáculo ou MTV, e esquecer-se de dar esse momento de interpretação aos atores. E todos correspondem. E essas cenas em tomada única, só com close-ups dos rostos dos atores, são o que há de mais tocante no filme. Especialmente a cena de I Dreamed a Dream, que está dando todos os prêmios da temporada à Anne Hathaway.
Essa direção artística tomada deu às canções um ar de novidade. É só comparar a redenção de Anne para I Dreamed a Dream com a famosa versão de Susan Boyle, que a tornou estrela. Inclusive Suddenly, a canção nova composta pra ganhar prêmios mas Adele tem estragado os planos, é muito bonita também. Mas On My Own (que Katie Holmes miou em Dawson’s Creek) foi meio decepcionante pra mim. Não me conformei com terem cortado a introdução da canção. Com tanta coisa pra cortar no filme, foram eliminar logo uma das coisas mais icônicas do musical.
Hugh e Anne são com certeza os destaques do elenco. Mas pra mim, a personagem mais interessante mal dura na história, a menina Éponine, que tem talvez a mais famosa das canções da obra, On My Own, feita pela desconhecida Samantha Barks. Em contrapartida não há personagem mais ingrato que a “insossice” da Cosette adolescente. Outro “desconhecido” do elenco recheado de estrelas é Aaron Tveit como Enjolras, que veio diretamente da Broadway onde ganhou fama no excelente musical Next to Normal e eu o vi nos palcos na versão musical de Prenda-Me Se For Capaz.
Os dois astros mirins, que fazem Cosette criança e Gavroche, são adoráveis. O xarope do Sacha “Borat” Cohen é tão sem graça que mesmo no papel de vigarista engraçadinho ou ao lado da bruxa-mór Helena Bonham Carter serve como alívio cômico eficiente. Inclusive é mais um momento à la Sweeney Todd repetido por Carter, ótima como de costume, mas talvez um tanto apagada pelo roteiro e/ou direção. E Russell Crowe, querido, aprenda com o exemplo de Pierce Brosnan em Mamma Mia. Não cante mais. Agradecido.
Como (quase) todo filme de época, cenografia, figurinos e maquiagens são muito bem cuidados. Uma mudança que eu faria sendo diretor e/ou roteirista do filme seria abolir os diálogos cantados, e colocaria como falas mesmo. Se as canções solo dos personagens são pontos altos dramáticos do filme, esses diálogos são pontos fracos. Exatamente a mesma coisa que incomodou na versão para cinema de Rent. Não são canções propriamente, são irritantes e nem são fortes o suficiente como diálogo. Nos palcos devem funcionar melhor.
A estória é bela, apesar de datada e deliciosamente piegas. Mas sua mensagem é atemporal e universal. Uma brilhante metáfora sobre a existência humana, parafraseando uma conhecida minha qualquer, pouco importante. Imaginem só qual seria o sentido da vida numa época como aquela. Mesmo hoje em dia quando tantos movimentos sociais de minorias conquistaram vitórias significativas, e há algumas leis e programas sociais de inclusão, e ainda assim as discrepâncias sociais são tão gritantes e abismais. Nada é mais triste do que a pobreza e ignorância, que despe o indivíduo de dignidade e só lhe resta a esperança e o instinto de sobrevivência a se agarrar.



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