Cinema
Entrevista a Tanel Toom (parte I)
Uma das vantagens de ver filmes em festivais é que por vezes temos a sorte de falar com as pessoas que fizeram o filme. O Porto7 no feriado nacional presenteou-nos com Tanel Toom, que tinha muito a ensinar. Como meia hora não bastou para eu saber tudo o que queria, a solução foi ter meia hora de entrevista.
Tanel Toom é uma pessoa bastante acessível a quem agradeço a disponibilidade para esta longa entrevista. Gabo-lhe a paciência e o bom humor pois ao fim de 25 minutos a entrevista acabou como começou: por entre risos. A publicação vai ser distribuida ao longo do dia para não ser cansativo.
Antestreia: Para começar o que nos pode dizer sobre si?
Tanel Toom: Tenho vinte e oito anos e faço filmes há nove. Comecei a fazer cinema na Estónia e tirei o curso na Estónia (Tallin). Fiz alguns trabalhos como realizador de anúncios e assistente de realização em longas-metragens. Entretanto ainda fazia as minhas curtas-metragens e em 2008 fiz “Second Coming” (premiado em Avanca). Depois disso mudei-me para Inglaterra para tirar um mestrado e tirei a graduação na National Film and Television School em 2010. Com o projecto de final de curso – “The Confession” – ganhei o Student Oscar em 2010 e foi nomeado para o grande Oscar, Melhor Curta de Imagem Real. E foi esse o final da minha carreira, estou a anunciar a minha reforma após nove anos de filmagens… (risos).
A: De onde veio a ideia de ir para Londres e porquê para a National Film and Television School?
TT: A National Film and Television School é considerada uma das melhores escolas de cinema do mundo e estudar nessa escola era o meu sonho. Eles têm mestrados. Para concorrer ao MA (Master in Arts) é preciso ter um BA (Bachelor in Arts). Quando estava a estudar na Estónia ouvi falar da National Film and Television School e soube que um dia estaria a estudar lá. Acabei o curso na escola de cinema da Estónia, trabalhei por dois anos e fiz mais uma curta-metragem. Já não era o trabalho de um estudante. Com este filme – era o “Second Coming”, projectado há dois anos em Avanca – decidi candidatar-me à National Film and Television School.
A: Há um Tanel diferente antes e depois de Londres. De que forma foi moldado pela cultura, britânica, pela escola e pela sua comunidade internacional?
TT: Como realizador espero estar sempre a evoluir especialmente porque estou no início da minha carreira e a experimentar diferentes coisas. De resto penso que ainda sou o mesmo Tanel. Espero ter-me tornado um melhor realizador, estou melhor tecnicamente, sei melhor como trabalhar com os actores e definitivamente sei melhor do que antes como fazer filmes. Acho que o meu estilo ainda é o mesmo, apesar de mudar ao longo dos anos. Independentemente de se morar em Londres, Xangai, Porto ou na ilha de Bora-Bora, estamos sempre a evoluir e a mudar.
A cultura inglesa talvez me tenha mudado como pessoa. Sei mais sobre essa cultura do que sabia antes, mas não penso que isso tenha influenciado o meu estilo como realizador ou cineasta. Na Estónia não temos uma indústria do cinema e em Inglaterra há uma por isso essa é uma das diferenças. Sei como trabalhar numa indústria do cinema e antes não sabia.
A: Quais as principais diferenças entre os seus trabalhos ingleses e estónios?
TT: Há diferenças entre os filmes da era Reino Unido e os anteriores. Os actores, os orçamentos e as instalações não são a maior diferença porque “The Second Coming” teve um orçamento bastante razoável, ainda é o filme mais caro que já fiz e fi-lo na Estónia. Como cineasta penso que antes de ir para Inglaterra só fazia coisas muito negras, os meus filmes era muito negros. Continuam a ser bastante negros, mas fiz quatro filmes em Inglaterra e estes quatro são bastante diferentes, até tentei comédia. Fiz dois filmes leves e dois mais próximos dos meus trabalhos anteriores. “The Confession” é um dos negros.
A mudança mais importante que Inglaterra causou em mim foi a mudança de ambiente. Lá subitamente tinha uma liberdade, uma disposição para arriscar e experimentar mais. Na Estónia nunca me disseram “não podes tentar isto”, ou “não podes experimentar”, mas por alguma razão quando estamos acostumados a um meio, fazemos o nosso serviço e continuamos a faze-lo. Nunca pensamos “e se agora fizesse algo realmente diferente?”. Se calhar o que se passa é que estando num ambiente em que se conhece toda a gente e todos nos conhecem, eles esperam algo concreto de nós, esperam o próximo filme do Tanel Toom porque conhecem o meu trabalho anterior e pensam “ok, este vai ser parecido”. Estando numa cultura em que não nos conhecem, não fazem ideia do estilo de cineasta que somos, temos liberdade para fazer o que nos apetecer. É um bloqueio mental, antes não me diziam “podes fazer isto, não podes fazer aquilo”, mas eu não fazia.
(continua)
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