Cinema
Entrevista com Marcos Bernstein
Durante a pré-estreia de Meu Pé de Laranja Lima em Salvador o Cinema Detalhado teve a oportunidade de bater um papo legal com o diretor do filme e também roteirista de muitos filmes de sucesso o Marcos Bernstein. Por ter sido uma entrevista tão gostosa de fazer e percebi a empolgação do Marcos nas resposta eu preferi não cortar praticamente nada do que ele me falou nesse dia. Segue abaixo a transcrição na integra dessa longa e produtiva entrevista.
Cinema Detalhado: Como foi para você comandar uma nova adaptação de um livro tão conhecido e de tanto sucesso como Meu Pé de Laranja Lima?
Marcos Bernstein: Foi normal. É um livro que já foi adaptado várias vezes, mas em circunstâncias muito diferentes. A ideia por trás desta nova adaptação era poder dar um olhar de hoje em dia sobre essa história tão emocionante e que é tão importante para tanta gente. Então fizemos o projeto com muita empolgação pensando em como poderíamos contar essa história no cinema hoje em dia, mas também com muito carinho e cuidado porque esse personagem e essa história dele tocaram tantas pessoas. Nós também da equipe estávamos animados com a história, com a ideia que tínhamos para o filme e com as possibilidades de trabalhar com essas fantasias do Zezé que é uma coisa que sempre me encantou muito. E de certa forma isso tem muito haver com o que eu faço no dia-a-dia, o Zezé é um contador de histórias. Então tudo isso na verdade sempre foi um estímulo e não um fardo, não tivemos receio de recontar essa história.
CD: Com relação ao elenco a primeira coisa que quero perguntar é relacionado a escolha do José de Abreu para fazer o personagem "Portuga". Ele sempre foi a sua primeira escolha ou vocês trabalharam com outras possibilidades?
MB: Não o "Zé" foi sim uma das pessoas que eu pensei desde o início. Eu até já tinha um roteiro para ele, que é um projeto que ele quer dirigir; então eu já conhecia o Zé e sabia o que ele era capaz. E o personagem também a gente sabia que precisava de uma autoridade , pois ele é uma referência para o menino nessa história. O "Portuga" é uma pessoa sólida que inspira no Zezé confiança e compreensão também. E o Zé tem essa coisa vibrante que é própria dele, mas eu sempre soube também que ele poderia fazer esse lado mais delicado do personagem e ao mesmo tempo mantendo essa autoridade que é natural no Zé. Eu acho que ficou bem legal o resultado porque fora ele ser um grande ator, ele conseguiu passar bem esse lado de ser uma rocha para aquele menino. Ao menos tempo ele conseguiu transparecer todo esse carinho e também o encantamento com essa cabeça desse menino, então ficou muito legal.
CD: Como foi feita a escolha do João Guilherme que ainda é muito jovem e faz o seu primeiro longa metragem para viver o personagem principal, o garoto Zezé? Vocês testaram muitas pessoas para esse papel que é muito importante para a história funcionar bem? Fala um pouco como foi esse processo.
MB: Alguns anos antes de filmarmos de fato esse filme nós fizemos muitos testes para o papel do Zezé. Talvez 200, 300, 400 testes, mas não achamos ninguém que nos empolgasse de verdade. E ai quanto realmente tivemos que escolher um garoto para fazer o papel que foi quando o filme entrou em pré-produção eu me reuni com o Bruno (preparador de elenco) e a ideia é que dessa vez fôssemos mais focados. Então a gente tentou fazer uma pré-seleção buscando já um garoto que tivesse um olhar e uma postura do Zezé, de certa forma começamos a ser mais rigorosos e não fomos testar todo mundo que aparecia. O João foi o sexto teste mais ou menos, depois dele o que foi difícil mesmo foi ter a coragem e aceitar que já no em 6° teste que foi ótimo nós tínhamos encontrado o protagonista do filme. E que não era mais preciso ficar mais testando ou pondo a prova esta escolha. E já que é um filme que fala tanto disso de emoção e encantamento eu tinha que também respeitar também isso na escolha do ator, já que a gente se emocionou e se encantou com esse garoto e ai não tinha porque testar mais 500 outras pessoas para ter certeza que era ele. Ai a gente também teve uma preparação muito legal porque não foi só uma preparação para um filme, foi uma preparação também para ele entender a importância de um set de filmagem e que ele percebesse a importância dele naquela equipe, naquela estrutura. O Zezé esta em todas as cenas do filme, então o João filmou quase todos os dias e o tempo inteiro e então era muito importante ele entender o quanto fundamental ele era nessa engrenagem para que as coisas funcionassem bem e ele é menino muito esperto, pegou logo espírito do set rapidinho. Ele sabia quanto cortava ou quanto não cortava uma cena, então foi muito bom porque as coisas com ele funcionaram sem problemas.
CD: Meu Pé de Laranja Lima é um filme que já esta pronto há algum tempo, eu queria saber o que motivou a vocês a segurarem o lançamento desse longa para o grande público, visto que o filme até se inscreveu em alguns festivais durante esse período. Isso já foi algo pensado desde a época da pré-produção ou foi decidido depois?
MB: Eu acho que nem demorou tanto, o primeiro festival que o filme participou que foi o Festival do Rio foi no final do ano passado. Acho que foi em Setembro. Ah foi Outubro na verdade. E desde lá a equipe sentiu que o filme tinha uma comunicação muito boa com o público. A princípio pensamos até em lançar o filme em Dezembro mesmo, mas depois refletimos melhor e percebemos que era melhor dar um tempo um pouco maior para organizarmos nossas forças e os recursos para lançar ele melhor. Então a gente resolveu esperar um pouco mais e poder lançar o filme com mais cuidado e força. E é o que aconteceu. Felizmente não tivemos nenhuma contratempo ou nada parecido, o lançamento foi feito agora por causa de uma escolha nossa mesmo. Desta forma, tentamos aproveitar ao máximo do tempo para fazer as parcerias certas e lançar o filme da melhor maneira possível. Era uma filme que poderia ter um lançamento menor (em números de sala), mas agora vai ter um tamanho médio. O que vai gerar uma coisa bem bacana, permitindo que todo mundo tenha acesso ao filme e talvez se tivéssemos corrido para lançar no ano passado o resultado não seria esse.
CD: Eu sou um fã de obras documentais e tem na sua biografia um documentário bem bacana sobre uma das paixões brasileiras que é a Formula 1, me fala um pouco deste filme e se você tem planos para novamente fazer uma produção deste gênero.
MB: Documentário é algo que me interessa sim, mas sei lá é uma parte. Eu tenho 11 longas como roteirista (ele cita os principais Central do Brasil, Terra Estrangeira e Chico Xavier) inclusive nos próximos meses tem dois filmes que eu escrevi que vão entrar em cartaz: Somos Tão Jovens e Faroeste Caboclo (ambos filmes baseados na vida e obra de Renato Russo vocalista do Legião Urbana). Na verdade a ficção sempre foi o meu foco principal. É maneira fazer documentário. Foi algo que surgiu e depois cresceu naturalmente fruto de algumas parcerias com pessoas que queriam fazer documentários e ai eu acabei me interessando e fui fazendo alguns. Eu comecei fazendo roteiros, teve o do documentário sobre o Pierre Verger (fotógrafo e etnólogo francês radicado na Bahia) e depois um outro sobre os Filhos de Gandhy (tradicional bloco afro de Salvador). Dois documentários baianos feitos pela Conspiração Filmes e por causa disso eu vim muito para Salvador para pesquisar. Depois disso que eu fui fazer o documentário sobre a Formula 1, o A Era dos Campeões. Esse foi um projeto que eu sempre quis dirigir, era um desejo meu mesmo. Enquanto eu fazia uns projetos de ficção eu me associei ao Cesario de Mello Franco que foi quem comandou esse projeto junto comigo. Então foi legal porque nós dois tínhamos essa paixão pela Formula 1. Começamos a fazer o documentário mais ou menos na época que o Rubens Barrichello entrou na Ferrari. A ideia inicialmente era seguir os brasileiros na Formula 1, mas foi se solidificando em um documentário que era sobre a história da Formula 1 e dos brasileiros na categoria só que contada por eles mesmo. E ai nós fomos descobrindo o filme ao longo desse processo, acho que talvez isso seja a coisa que mais me encanta em fazer documentários. Talvez isso acontece com muito mais força que em uma filme de ficção que até tem essa coisa de ir descobrindo o filme também mas de uma maneira muito mais internalizada. E ai o que acontece é que quando você faz um documentário a medida que você vai fazendo pesquisa, que acontecem as filmagens e você vai editando tudo você termina descobrindo um novo filme. E isso é muito sedutor e muito bacana porque você tem um contato com o que é real também.
Tem também um documentário que eu dirigi com o nome de A Praia. Ah, é Domingo na Praia o título. Foi um filme que começou como um documentário antropológico sobre a praia com o o Roberto da Matta que é um dos maiores antropólogos do Brasil. Mas ao longa da produção aconteceu essa coisa de descobrir o filme que é algo comum que ocorre quando você faz uma documentário. Ai eu comecei a me questionar o quanto interessante seria fazer um filme antropológico sobre a praia e ele (o Roberto da Matta) querendo ser cada vez mais antropológico e ai eu comecei a achar que seria interessante mudar o foco desse documentário e falar mais sobre a praia. A possibilidade de uma documentário é também falar sobre ele né, sobre o tema. Então acabou que virou um documentário também sobre essa nossa discussão sobre a possibilidade de se fazer um documentário antropológico sobre a praia. E ao longo dessa nossa jornada nós vamos discutindo e falando sobre esse documentário que foi proposto inicialmente.
CD: Eu queria saber quais sãos os seus próximos planos no cinema nos próximos anos. Já tem algum outro longa para dirigir em mente?
MB: Fora os filmes que vou lançar esse ano, tem algumas coisas para televisão também, porque eu faço muita coisa sobre televisão. Mas tem muito mais coisa que pode sair também com relação a cinema, tem três longas de ficção que eu estou captando (em fase de pré-produção buscando parcerias para fechar o orçamento). Talvez no próximo ano eu já comece a dirigir um próximo longa que tem o título de Todo Amor que é outro gênero. Então tem bastante coisa ai por vir mesmo.
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