Direção: Jorge Durán Roteiro: Dani Patarra, Jorge Durán Elenco: Cauã Reymond, Simone Spoladore, Ângelo Antônio, Fabiula Nascimento, Victor Navega Motta, Rogério Fróes, Babu Santana, Maria Ribeiro Fotografia: Luis Abramo Música: Diego Fontecilla, Christian Schmidt Direção de arte: Valéria Costa Edição: Gabriel Durán Produção: Gabriel Durán, Jorge Durán Distribuidora: Pandora Estúdio: El Desierto Filmes Duração: 100 minutos País: Brasil Ano: 2010 COTAÇÃO: ENTRE O REGULAR E O BOM
A opinião
O título ?Não se pode viver sem amor? do novo longa do diretor Jorge Durán acontece quando um personagem diz a frase homônima no contexto que aborda a narrativa em tom de realismo fantástico. Logo de início, o espectador a direção pretendida. As forças da natureza tornam-se elementos interativos à trama. A tempestade indica o desejo interior à proteção. Quando o menino abraça a árvore, ele sente que se sair dali, problemas e reviravoltas acontecerão. A sensibilidade assemelha-se a premonições, o tornando um profeta do novo tempo. O amadorismo das cenas, incluindo as suas interpretações, mitigam a naturalidade dos momentos, optando, propositalmente, em expôr a percepção da representação ? e da encenação.
É um realismo editado. A história fornece a data, 23 de Dezembro. Próximo ao Natal, Gabriel - metáfora ao anjo católico que avisou Maria de uma nova vida - (Victor Navega Motta), de 10 anos, e Roseli (Simone Spoladore), de 30 anos, chegam ao Rio de Janeiro para encontrar o pai do menino, que os abandonou anos atrás. Nessa noite, a travessia deles na cidade desconhecida os leva a encontrar João (Cauã Reymond), jovem advogado desempregado e apaixonado, que procura uma solução desesperada que melhore sua vida; Pedro (Ângelo Antônio), pesquisador universitário, que precisa decidir entre uma mulher e sua profissão; Gilda (Fabiula Nascimento), dançarina de boate, que deseja ir embora da cidade, mas ainda está presa a felicidade que um dia deixou escapar.
Todos eles estão vivendo situações limites e buscam a felicidade nos seus próprios e confusos quereres. As histórias paralelas seguem um roteiro linear e observador. Aos poucos inclui novos elementos, mas é prejudicado por escolher lançá-los todos de uma vez. Cada um vivencia uma história, que tem como base o sofrimento e o desejo de uma vida melhor. ?Embora de tudo?, diz-se. Misturam-se amargura, resignação, sonhos e conhecimento da atual situação. O filme é rodado no Rio de Janeiro, retratando a Praça XV, Palácio Tiradentes, Academia Brasileira de Letras, Uruguaiana, Estácio, Presidente Vargas, entre outros. O diretor transpassa um universo subterrâneo da alma, porém prefere não aprofundar (apenas na superfície). Os diálogos não convencem.
Utilizam o tom melodramático teatral e linguagem da fala antiga, sem gírias atuais. Isso pode significar atemporalidade das características individuais ? que se comportam da mesma forma independente da época apresentada. Os textos explicam demais, falando muito sobre a banalidade existencial das coisas. A mensagem quer ser tudo, talvez para agradar gregos e troianos. Busca o moralismo e a quebra do mesmo. Não há equilíbrio. ?É como mergulhar no escuro?, diz-se. Há evangélicos e tentativa de assalto (Cauã Reymond está incrível, como sempre). O elo de ligação fica por conta da personagem de Simone e do seu filho ?anjo? (este imprime afetação exagerada, gerando um efeito ruim de absorção).
A história embasa-se no acaso que desperta digressões, flashbacks e epifanias, mudando o rumo das consequências, não sem antes incluir novos elementos. Em determinado momento, o lado espiritual e oculto fica mais visível. Várias vertentes religiosas tentam explicar o inexplicável. Outro ponto que quebra a direção do filme. Deseja-se uma nostalgia perdida e sem direção (lugares vazios, escuros e sem pessoas). Se visualizarmos por este ponto de vista, muito da trama é traduzida a quem assiste. Gabriel é o super-herói do nosso tempo. Invoca o vento para a proteção, o fogo para salvar a mãe ? e a prostituta, a chuva a fim de limpar a alma física.
A sua imaginação prenunciada ganha vida. ?É tão difícil ficar junto com alguém, não acha??, diz-se. Concluindo, um filme com muitos altos e baixos que incomoda pela falta da naturalidade e pelo excesso de elementos narrativos inseridos. Como sempre, Simone Spoladore está digna e entregue. Ela está em vários filmes em cartaz. Como essa menina gosta de trabalhar? É difícil definir a conclusão do longa. A perda do foco da história talvez seja uma ideia do roteiro, talvez um erro, talvez algo sem importância. Então, uma recomendação ao espectador: veja o filme! Assim poderá ajudar este blog na definição pretendida. Vencedor do CINE PE - FESTIVAL DO AUDIOVISUAL no Prêmio Especial do Júri e FESTIVAL DE GRAMADO nas categorias de Melhor Atriz - Simone Spoladore, Melhor Roteiro e Melhor Fotografia.
O Diretor
Nascido no Chile e radicado no Brasil desde 1973, Jorge Durán assina a direção e a história original de ?Não se pode viver sem amor?, filmado em 2009, no Rio de Janeiro. Esse é o segundo filme que Durán dirige depois de um período de quase vinte anos voltado para produção de roteiros. Em 2006, lançou o longa ?Proibido proibir?, premiado internacionalmente. Seu primeiro longa, ?A cor do seu destino? (1986), foi exibido no Festival de Berlim, em 1987 e foi o grande vencedor do Festival de Brasília, em 1986, com os seguintes prêmios: melhor filme, melhor diretor, melhor roteiro, melhor ator coadjuvante (Chico Diaz), melhor atriz coadjuvante (Júlia Lemmertz) e o prêmio da crítica. Como roteirista, tem em seu currículo filmes como ?Lúcio Flávio, o passageiro da agonia? (1977), ?Pixote, a lei do mais fraco? (1981) e adaptação para roteiro de ?O beijo da mulher-aranha? (1985), os três dirigidos por Hector Babenco, ?Gaijin, caminhos da liberdade? (1980) e ?Gajin, ama-me como sou? (2005), de Tizuka Yamasaki . Além de ?Nunca fomos tão felizes? (1984) e ?Como nascem os anjos? (1996), ambos de Murilo Salles, ?Jogo subterrâneo? (2004), de Roberto Gervitz, ?O sonho não acabou? (1982) e ?Doida demais?(1989), de Sergio Rezende, e ?Quem matou Pixote?? (1996), de José Joffily. Para televisão, Jorge Durán já escreveu episódios para as séries ?Mulher? (exibido entre 1998 e 1999) e ?A Justiceira? (1997), além de ter sido foi co-roteirista de ?Amazônia ? De Galvez a Chico Chavez? (2007), todas da TV Globo. A Matéria do diretor foi realizada pelo próprio site do filme.
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