O Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental de São Paulo (Conpresp) tombou o espaço interno do tradicional cine Ipiranga, localizado na avenida de mesmo nome, na capital. O local foi fundado em 1943 e viveu os grandes momentos dos cinemas de rua na região central. Fechou em 10/02/2005 e encontra-se fechado e sem previsão de reabertura.
A parte externa do cine Ipiranga já havia sido tombada pelo Conpresp. O prédio é um projeto do arquiteto Rino Levi, que realizou na cidade outras obras famosas, como a sede do Teatro Cultura Artística, que pegou fogo em 2008. "É importante preservar o cine Ipiranga porque é um projeto do Rino Levi, que representa bem a obra dele. Além disso, é um cinema bem resolvido e inovador", diz o presidente do Conpresp, o arquiteto José Eduardo de Assis Lefèvre.
O espaço está intacto desde o fechamento, em 10/02/2005. O aspecto "inovador" do cine Ipiranga está principalmente na disposição da tela e no acesso do público. "Ao contrário dos outros cinemas e casas de espetáculos, a tela está colocada na direção da rua e as pessoas entram passando por baixo da plateia", diz Lefèvre.
O espaço tem capacidade para cerca de 1100 pessoas. Um dos pontos que vai precisar ser modificado ou pelo menos adaptado diz respeito à quantidade de salas de exibição. O projeto original contemplava uma única sala, mas depois de algumas décadas o local foi adaptado para ampliar os ganhos, pois poucos filmes lotavam a casa e havia a oportunidade de realizar duas exibições ao mesmo tempo. "Duas salas poderão existir, desde que haja possibilidade de se manter o projeto original, talvez usando painéis removíveis", diz o relator do processo de tombamento, o arquiteto Vasco de Melo, representante do Instituto dos Arquitetos do Brasil (IAB) no Conselho.
Com o tombamento, o Conselho preserva um exemplar de arquitetura moderna da chamada "Cinelândia paulistana" (área perto da Avenida São João, entre o Largo do Paissandú e a Avenida Duque de Caxias, que entre as décadas de 1940 e 1960 reuniu mais de 20 salas de cinema). Pouco a pouco, alguns espaços são revitalizados, como o cine Olido e o Marabá, mas a maioria dos outros cinemas acabaram mesmo se transformado em estacionamento, igreja ou cinema pornô.
Texto de Renato Machado e Vitor Hugo Brandalise publicado no jornal ?O Estado de S.Paulo?, de 07/10/2009.