Os fãs de cinema terão a oportunidade para acompanhar em directo a tão aguardada entrega das estatuetas douradas, numa cerimónia que, embora misturando grande artifício com momentos de qualidade duvidosa, continua a surpreender a marcar o ritmo do ano cinematográfico. O apresentador será, pela segunda vez, Jon Stewart ? algo que, em ano de greve de argumentistas parece ser uma escolha explosiva. A cerimónia de entrega dos OSCAR marca o final do ano cinematográfico e, com isso, uma intensa discussão em torno das escolhas feitas pela Academia. A verdade, porém, é que a Academia de Hollywood parece estar a abandonar um certo conservadorismo que a caracterizava, começando a privilegiar a escolha de produções mais intimistas e com menor orçamento, em detrimento do formato blockbuster e afins. Este ano é prova disso, com filmes tão diversos como
There Will Be Blood, No Country For Old Men ou, mais surpreendentemente,
Juno e
O Escafandro e a Borboleta. É notória a ausência de algumas das grandes produções de 2007, como
Transformers,
Spider Man, a recuperação de
Die Hard, o mega sucesso de bilheteira
Piratas das Caraíbas ou
Harry Potter (não que tivessem qualidade para tal). Contudo, as escolhas da Academia para as nomeações continuam a causar algum debate: repare-se na ausência de
American Gangster (apenas representado nas principais categorias por Ruby Dee), de
Eastern Promises na categoria de Melhor Filme ou mesmo a de Angelina Jolie por
A Mighty Heart na categoria de Melhor Actriz Principal. Confirmando-se no entanto esta tendência das escolhas da Academia recaírem em produções de menor orçamento, surgem no entanto algumas questões relativamente ao método de distribuição dos filmes. Sendo os nomeados deste ano produções ? teoricamente ? menos apelativas para o grande público, as distribuidoras de cada país começam a planear os lançamentos mais tardiamente, ansiando por aproveitar o efeito "oscar", de forma a dinamizarem as audiências. Um erro em que a distribuição extra-EUA cai, fazendo com que os principais candidatos aos prémio da edição deste ano ainda não tenham sequer chegado ao nosso mercado ou que cheguem primeiro aos grandes centros ? Lisboa, Porto. Foi assim com
There Will Be Blood e
Juno, estreados apenas em 14 e 21 de Fevereiro respectivamente, é assim com
No Country For Old Men ? a estrear no Fantasporto em 25 de Fevereiro. Com este atraso nas estreias, opção exclusiva das distribuidoras, que aproxima a estreia no cinema e o lançamento do DVD, é natural que se crie a ilusão de que as receitas de box-office estão a decrescer e que o público de cinema começa a diminuir e a ter faixas etárias bem mais reduzidas ? o público cinéfilo (não somos assim tão poucos!) começa a deixar de querer ir às estreias, já que quando acontecem já passou todo um ambiente em relação ao filme. A experiência "cinema", quanto a mim, perde-se.
Sendo agora hora de festa para o cinema, valha-nos o prazer dos prémios, da passadeira vermelha, da magia das estrelas e do mediatismo (por vezes balofo) de tudo o que rodeia Hollywood. As escolhas este ano são difíceis, de tão variadas que são. Uma variedade que pode muito bem ser simbolizada pela nomeação de
Persepolis (Marjane Satrapi) para a categoria de Animação. Um filme animado, mas negro, intenso, que toca em questões políticas e humanas ao mesmo tempo. Essa intensidade narrativa, misturada com o próprio conceito de animação, pode caracterizar os restantes nomeados para as principais categorias ? filmes e representações intensas, fortes, tópicos que vão ao interior do ser humano e nos tocam profundamente. Os favoritos (dados como vencedores inatacáveis), esses, parecem ser
No Country For Old Men, dos irmãos Coen (creditados juntos pela primeira vez), para a categoria de Melhor Filme ou Daniel Day Lewis para Melhor Actor, apesar de Roger Erbert, por exemplo, ver em
Juno ou em
Michael Clayton bons "outsiders". Nas restantes categorias, parece ser difícil o prognóstico. Aqui fica uma pequena reprodução dos principais premiados ao longo do ano:
National Society of Film Critics:
Realizador - P.T. Anderson
Actriz: Julie Christie
Actor: Daniel Day-Lewis
Melhor Filme: There Will Be Blood
Associação de Críticos de Chicago:
Realizador: Joel e Ethan Coen (No Country For Old Men)
Actriz: Ellen Page, por Juno
Actor: Daniel Day-Lewis
Melhor Filme: No Country For Old Men
Associação de Críticos de San Francisco:
Realizador: Joel e Ethan Coen
Actriz: Julie Christie
Actor: George Clooney
Filme: There Will Be Blood
Associação de Críticos de Los Angeles:
Realizador: P.T. Anderson
Actriz: Marion Cotillard
Actor: Daniel Day-Lewis
Filme: There Will Be Blood
National Bord of Review:
Realizador: Tim Burton
Actriz: Julie Christie
Actor: George Clonney
Filme: There Will Be Blood
Globos de Ouro:
Realizador: Julian Schnabel
Filme (Drama): Atonement
Filme (Comédia-musical): Sweeney Todd
Actor (drama): Daniel Day-Lewis / Actriz (drama): Julie Christie
Actor (Comédia-musical): Johnny Depp / Actriz: Marion Cotillard
Actor Secundário: Javier Bardem / Actriz Secundária: Kate Blanchett
BAFTA
Filme: Atonement
Actor: Daniel Day-Lewis
Actriz: Marion Cotillard
Actor Secundário: Javier Bardem / Actriz Secundária: Tilda Swinton
Realizador: Joel e Ethan Coen
Associação de Actores da América:
Melhor Elenco: No Country for Old Men
Actor: Daniel Day Lewis
Actriz: Julie Christie
Actor Secundário: Javier Bardem / Actriz Secundária: Ruby Dee
Associação de Realizadores da América:
Realizador: Joel e Ethan Coen
Associação de Produtores da América:
Filme: No Country for Old Men
Melhor Filme de Animação: Ratatouille
Juntando tudo isto, temos então os ingredientes perfeitos para uma madrugada (em Portugal) bem passada. De referir ainda que hoje são entregues os
"Independent Free Spirit Awards", cerimónia que distingue os melhores filmes de produção independente.
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