"(500) Days of Summer" por Nuno Reis
Cinema

"(500) Days of Summer" por Nuno Reis


Não fosse a mensagem bem clara logo ao início e seria a comédia romântica mais infeliz de sempre. A única coisa que iliba “(500) Days” é ser muito claro logo ao início, dizendo que não é desse tipo de filmes. Rapaz conhece rapariga, costuma evoluir para rapaz consegue rapariga, mas o desfecho não tem de ser o clássico final feliz. Independentemente de quantos dias passaram juntos, não se pode ter a certeza de terem criado algo eterno.
Comecemos pelo spoiler. Pode ter esse nome quando é dentro do filme? Talvez seja compreensível num drama como vimos em “Lemony Snicket’s Series of Unfortunate Events”, mas quando um filme romântico começa por dizer que não vai acabar bem não está a afugentar o público-alvo? Pelo contrário. Por um lado, sabendo que aqueles 500 dias serão tudo o que se terá, são melhor aproveitados. Por outro dá para procurar ingloriamente as falhas na relação. Sim, porque aqui não foram erros cometidos por alguém, simplesmente acabou.

Os 500 dias estão sensivelmente cortados a meio. Até aos duzentos e pouco corre tudo bem, depois começa a azedar e subitamente acaba. Chega a parte de lidar com isso. É nesse ponto que começa a narrativa: com o “porquê?” que assombra o homem abandonado (o filme é todo contado pela perspectiva dele). Os dias iniciais e finais vão sendo alternados mostrando como as mesmas coisas feitas por ele em diferentes dias têm uma reacção diferente por parte dela. Como a relação se vai desmoronando. Não são mostrados 500 dias, talvez 50, há momentos chave que se perderam, mas seria precisa toda uma série para conhecer a fundo esta relação. Deixar em aberto é simpático, permite que cada um imagine que foi como alguma relação falhada que teve no passado.

É difícil não sentir pena de Tom, mas sempre achando que está a exagerar. Essa é a opinião de Rachel (Chloe Grace Moretz) e aquilo que todos os que estão de fora pensam daqueles que estão arrebatados pelo amor. Quem estiver a passar pelo mesmo provavelmente terá imensa simpatia. Quanto a Summer não conhecemos a versão dela por inteiro. Só o que partilha com Tom para que ele não se sinta tão mal. A opinião que se forma de Summer confunde-se com a que se tem da actriz. Ou se ama ou se odeia, por vezes ambos. Tanto se pode achar uma das personagens mais fascinantes do cinema como alguém que não merece ser amado. Essa dualidade causada é a prova de como a personagem está bem construída, permitindo que seja avaliada como uma pessoa real.

O filme tem tanto de belo como de deprimente. Ao vê-lo da primeira vez é fácil ficar num estado misto de surpresa e desilusão. Com o passar do tempo a melancolia dá lugar a uma profunda admiração pela ousadia com que distorce as normas do romance e no fim da assimilação mesmo os momentos cheesy (que não faltam) são perdoados pelo todo.

(500) Days of SummerTítulo Original: "(500) Days of Summer" (EUA, 2009)
Realização: Marc Webb
Argumento: Scott Neustadter, Michael H. Weber
Intérpretes: oseph Gordon-Hewitt, Zooey Deschanel
Música: Mychael Danna. Rob Simonsen
Fotografia: Eric Steelberg
Género: Comédia, Drama, Romance
Duração: 95 min.
Sítio Oficial: http://www.foxsearchlight.com/500daysofsummer/



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