"The Kingdom" por António Reis
Cinema

"The Kingdom" por António Reis


The Kingdom – o ocidente já perdeu a guerra

O local é Arizona como cenário de deserto para recriar Riade. Com excepção de um hotel e de alguns exteriores filmados nos Emiratos Árabes Unidos, tudo é genuinamente falso, porque o Reino nunca autorizaria um filme tão crítico do seu regime. Comecemos pelo início. Em dois minutos num genérico de espantoso design gráfico passa-se em revista a história de origem, desenvolvimento, apogeu e crises, que fizeram do deserto inóspito de Lawrence da Arábia no mais rico manancial de ouro negro.
Na tradição do melhor cinema liberal de Hollywood “O Reino” retoma uma das mais embaraçosas facetas da política externa norte-americana – a aliança contranatura de uma democracia ocidental com um reino corrupto, autocrático e fundamentalista que é a Arábia Saudita dos nossos dias. O núcleo da história analisa os atentados contra interesses e cidadãos americanos no reino, a meticulosa preparação dos terroristas e a resposta de agentes do FBI que vão a Riade tentar descobrir o mentor do espectacular atentado, um fantasma chamado Abu Hazam a quem os sauditas em surdina consideram um Robin dos Bosques que quer libertar as areias muçulmanas dos opressores norte-americanos. Ainda que oscile entre a vida privada dos agentes e a acção no terreno e não se perceba o interesse narrativo ou de definição psicológica dos personagens que esses traços familiares pretendem revelar, ainda que o filme hesite na óbvia constatação de que a Arábia Saudita está em estado de guerra, ainda que o realizador se deixe extasiar pelo cenário de guerra transformando agentes do FBI em autêntico comandos de elite em combate, “O Reino” tem manifestos motivos de interesse que o tornam um dos filmes mais relevantes da temporada de outono. Além do genérico já citado, que é por si só uma obra prima em curta-metragem, a filmagem em câmara à mão dá ao filme uma vivacidade estonteante e um realismo quase documental.

Para finalizar, como cinema é um grande espectáculo. Como reflexão é perturbador. Os terroristas têm valores mais sólidos e espalham-se pela população com a velocidade dos ventos do deserto. A guerra para o ocidente está perdida. Abu Hazam pode morrer que não faltam herdeiros a reclamar a sua herança. Seria bom que se apostasse nas energias alternativas porque o Reino do petróleo está perto do fim.






Título Original: "The Kingdom" (EUA, 2007)
Realização: Peter Berg
Argumento: Matthew Michael Carnahan
Intérpretes: Jamie Foxx, Jennifer Garner, Chris Cooper, Jeremy Piven
Fotografia: Mauro Fiore
Música: Danny Elfman
Género: Acção/Drama/Thriller
Duração: 110 min.
Sítio Oficial: http://www.thekingdommovie.com/



loading...

- Crítica: O Príncipe Do Deserto (black Gold/2011)
O diretor francês Jean-Jacques Annaud é daqueles realizadores que trabalha pouco, a maioria de seus trabalhos são bem espaçados, tendo na década de 80 os seus principais feitos (A Guerra do Fogo, O Nome da Rosa e O Urso). O que mais chama a atenção...

- "invasor" Por António Reis
António Reis em Sitges fala-nos de alguns dos filmes exibidos. O Iraque entra no cinema espanhol Sabendo-se oque as guerras do Vietname e do Iraque fizeram pelo cinema norte-americano, não é de espantar que Espanha quisesse também ter o seu "The...

- "green Zone" Por Nuno Reis
Após o enorme sucesso da trilogia Bourne, Paul Greengrass, realizador dos dois últimos capítulos, e Matt Damon, o protagonista, reencontram-se neste filme de guerra. O argumento vinha das mãos de Brian Helgeland que tão depressa faz um "Mystic River"...

- "fair Game" Por António Reis
Fair Game - por uma política de verdade Os grandes conflitos são para os cineastas dos Estados Unidos, uma fonte preciosa de inspiração. Foi assim na Segunda Guerra Mundial, No conflito do Vietname e, mas recentemente, no Iraque. A última década...

- "bal-can-can" Por Nuno Reis
Esta noite, no FEST Os Balcãs são um cenário comum para filmes sobre guerra, crueldade e genocídio. Com o passar do tempo a indústria cinematográfica local começou a retratar outro lado do país. Este “Bal-Can-Can”, co-produção da Macedónia...



Cinema








.