Crítica: O Príncipe do Deserto (Black Gold/2011)
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Crítica: O Príncipe do Deserto (Black Gold/2011)




O diretor francês Jean-Jacques Annaud é daqueles realizadores que trabalha pouco, a maioria de seus trabalhos são bem espaçados, tendo na década de 80 os seus principais feitos (A Guerra do Fogo, O Nome da Rosa e O Urso). O que mais chama a atenção em sua filmografia é o apreço por filmes de caráter épico. Annaud não tem sequer um trabalho cometido em âmbito urbano. As suas realizações são repletas de coadjuvantes, tomadas aéreas majestosas (como a do inicio de Circulo de Fogo) e personagens principais, que em meio a situações de conflito, se envolvem em romances improváveis. O cinema de Annaud é perfeito para superproduções pomposas, daquelas com muitos minutos e caráter edificante. Estranho é perceber como a obra aqui em evidência, o mais recente O Príncipe do Deserto, tenha sido praticamente ignorado pela critica e público. Digo isso, porque o filme tem todas as características para ser simpático a uma audiência mais abrangente, mas como o cinema comercial passa por uma entressafra, é mais certo afirmar que a sua publicidade tenha sido mal feita.

A trama de O Príncipe do Deserto nos situa na Arábia Saudita, começo do século 20. Se enfrentando por anos (por diversos motivos, desde religião até por terras) dois monarcas do deserto, Emir Nesib (Antonio Banderas) e Sultan Amar (Mark Strong), decidem por uma trégua. Como Emir sobrepujou Amar em um combate, é dele a palavra final do tratado. Para deixar o Reino de Sultan em paz, Emir decide que deve ficar com a dupla de filhos do seu oponente. Amar reluta, mas aceita a proposta, porque havia mais coisas em jogo, principalmente o seu sofrido povo, a qual ele trata com muito respeito. Definido os pontos iniciais, saltamos no tempo 15 anos e agora estamos presenciando a ascensão do Reino de Emir através do petróleo, que começa a ser explorado pelos americanos do Texas nos anos 30. O Rei logo se torna o político mais influente da região, mas Amar é contra suas imposições, principalmente por envolver uma área no meio do deserto, conhecida como ?zona amarela?. Nas condições da antiga trégua, a zona amarela deveria ser de livre transito, sem um dono definido, mas a abundancia do recém descoberto ?ouro negro? faz o ganancioso Emir repensar sobre aquelas condições.

A essa altura, os filhos de Amar já são adultos e mesmo vivendo mais de uma década sobre o teto de Emir, não lhe consideram como pai. Um deles é o guerreiro Saleeh (Akin Gazi) o outro, Auda (Tahar Rahim), um mero bibliotecário do reino. Emir tem uma filha de sangue, a princesa Leyla (Freida Pinto). De fato, o único que poderia atrapalhar os planos do ambicioso Emir, era o seu oponente Amar. Em uma manobra para tentar unir os reinos, Emir faz com que Leyla se case com Auda, o que ele não esperava é que os dois realmente pudessem se amar. Após a cerimônia, Emir não tarda a enviar Auda de volta ao reino de seu distante pai, para assim convencê-lo de uma aliança. O príncipe Auda não recebeu criação do pai e não tinha a menor noção de quem o esperava. Ao chegar à sua cidade de origem, percebe que seu pai é um homem de caráter, afeiçoado as antigas tradições, mas desprovido de ganância. Sultan Amar deixa isso bem claro quando diz que nada que possa ser conseguido com dinheiro deve valer a pena. Auda fica admirado pelas aspirações naturalistas do pai e decide se colocar contra Emir. Pronto, com as posições definidas, fica insustentável a formação de uma iminente guerra. Porém, seria Auda, um mero bibliotecário, capaz de liderar um exercito de homens pelas areias mortais do deserto contra os bem armados soldados de seu sogro? E o amor que sente pela princesa Leyla, vai perdurar diante das suas escolhas?

A obra de Annaud, se para a primeira perguntar, ela traz uma resposta com bastante propriedade, para a segunda, deixa uma resolução bem simples. Em O Príncipe do Deserto, o romance não é o eixo principal, apesar de parecer ter sido uma escolha feita na sala de edição. O filme parece ter sido aparado até poder ter uma história concisa dentro de seus 130 minutos de projeção. Se por um lado, as nuances de relações paternais e fraternais são bem desenvolvidas, por outro, a personagem da linda Freida Pinto parece apenas um adorno para a produção, sendo ainda esquecida em boa parte da trama. Imperfeições a parte, é importante salientar as vistosas seqüências de ação, com tomadas aéreas impressionantes (especialidade já citada do diretor) e tensão e emoção trazidos na medida para o calor da batalha. O príncipe Auda de Tahar Rahim (o mesmo de O Profeta) passa por mudanças criveis e pertinentes ao desenvolvimento da história, comprovando o talento desse ator, que por ter características físicas marcantes da sua etnia, talvez fique relegado de bons papeis. Antonio Banderas também criva uma boa atuação, mas quem rouba a cena é Mark Strong, um ator que aqui foge dos papeis de vilão que lhe tem sido oferecidos e mostra que também pode representar com talento personagens de boa índole.

O Príncipe do Deserto ainda poderia ir mais a fundo na trama da exploração do petróleo e mostrar como desde sempre os americanos foram propulsores dos conflitos que perduram até hoje naquela região. Porém, como uma produção hollywoodiana, é compreensível que esse não seja o foco. Como ele é delineado, até pela bela fotografia e trilha sonora imponente, nos remete aos bons filmes clássicos de deserto e por isso, já vale a conferida. De preferência na tela grande da sala escura.






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