"The Time That Remains" por Nuno Reis
Cinema

"The Time That Remains" por Nuno Reis


O conflito israelo-palestino é suficientemente antigo para quem ninguém saiba os motivos exactos porque começou. É também tão demorado que já poucos estarão preocupados com o desenlace, ambos perdem a razão quando passa de geração. No entanto é uma guerra numa zona tradicionalmente rica pela ligação estratégica entre dois continentes. Jerusalém é o centro do mundo, não por ideologias religiosas, mas simplesmente pela localização geográfica. Todos os grandes chefes militares conquistaram a cidade para servir de ponto que garantia o abastecimento do exército. Além disso era uma portagem bem lucrativa (desde inícios do século XIII, talvez a mais antiga do mundo). O mundo está atento ao que se passa.

Elia Suleiman tem uma carreira curta. Em meia dúzia de filmes, muito focados no Golfo e na Palestina. A obra com que começou a dar nas vistas, "Chronicle of a Disappearance" é precisamente sobre o país que encontra depois de uma longa estadia em Nova Iorque. Agora volta aos prémios e contando a sua vida. A guerra e o país começam em 1948. Essa parte é história. Tudo o resto é o retrato de uma vida marcada pela guerra, pelo exílio, pela tortura. Não tem o discurso padrão dos políticos que tentam impor a sua versão. Ele conta como o povo viu os acontecimentos, como as pessoas ficaram afectadas (o vizinho é um retrato tortuoso disso), como se cai em extremos (um tanque a seguir um homem enquanto o mesmo leva o lixo para a porta). Sim, fala dos exilados, dos fabricantes clandestinos de armas, dos fuzilamentos, da guerra que os rodeava. Mas é a própria vida que está a contar, também fala do ensino, da família.

Tem traços de comédia melancólica, de drama, de documentário. É um filme que obriga a uma preparação prévia para compreender totalmente, e muita atenção para apreender. Talvez se o mundo começasse a ver os indivíduos afectados, em vez de ouvir um mero número de vítimas e desalojados fizesse algo para acabar com as guerras. "Imagine all the people/Living life in peace..."

: "The Time That Remains" (Béligica, França, Itália, Reino Unido, 2009)
Realização: Elia Suleiman
Argumento: Elia Suleiman
Intérpretes: Elia Suleiman, Ali Suleiman, Saleh Bakri, Amer Hlehel
Fotografia: Marc-André Batigne
Género: Drama
Duração: 109 min.
Sítio Oficial: http://www.letempsquilreste-lefilm.com/



loading...

- Crítica ? The Time That Remains (2009)
Realizado por Elia Suleiman Com Elia Suleiman, Saleh Bakri, Amer Hlehel Nomeado para a Palma de Ouro, que não recebeu, este último trabalho de Elia Suleiman é uma obra semi-autobiográfica assente nos registos da sua própria família sobre a condição...

- "the Lady" Por Nuno Reis
Nascida e criada em Burma, Suu há muito que se tinha tornado inglesa e quase esquecido as suas origens. A doença da mãe fê-la voltar numa altura conturbada e o massacre de 8-8-88 fê-la ficar. Estava no hospital a tratar da mãe quando começaram...

- Discurso Luís Galvão Teles
Deixo-vos um excerto do discurso de agradecimento do realizador português que foi homenageado nesta edição. O Fantasporto decidiu atribuir-me, na sua 30ª edição, este prémio de carreira. E pergunto-me - eu que sempre fugi do carreirismo - qual...

- "the Hurt Locker" Por Nuno Reis
Em cenário de guerra um soldado tem de confiar a vida aos colegas. Cada um fará exactamente o que lhe mandam de forma a minimizar os riscos para si e para os que o rodeiam. Na guerra moderna as ameaças não são diferentes, são apenas mais. Se antes...

- "waltz With Bashir" Por Ricardo Clara
Coincidências à parte, estrear um filme que procura redimir consciências sobre o papel da Força de Defesa Israelita (IDF) nos massacres de palestinianos, perpretados nos campos de refugiados de Sabra e Chatil, numa altura em que Israel bombardeia...



Cinema








.