Crítica - Sicario (2015)
Cinema

Crítica - Sicario (2015)


Realizado por Denis Villeneuve
Com Emily Blunt, Benicio del Toro, Josh Brolin

Uma vez mais, Denis Villeneuve prova ao mundo que é de facto um dos realizadores mais competentes e capazes da atualidade em Hollywood. Um mais comercial e violento "Sicario" prova-o da mesma maneira que os mais negros e independentes "Enemy" (2014), "Prisoners" (2013) ou "Incendies" (2011) provaram no passado, mas talvez seja com esta obra que Villeneuve conseguirá finalmente alcançar o reconhecimento que merece por parte do público, já que a crítica especializada já se rendeu há muito tempo a este brilhante cineasta canadiano. E poderá não ser apenas o público a ficar finalmente entusiasmado e rendido a Villeneuve, já que a Academia poderá finalmente aproveitar "Sicario" para consagrar merecidamente o trabalho de Villeneuve com, pelo menos, algumas nomeações de destaque aos Óscares e, sim, estou a falar de uma nomeação ao Óscar de Melhor Filme. Até ao momento, "Sicario" é um dos melhores filmes do ano e atendendo ao seu tema tem, para mim, todo o potencial necessário para convencer o Público e a Academia a darem-lhe uma oportunidade comercial e dourada, respetivamente. É claro que especular e potencializar é fácil, mas por tudo o que nos oferece e pela sua clara qualidade, poucos serão aqueles que poderão negar abertamente que "Sicario" não seja, pelo menos, digno de uma candidatura séria à época de prémios ou então a um visionamento de apreço por parte de qualquer espectador.


Num exercício comparativo bem minimalista poderia classificar esta obra como um curioso cruzamento entre filmes bélicos protagonizados por elementos de forças especiais, como "Zero Dark Thirty" (2013) ou "Black Hawk Down" (2011), com dramas sobre o narcotráfico que põem em evidência os cartéis mexicanos, como "Traffic" (2000), "Savages" (2012) ou o intenso western "No Country For Old Men" (2007). É neste cenário que podemos portanto enquadrar a perigosa jornada semi-bélica da agente especial Kate Macer que, por força do seu óbvio talento policial, vê-se diretamente envolvida na Guerra Contra as Drogas quando é enviada, pelos seus superiores, para o México, na companhia de uma dupla de soldados mercenários, com a complexa missão de localizar e eliminar o perigoso líder de um cartel.
Está assim lançada a premissa de um projeto aliciante que promove um constante entretenimento repleto de ação e tensão. É certo que a sua intriga pode parecer básica à primeira vista, afinal de contas parece redundar no já típico desenvolvimento de uma missão policial/militar repleta de ação e com uma missão específica sem grandes surpresas, onde todos os heróis e vilões estão definidos à partida. Esta suposição é no entanto errónea e francamente diminuta. É verdade que a sua base apresenta semelhanças com essas ideias, mas "Sicario" é muito mais complexo, interessante e apelativo que um simples thriller de ação com elementos policiais, como acontece por exemplo com "Zero Dark Thirty". É claro que estamos na mesma perante um produto repleto de suspense e sequências de ação militares que promovem a dictomia bélica entre a lei e o crime, mas o que torna esta dictomia tão mais interessante é a presença assídua de uma portentosa carga dramática, moral e humana que acompanha a jornada da dinâmica protagonista e confere-lhe assim um valor extraordinário.
Tal presença humana e moral eleva assim uma simples jornada policial a uma dimensão muito mais empolgante e complexa. Não somos portanto confrontados apenas com a típica história de um polícia que parte à caça de um perigoso criminoso, já que esta típica trama, apesar de estar presente na base do filme, é acompanhada e sabiamente completada por segmentos e aspectos bem mais importantes e espectaculares que instigam a inclusão e discussão de múltiplas temáticas controversas, como a ambiguidade do poder da lei, a fragilidade da moralidade humana ou a complexidade criminal do narcotráfico. Tudo isto no seio de um enredo já de si violento e tenso com muita ação primorosa e nunca exagerada que existe, e bem, para promover a dureza e a crueldade do cenário humanamente frio e desolador em que o filme se desenrola. Tal violência física partilha então o tempo de antena com uma competente violência moral e dramática que, em conjunto, criam então um sublime jogo de ações e intenções que originam um retrato humano poderoso que inicialmente não se esperaria encontra num produto como este.


A reforçar a qualidade de um argumento explícito naquilo que é importante e inteligente na forma como explora todas as questões que vão surgindo está um elenco pleno de capacidade. Emily Blunt e Benício del Toro são os óbvios destaques. As suas personagens, embora aliadas no início, representam os maiores opostos de personalidades entre os apelidados bons da fita, mas o poder de tais figuras não deriva só da forma como foram pensadas e são exploradas. O seu poder deriva também das performances de Blunt e Del Toro, que podem com estas prestações apresentar candidaturas seguras aos Óscares de Melhor Atriz e Ator Secundário, respetivamente. A direção de Villeneuve também é muito cuidada e,acima de tudo, selecta. Seria fácil para qualquer cineasta pegar neste argumento e descarrilar para a tentação de criar algo mais chocante que criativo, mas Villeneuve mostrou toda sua eficácia profissional na forma como executou quase na perfeição um projeto sublime e astuto que raramente cai em estereótipos tão fáceis de se colarem ao género em questão.  
Não se pode escapar à evidência que, pese embora não seja tão negro ou extravagante como os projetos anteriores do seu realizador, "Sicario" é cruel, frio e brutal, mais pelo ponto de vista moral do que propriamente pela questão física. Mas a sua crueldade e dureza são de louvar, porque se inserem em panoramas narrativos e técnicos verdadeiramente aliciantes e diferentes que o tornam num inteligente produto que prende qualquer um às suas dictomias.

Classifcação - 4,5 Estrelas em 5



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