Cinema
Crítica: Ato, Atalho e Vento
Por Fabricio Duque
?Ato, Atalho e Vento?, o mais novo filme do cineasta das colagens-memória, Marcelo Masagão, comporta-se com uma sensível e estimulante ode ao cinema por imagens de cento e vinte e três filmes ?produzidos nos quatro cantos do planeta? do ?encontro" de um livro ?Mal estar na Civilização?, ?escrito pelo do fofo? do Freud. Esse mesmo o ?psicanalista do sexo?. O documentário inicia-se com um preâmbulo textual e explicativo à moda de Star Wars. Apenas. Apresenta-se o argumento (como uma sinopse) e assim ?conduz" o espectador, livremente, pelo universo da arte cinematográfica, ?estimulando" sua memória afetiva e de conhecimento. Nada é legendado, tampouco creditado no desenvolvimento, permitindo-se que se possa ?jogar" com a tela e com o que se vê. Por decisão mais aceitável aqui, este texto não listará nenhum filme e ou diretor, para que se possa vivenciar plenamente a experiência da descoberta, que é, logicamente, informada nos créditos finais e que logo depois (um ?spoiler?, desculpe-me) traz um resumido pós com todos os filmes (em edição ultra videoclipe). Trocando em miúdos, há dois filmes em Ato, Atalho e Vento?. Um com a brincadeira da descoberta e outro com o conhecimento já induzido. Se o diretor no filme semelhante ?Nós que Aqui Estamos Por Vós Esperamos? busca trazer a história de nossa humanidade, aqui, é mostrado a ?ilusão? imagética de uma época cinéfila, que se transmutou com as cenas icônicas do cinema. Tomamos a liberdade de ?transcrever? seu início. ?Este encontro se deu na cabeça do diretor, que da mesma forma que você, convive com uma montanha russa de conteúdos simbólicos e assombrações ?memóricas', passeando ou se debatendo pelo corpo. Alguns filmes foram vistos inúmeras vezes no decorrer de muitos anos. Pouco importa, o que sobra são sempre alguns trechos: pequenos e singulares detalhes que ficam colados em nossos neurônios. Eles vão se acumulando e ficam num certo estado de dormência / latência. Só despert?m (ou não) pelo encontro de outras cargas simbólicas que não cessam de chegar. Fazer um filme de fragmentos é antes de tudo uma intenção de encontros de ?coisas?: tantas e tortas. É o desejo de ver o que ocorre entre as coisas, sempre mais interessante que as coisas em si. Bon 'appétit', o diretor?. Não há como amar. O longa-metragem de apenas setenta e cinco minutos representa uma ?viagem" nostálgica a nossa própria paixão pela sétima arte. A narrativa de ?Ato, Atalho e Vento? conjuga temas e ações análogas, quase como um típico exemplar de um catálogo visual e ?arqueológico" que aborda a atmosfera da arquivologia. Outra maestria é sua trilha sonora. Contagiante, hiperbólica, passional, que complementa emoções e ?estímulos?. Podemos categorizar com a definição de uma grande orquestra midiática de trechos-passagens apaixonantes, despretensiosas, desorganizadas na organização (assim mesmo como toda memória deve ser). E por último é de uma inocente ?lista" subjetiva de simbolismos ?acordados?. Recomendado.
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