Crítica: Chang Jiang Tu - Crosscurrent
Cinema

Crítica: Chang Jiang Tu - Crosscurrent


Por Fabricio Duque
Direto do Festival de Berlim 
16 de Fevereiro de 2016

O chinês ?Chang Jiang Tu - Crosscurrent?, que integra a competição oficial do Festival de Berlim 2016, do diretor ?Yang Chao (de ?Run Away?, ?Passages?, este exibido no Festival de Cannes), é uma poética metáfora à "perda" da mulher amada e ao ?tempo como um rio, dia e noite?. A trama conduz sua narrativa, de simplicidade das micro-ações, quase silenciosa, contemplativa, de câmera subjetiva e participativa (de procurar a ação da cena em foco manual) pelo universo mental-psicológico de seu protagonista de tempo cotidiano não linear (contado por dias) que ?navega" sua vida em portos com o intuito de ?conseguir" deixar o ?amor ir?, mas ?não desta vez?. Ele ?embarca" em sua individual terapia, na ?jornada solitária? de aceitar que está na verdade sozinho. A fotografia, saturada ao brilho, cujo objetivo é fornecer mais vivacidade realista confrontada com o incorrigível e incondicional romantismo, por ângulos de poesia-naturalista-visual em movimento. ?A pureza é maior que a vida diária?, lê-se em seu próprio livro de poemas que para esquecer precisa ser revisitado como novidade. Aqui, o ?poeta é possuído que não imaginava?, e a ambiência da crença interna reverbera talvez a loucura obsessiva-esquizofrênica ou delírio ou a criação projetada da dor ou as duas coisas unidas, desencadeando vertentes na "filosofia budista, na fé pura, no espaço infinito e até mesmo nos milagres que não mudam o carma? para resolver as pendências sentimentais sôfregas da memória por um ?mapa? dos poemas. É um ensaio sobre o tempo dele, sobre as ?direções opostas?, sobre a realidade (digital), as prisões ancoradas, os ?tesouros da alma?, os lugares inabitados, a ?entrega de devoções?, as tradições, os fantasmas da história (de sobrenatural humanizado, à moda do cineasta Apichapong, que ?recebe a responsabilidade de libertar a alma do pai"). Ele ?cultiva a mente?, ?sem as palavras, não tem poderes?, que a visão do ?objeto" desejado apresenta-se embaçada e que percebe um mundo pós-apocalíptico, em que os objetos inanimados e mecânicos ganham existências. É um longa-metragem a La Terrence Malick, mas que posterga o entendimento do espectador, indicando apenas inferências iniciais à ?viagem" definidora, opção esta que fez com que, durante toda a duração da sessão especial de imprensa, uma boa parte de pessoas fosse embora. Sim, não é um filme para todos. Necessita-se de sensibilidade e paciência cinematográfica. Entre abandonos e amigos, entre o universo mágico, entre a imersão nos pemas de um poeta anônimo que revela segredos do passado e faz com que ele contemple seus próprios crimes e tormento. Recomendado.



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