Crítica: Matrix (trilha sonora)
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Crítica: Matrix (trilha sonora)



Uma década depois do seu lançamento, o que resta a ser dito sobre Matrix? Matrix conseguiu captar com maestria a tensão pré-milenial dos anos 1990 via sua mistura de cyberpunk, metafísica oriental, messianismo judaico-cristão e pancadaria kung-fu a lá John Woo. O grande mérito dos irmãos Wachowski é fazer essa bricolagem, tão heterodoxa, tão pós-moderna, funcionar.

O pós-modernismo futurista do filme aparece na seleção das faixas, feita pelo consultor musical dos Wachowski, Jason Bentley. Bentley reúne artistas de ponta, a maioria fazendo misturas (até então) inovadoras. Da linha de frente do new metal temos ?My Own Summer? do californiano Deftones, que alia o peso do metal ao groove do hip-hop, temperada com a introspecção psicodélica do shoegaze rock. O Propellerheads revisita o passado pra traçar o futuro, intercalando samples orquestrais de James Bond com sequenciadores. ?Spybreak?, pra quem lembra, faz fundo de uma das cenas mais emblemáticas do filme ? a invasão de Neo e Trinity ao prédio onde Morfeus está preso. Mais introspectiva e detida, ?Clubbed to Death (Kurayamo Mix)? apresenta uma amálgama de música erudita e batida sincopadas, marca registrada de Rob D. A exceção a essa miscelânea futurista é o Monster Magnet, a julgar pelo stoner rock de ?Look to Your Orb For the Warning?.

Eleito como a encarnação musical do cyberpunk por alguns arautos da cibercultura, o metal industrial é bem representado em Matrix. Abrindo o disco está ?Rock Is Dead? do eterno provocador Marilyn Manson. Pai do gênero, o Ministry funde a visceralidade do rock com as possibilidades da tecnologia em ?Bad Blood?, ganhadora do Grammy pelo Best Hard Rock Performance de 1999. O bicho-papão Rob Zombie solta um remix de uma música do seu (primeiro) disco solo Hellbilly Deluxe. Essa nova versão de ?Dragula? (melhor do que a original, por sinal) é ouvida quando Neo e Trinity se encontram pela primeira vez. Por fim temos o Rammstein, reis do Tanz-Metal, com seu hit ?Du Hast?.

O que o jornalismo brasileiro chamava de ?tecno? nos tempos de antanho (conhecida hoje como electronica ou o velho dance music) ocupa metade da coletânea. No auge de sua popularidade depois da explosão do Prodigy e do Chemical Brothers, aquilo que tinha nascido na lisergia de raves clandestinas estava sendo agora cotada pela Rolling Stone como o ?novo rock alternativo? (um hype que não vingou nos Estados Unidos da América, mas tomou de assalto o Velho Mundo, principalmente o Reino Unido). Então no topo do panteão eletrônico, o Prodigy mostra em ?Mindfields? o ritmo agressivo e fragmentado pelo qual é conhecido. ?Mindfields?, cabe dizer, foi tirada do disco Fat of the Land, símbolo de uma era onde a música eletrônica quase virou um novo tipo de rock. Menos alardeados pela grande mídia, o Hive e o Meat Beat Manifesto (mais os já mencionados Rob D e Propellerheads) trazem contribuições igualmente interessantes para a trilha.

Na deixa do filme, a trilha fecha com o funk-rock nervoso do Rage Against the Machine. Politizada, como é de praxe da banda, ?Wake Up? lembra o ouvinte dos movimentos sociais de outrora e seus líderes, figuras que ?cuspiram nas estruturas? e acabaram silenciados. Malcom X e Martin Luther King são citados por nome. Não é a toa que os Wachowski parearam essa música com a cena final, quando Neo avisa aos detentores do poder - as "máquinas", criadoras da Matrix - que uma revolução está à caminho.

O Cinema Detalhado não disponibiliza links pra download. Se quiserem ouvir a trilha, mandem uma mensagem pra mim que eu a envio via e-mail. Obrigado.




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