Crítica: Trainspotting ? Sem Limites (trilha sonora)
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Crítica: Trainspotting ? Sem Limites (trilha sonora)



É difícil explicar pra alguém que mal tinha idade pra votar em 1996 a sensação de ver Trainspotting pela primeira vez. Ele é um daqueles raros filmes que conseguem falar pra uma geração inteira: foi, sem exagero, o Juventude Transviada (1955) ou o Easy Rider (1969) do final de milênio. O grande mérito de Trainspotting é abordar a questão do uso e abuso de substâncias ilícitas ? a heroína, diga-se ? não com o pânico moral de sempre (?o mal do século?), mas como um objeto de consumo. (Afinal, o que é consumismo senão um vício?) Trainspotting foi o filme mais impactante da década, só atrás de Matrix e Pulp Fiction. Carreiras se firmaram onde passou: Trainspotting catapultou Ewan McGregor para a fama internacional e o diretor, Danny Boyle (Cova Rasa, Quem Quer Ser Um Milionário?), revitalizou quase sozinho o cinema inglês.

A trilha de Trainspotting era o manual do hipster britânico: temos Britpop lado a lado com electronica e os eternos baluartes do cool: Iggy Pop, David Bowie e Lou Reed. Outros membros da realeza anglófila dão as caras. Brian Eno, o eterno produtor do U2, aparece com uma faixa do documentário Apollo, parte de uma trilha composta exclusivamente por ele. (Excelente, por sinal.) A etérea ?Deep Blue Day? é usada (mui sarcasticamente) numa cena nojentíssima: o mergulho do protagonista, Mark Renton (McGregor), na privada da mais podre da Escócia, em busca do seu supositório de ópio. O Primal Scream ? a banda que melhor casou acid house e Rolling Stones ? nos brinda com ?Trainspotting?, um instrumental de 10 minutos de duração. Do New Order ouve-se um dos seus primeiros hits, ?Temptation? (1982), justo daquela época onde eles conseguem superar o legado do Joy Division. Faixa solo do líder do Blur, Damon Albarn, a excêntrica ?Closet Romantic? fecha o álbum.

Os grandes beneficiados com a glorificação ? e bafafá ? que o filme atraiu foi o trio Underworld. Depois de Dubnobasswithmyheadman (1994) botar as Ilhas Britânicas em polvorosa, o Underworld viveu seu grande momento em Trainspotting com ?Born Slippy [NUXX]?, que atingiu o topo das paradas inglesas. Irônico, considerando que essa música era o lado-B de um compacto inexpressivo. Segundo Karl Hyde (vocalista / letrista / guitarrista / programador), o bate-estaca ensurdecedor e a letra autobiográfica de ?Born Slippy? emulam o raciocínio fragmentado de um alcoólatra.

A trilha sonora de Trainspotting é bem pensada e flui naturalmente. Ela consegue traduzir musicalmente as vivências do filme ? os dramas de seus personagens, suas aventuras, seus momentos de revelação. Além disso, ela captura a música pop britânica num grande período. ?E os americanos??, alguém pergunta. Respondo: Iggy Pop e Lou Reed caem como uma luva; ouçam Blur, Elastica, Pulp, Sleeper e perceberão o quanto o rock inglês deve a esses yankees pioneiros. A música eletrônica do Bedrock, Leftfield e Underworld, até então confinada na Europa, estoura mundo afora logo depois do lançamento de Trainspotting. Enfim, por essas e outras ela é considerada uma das melhores trilhas já boladas. Impecável, até. Exercite seu ouvido e descubra o por quê.

O Cinema Detalhado não disponibiliza links pra download. Se quiserem ouvir a trilha, mandem uma mensagem pra mim que eu a envio via e-mail. Obrigado.




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