Cinema
Crítica: Nise - Coração da Loucura
Por Fabricio Duque
?Nise - Coração da Loucura? foi, até agora, a sessão mais concorrida e lotada da mostra competitiva da Première Brasil no Festival do Rio 2015. Talvez muito por ser estrelado pela renomada atriz Gloria Pires (em uma interpretação ?defensiva"), que ?encarna" a doutora Nise da Silveira que ?revolucionou" os estudos sobre a psiquiatria no Brasil ao humanizar o tratamento aos ?clientes" (e não pacientes) esquizofrênicos no Centro Psiquiátrico Nacional (no subúrbio do Rio de Janeiro), recusando-se a aceitar a terapia ?padronizada? (eletrochoque e lobotomia - ?na prática, a senhora vai se acostumando") da época (por não ?acreditar na cura pela violência?; por ?confiar? nos cachorros - ?co-terapeutas?, por causa do "afeto"), e enfrentando o preconceito (e olhares ?tortos?) de ser a única mulher no meio de sua profissão (?indo parar? na ala de ?Terapia Ocupacional?), identificando-se com as ideias progressistas de Jung (que acha que Nise é ?homem" - ?Até ele é machista?). A narrativa apresenta estrutura de novela, romanceando diálogos em anti-naturalistas (que se percebe claramente a encenação), mas buscando a representação realista nas ações (como a exemplificação dos choques em prática). A protagonista, que ?coloca a mão na massa? da mudança, limpa seu local de trabalho e ?imprime" ali sua marca: ?remexer em que está quieto? (?chacoalhando o abacateiro?) e adentrar no mundo da loucura a fim de ?diagnosticar" e indicar a causa do problema, para que assim o tratamento seja de maior eficiência e ?dar vida? a esses seres humanos (e não ?animais?), como a cena mais magistral deste filme, que é seu cabelo sendo ?bagunçado pelo louco?. ?Ouça, observe e cale a boca?, diz a um funcionário (o excelente ator Augusto Madeira - que fornece humor ?sádico" à trama), explicando que isto é ?a matéria prima? do trabalho deles. Infelizmente, a estética comercial vence a autoral-experimental. É incluído trilha sonora de efeito que ?encontra" a atmosfera sentimental e ou a rapidez das reviravoltas e ou narração didática mega explicativa. Felizmente, o mesmo longa-metragem, muda de rumo. Quando a arte (a pintura e a escultura) ?atinge" a calma destes ?crônicos incuráveis? mentais, o equilíbrio da narrativa é mantido com uma positiva cadência ritmada. Permeia-se o respeito, a liberdade, o ?empirismo?, o desejo sexual (e o próprio ato), o ciúme (físico e visceral) da traição, o ?dia de se espalhar? e a descoberta da habilidade de cada "Engenho de Dentro?, gerando obras-de-arte sensíveis e altamente magnificas, catalogadas por ?autor e em ordem cronólogica?. Aqui, dirigido por Roberto Berliner (dos documentários ?A Pessoa é Para o que Nasce?, ?Pindorama?, ?Herbert de Perto?, ?A Farra do Circo? e da ficção ?Júlio Sumiu?) o contexto apresentado soa como uma reconstituição de caso (pelas interpretações mais técnicas, que são ?desvirtuadas" pelas consistentes e sempre satisfatórias dos atores Charles Fricks, Felipe Rocha e Bernardo Marinho), sendo inevitável não referenciarmos outro filme de tema semelhante, ?O Senhor do Labirinto?). Um dos pontos altos de ?Nise - Coração da Loucura? é seu final, pela inclusão de imagens de arquivo dos artistas reais e uma entrevista da própria homenageada, que diz ?Há dez mil modos de pertencer a vida?. A sessão do Cine Encontro emocionou quando ?clientes" reais deram seus testemunhos e ?rasgaram" elogios. Concluindo, um filme que caminha pela estrutura novelesca, de características típicas, entre a "loucura" da criação e a ?sanidade" do resultado. Nem oito, nem oitenta.
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