Crítica: O Espião Que Sabia Demais (Tinker, Tailor, Soldier, Spy).
Quando o assunto é espionagem, o grande público logo se lembra do clássico personagem: 007. James Bond é um agente, charmoso, cheio de ação, aventuras e mulheres. Seus filmes são divertidos e servem como grande entretenimento. Sucesso sem sombra de dúvidas, mas este universo não chega nem perto do novo filme do diretor Tomas Alfredson, que é baseado no clássico de John Le Carré. O que será apresentado é o lado menos charmoso do trabalho. Papelada, intrigas e problemas internos. Nada de explosões ou "mentiras" que nos acostumamos a ver. Menos chamativo, porém incrivelmente intrigante.
A trama se passa no final do período da Guerra Fria, George Smiley, um dos veteranos membros do Circus, divisão de elite do Serviço Secreto Inglês, é chamado para descobrir quem é o agente duplo que trabalhou durante anos também para os soviéticos. Todos são suspeitos, mas como também foram altamente treinados para dissimular e trabalhar em condições de extrema tensão, todo cuidado é pouco. George precisa indicar o espião e não pode errar.
O filme acaba de ser indicado a 11 categorias do Bafta e surge como um forte candidato ao Oscar. Sem sombra de dúvidas é um dos trabalhos mais inteligentes que pude apreciar nos últimos anos, mas exatamente por isso, acredito que ele vá enfrentar bastante resistência. Tive que assisti-lo duas vezes para realmente entendê-lo completamente. Sou menos inteligente do que alguém? Não posso dizer que sim, pois a primeira vez que assisti, encarei ele como mera diversão, deitei no sofá com meu pai para me distrair e esse foi meu grande erro. Nada é informado ao espectador diretamente e tudo tem que ser captado nas entrelinhas. As informações são transmitidas, mas um desvio de atenção pode colocar tudo a perder. A segunda vez que assisti, quis fazer parte da solução do caso, anotei as pistas, listei os fatos e me diverti como se estivesse jogando um jogo de tabuleiro com amigos. Achei genial, admito, mas não posso deixar de ressaltar tal problema.
Outro ponto notável da produção é seu elenco. Talvez se tivéssemos em cena atores menos brilhantes, a história poderia ser desperdiçada. Gary Oldman nunca este tão bem em um papel e entrega um personagem observador, pacato e calado. Suas poucas palavras e diversas feições são capazes de lhe convencer de uma situação. Estranhei sua ausência no Globo de Ouro 2012 (Reveja os vencedores), celebro sua presenta no Bafta 2012 (Veja os indicados) e torço por sua indicação ao Oscar. John Hurt, Colin Firth, Toby Jones, Mark Strong, Tom Hardy, Benedict Cumberbatch dão todo o suporte possível e todos conseguem brilhar em suas interpretações. Destaque para Hardy (Guerreiro), que mesmo aparecendo pouco, se mostrou muito bem, até mesmo por que seu personagem é fundamental para a solução do caso.
A direção de arte e fotografia são outros pontos a serem comentados. A ambientação da Inglaterra antiga está perfeita, as imagens muitas vezes são utilizadas no lugar de textos e os cartões postais são utilizados para retratarem a cidade em que está acontecendo a cena do momento. A trilha sonora faz referência a cada acontecimento e nas entrelinhas transmitem mensagens sobre o mundo da espionagem. A direção é muito bem trabalhada, vemos as cenas e os fatos como se fossemos o personagem principal, captamos o zoom nas coisas que ele considera como valiosas e seguimos o fluxo do trabalho como se fossemos detetives também.
O que eu posso dizer aos leitores é o seguinte: Estamos diante de uma grande produção, mas não arrisque assisti-lá se não estiver a procura de um desafio. Não acho que sirva como mero entretenimento e só dê uma chance se estiver disposto a entregar cem por cento de sua concentração. O grande exemplo eu tenho em casa, pois meu pai não entendeu de primeira e nem vai se dar ao trabalho de entender. Para ele se trata de um filme louco e complicado demais. Como me senti desafiado assisti novamente, com total atenção e consegui captar a mensagem. Se vista de detetive e entre no jogo ou então...Pule fora.
Caso já tenha visto e não entendeu, tentei fazer um texto detalhando cada cena para ajudar no entendimento. Ficou grande, mas acho que vai ajudar e muito. Num primeiro momento acho que já ajuda saberem que Circus é o apelido da MI-6 e que Karla é o nome dado ao chefe do serviço de inteligência russa. Ah...observem o óculos de George Smiley, com ele você vai sacar quando estamos no presente ou no passado. Veja aqui o texto que tenta explicar o filme.
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