Cinema
Crítica: Praia do Futuro
Por Fabricio Duque
É incrível como alguns filmes necessitam de um tempo de maturação para que possam corroborar a maestria vivenciada na estreia, período este, que por sua vez, se apresenta, inerentemente, agitada e pluralmente midiática. ?Praia do Futuro?, de Karim Aïnouz, é um deles, tanto que foi assistido no Festival de Berlim de 2014 e só agora consigo desferir linhas analíticas. Talvez, meu tempo seja outro, assim como de seu diretor que busca contemplar instantes em camadas-elipses; construir metáforas existencialistas-terapêuticas-redentoras em narrativas imagéticas; e personificar na poesia visual as possibilidades sentimentais da fuga, do medo, do impulso, da solidão, da aventura, da adrenalina, da intensidade do amor e da incompreensão da rotina, este que transforma a novidade em um ?cinzento" e ?frio" cotidiano. O roteiro clássico-linear (apresentação, desenvolvimento e conclusão) de Felipe Bragança, que tem co-autoria do próprio cineasta, e colaboração de Anna Muylaert, Marco Dutra, Marcelo Gomes e Sérgio Machado, ?dilacera" a vida cômoda do protagonista Donato, um salva-vidas, vivido pelo ator Wagner Moura (nosso eterno Capitão Nascimento de ?Tropa de Elite? - que imprime sutileza contida em seu papel de ?personagem silencioso? e do ?mundo que acontece dentro dele? - que precisa emergir), em um confronto libertador, o ?salvando" do medo de ?não ter medo? e começando a enxergar ?todos os perigos de seu próprio mar?. Aqui, são três tempos, três personagens, três existências que são obrigadas a se equilibrar, saindo da "violência das ondas? para adentrar na calmaria de águas artificiais, entre aquários e piscinas. Na primeira parte, que gerou risos na plateia devido à quantidade de patrocinadores (e apoiadores) creditados, o espectador é inserido diretamente à trama, que se ambienta na Praia de Iracema em Fortaleza no Ceará, e que mostra uma polêmica cena de sexo homossexual (quer dizer, para o Brasil, que teve que ?avisar" com um carimbo no ingresso sobre isso - gerando o questionamento de como somos antiquados, preconceituosos e hipócritas - logicamente que não me incluo em nenhum destes adjetivos listados), enfim, e assim se inicia uma conturbada história de amor. Abrindo um parênteses, não é um filme gay, e sim é sobre a rapidez do amar e da ?covardia" da perda. Na segunda parte, nosso protagonista ?aventura-se? em Berlim, cidade natal de seu namorado, Konrad (o ator Clemens Schick, de ?007 - Cassino Royale?) , e sofre com a frustração de não falar o idioma. Um completo estrangeiro. Quase um ?exilado" por vontade próprio e pelo ?tesão" latente e exacerbado. Na última parte (a redenção), seu irmão cresce, vai visitá-lo (o ator Jesuíta Barbosa) e encontra um ?fantasma? que já ?fala alemão?. Talvez, alguns detalhes da história possam incomodar, como por exemplo a explícita (e veloz) não indicação das atrações homoeróticas. Mas caro leitor não se atente a essa preocupação (de reparar mais no momento que no passado), porque como foi abordado lá no início desta crítica, é um filme de ?transição? contemplativa, de ?personagens" que buscam ?continuar? de um lugar de partida (que tentam esquecer) a um lugar que ?escolhem? pertencer, de ?reinvenção - saindo da morte e apontando à vida?. Concluindo, ?Praia do Futuro? parte da velocidade do "querer" ao encontro do ?ser?, buscando o equilíbrio e a paz de ser um ?Herói" alemão (cada um a sua maneira e a seu tempo). É um filme que incomoda mais quando silencia que quando ?arregaça?. É único. Particular. Autoral. De ?Aquaman" para ?Speed Racer?. Que reitera a veia criativa e essencial de Karim Aïnouz. Recomendado.
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