Crítica: Tio Boonmee, que pode recordar suas vidas passadas (2010)
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Crítica: Tio Boonmee, que pode recordar suas vidas passadas (2010)



Boonmee sofre de insuficiência renal crônica e decide passar os seus últimos dias em sua casa na floresta tropical tailandesa. A sua cunhada Jen, o jovem Tong e um enfermeiro o acompanham. Na primeira noite, durante o jantar, recebem a visita da esposa de Boonmee, falecida há vários anos, que veio para acompanhá-lo até o fim da sua vida. No mesmo jantar, o filho de Boonmee retorna, após anos vivendo nas matas. A sua aparência é a dos grandes macacos com olhos vermelhos que vivem pelas florestas nos arredores da casa de Boonmee. Ele explica que saiu de casa por conseqüência do fascínio pela imagem destes primatas, decidiu viver entre eles e, após copular com um, assumiu a sua forma física. Em momento nenhum essas visitas são encaradas ou tratadas com estranheza e a cena continua como um calmo reencontro de familiares que não se vêem há anos. Neste instante percebe-se que há um grande filme por vir.

Tio Boonmee, que pode recordar suas vidas passadas (Tailândia, 2010) foi vencedor da Palma de Ouro do Festival de Cannes de 2010 e passou a ser grandemente aclamado pela mídia, mas não é o tipo de filme que agrada a todos. Aparentemente lento, com a tranqüilidade típica dos orientais permeando todo o filme (apesar de, para mim, ter passado muito rápido, achava que não havia chegado à metade quando percebi que já estava no final) e com seus elementos fantasiosos que não são bem compreendidos/recebidos por muitos.

A preocupação com os cenários é visível: em sua maioria simples, são sempre primorosos. A câmera muitas vezes na mão e a iluminação sempre natural lembram os filmes do movimento Dogma 95. Os resultados alcançados com a iluminação natural são belíssimos e me surpreenderam diversas vezes durante o filme. É um filme muito bonito visualmente.

No decorrer do filme, as decisões de Boonmee, que sabe ter muito pouco tempo de vida, são pautadas pelas lembranças de suas vidas passadas. Como na sua vida atual, as vidas das quais Boonmee se recorda durante o filme possuem elementos igualmente fantasiosos. O limite entre homens e animais não existe e às vezes temos a impressão de estar ouvindo fábulas. A nossa ignorância sobre a cultura popular tailandesa com certeza faz com que muitas coisas passem desapercebidas, outras vezes imaginamos que deva existir uma referência, mas simplesmente não a conhecemos. Mas a compreensão do filme não é afetada por este fato, apenas a curiosidade é estimulada.

O diretor Apichatpong Weerasethakul, também conhecido como Joe, é conhecido por utilizar elementos fantásticos em suas narrativas cinematográficas. Ele abusa deste elemento em Tio Boonmee..., mas o grande trunfo do diretor é ainda assim conseguir manter a seriedade e delicadeza do filme. O fantástico nunca é colocado como algo excepcional, durante todo o filme os elementos fantasiosos são encarados de forma natural e sublime. Isto é um dos principais elementos que tornam Tio Boonmee... um grande filme.



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