Crítica: Titeuf
Cinema

Crítica: Titeuf


A Confusão Simplificada 
da Infância

Por Fabricio Duque

"Titeuf" baseia-se no personagem principal da história em quadrinhos, de mesmo nome, feita pelo artista Philippe Chappuis. O cartunista tem agora o nome artístico de Zep (por causa do Led Zeppelin, o astro do rock), que também assina a direção do longa-metragem de animação em questão aqui. O filme aborda a visão confusa das crianças ao tentar entender o mundo adulto. Um dos pré-requisitos ao crescimento de uma fase a outra da vida é a própria vivência. Os pequenos escolhem por simplificar as ações, mesmo convivendo com a crueldade natural e permitida da infância. Eles não fazem por mal, apenas são limitados pelas regras sociais dos adultos. Partindo desta confusão perceptiva, o roteiro desenvolve-se, lembrando e muito o filme "O Pequeno Nicolau". Titeuf (voz de Donald Reignoux) foi o único menino de sua sala que não foi convidado ao aniversário de Nádia (Mélanie Bernier). Isso o decepciona, pois ele sempre se esforça para impressionar a menina. Ao mesmo tempo, seus pais estão prestes a se divorciar. Assim,  o protagonista aprenderá a superar seus problemas e arrumar um jeito de ser convidado ao aniversário de Nádia, utilizando-se das técnicas e subterfúgios surreais e impensados. A trama humaniza as características intrínsecas dos personagens, os deixando ser o que realmente são, explorando inclusive o lado escatológico (espinha explodida, meleca). Há o que cospe por causa do aparelho, a menina que vê o menino como um ogro, o gordo, o beijo de língua superexposto, a mãe forte, o pai modelo - mas apático, tudo é observado pelos olhos das crianças de forma exagerada, que dizem sempre a verdade, porque não sabem o que é certo e ou errado, tampouco sobre as mentiras sociais. O início insere os mesmos integrantes na versão pré-histórica, gerando a referência ao filme "Onde Vivem os Monstros". Quando se respeita a idiossincrasia de cada um, vemos o ser humano mitigado do possível bullying, prática debatida hoje em dia, mas que dura desde que o mundo é mundo, incomodando por causa da diferença individual não padronizada. A animação reflete o comportamento transmutado do crescimento. O humor antropológico, comum entre os franceses, conduz à comédia de situações (e acasos). A criança desafia a autoridade, procurando encontrar o equilíbrio entre a ordem e a aceitação do senso comum. O meio (caseiro principalmente) influencia totalmente o processo. Os pequenos repetem o que escutam e o que veem. As confusões simplistas da infância não são tão insignificantes assim. O mesmo acontece com os adultos, com uma diferença: lá, são simples e lógicas demais; aqui, complexas e impossíveis de se realizar. Concluindo, uma animação que manipula a consequência pela ação do presente. A determinada escolha ocasionará a aventura do futuro. Um filme divertido, inteligente, perspicaz, antenado, politicamente incorreto (por se tratar do universo infantil), que cria a tensão do momento a outro momento. Imperdível!




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