Crítica: Touro Indomável (Raging Bull)
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Crítica: Touro Indomável (Raging Bull)




Touro Indomável é uma das belas obras que o cinema nos brindou na década de 80 e marca mais um grande trabalho da parceria Martin Scorsese e Robert De Niro. Quatro anos antes eles já tinham feito outro grande trabalho conjunto no filme Táxi Driver. Em uma breve introdução histórica, este projeto já estava sendo pensado pela dupla por bastante tempo, mas Scorsese não apresentava tanta empolgação quanto seu amigo. Com isso, a ideia terminou  ficando engavetada por um bom tempo, mas De Niro não parava de acreditar que eles poderiam fazer uma boa história contando a vida do pugilista Jake La Motta. Reza a lenda, que enquanto esteve internado, por problemas com drogas, Scorsese foi duramente pressionado para realizar o filme e assim resolveu ceder a pressão do parceiro e arriscar na produção.

Hoje, 32 anos depois, só tenho que agradecer pelo esforço do ator em realizar esta película. Muitas são as histórias que temos de atores que dedicam uma vida em prol de um personagem, mas poucos foram tão capazes de apresentar um trabalho de tanta qualidade como esta interpretação do pugilista do anos 40 feita por De Niro. O longa é tão grandioso, que para muitos é o maior filme de sua década. Em matéria de premiações, o longa foi indicado a 8 Oscar e foi vencedor de dois, Melhor Ator e Melhor Edição. Dizem que só não ganhou o de melhor filme, por conta de uma recente tentativa de assassinato ao presidente Ronald Reagan, cujo o infrator disse que se fundamentava nos "ensinamentos" de Táxi Driver, o que causou alguns problemas a Scorsese. Ele chegou a ser escoltado na cerimônia de premiação e acho que isso influenciou em sua derrota naquele ano. A academia temia que outros casos semelhantes pudessem surgir influenciados por uma vitória do Scorsese. 

Antes de assistir a produção eu achava que este era um longa sobre Boxe, mas hoje posso dizer tranquilamente que ele é uma vertente narrativa, usada para a construção e expressão de um grande personagem. O roteiro do filme é algo muito mais denso e o esporte citado é uma forma de expressão. O personagem principal, além de pugilista, é uma pessoa ciumenta, possessiva e agressiva, que tinha raros momentos de felicidade. Entrar no ringue, para ele, era a chance de expurgar toda sua tristeza e raiva reprimida, o que fazia com que suas lutas não fossem baseadas em estratégias e sim na emoção que sentia no momento. Quanto maior sua raiva, mais forte ele batia nos oponentes e sua relação com a mulher era um termômetro para esses sentimentos.

Não duvido da qualidade de todos os envolvidos na produção, mas ainda estou digerindo a atuação de Robert De Niro. Se eu já tinha ficado impressionado com seu trabalho em Táxi Driver, acho que em Touro Indomável ele supera bastante o seu Travis Bickle e entrega uma atuação ainda mais completa. Ele nos brinda com um La Motta raivoso, agressivo, de baixa estima, paranoico, ciumento, possessivo e auto-destrutivo. Uma pessoa impulsiva que não sabe lidar com adversidades e capaz de destruir a tudo e a todos, inclusive a si mesmo. A entrega do ator é tanta que, para atingir o máximo de realismo, ele treinou boxe por um ano com o pugilista que inspira a obra e, além disso, engordou 25 quilos em 2 semanas, para interpretá-lo depois de aposentado. Seu semblante nos ringues é de um touro enfurecido e alucinado. Uma pessoa obcecada e pronta para o ataque. Fora dele, seu olhar é de um louco sem auto confiança e que acredita que a violência irá resolver todos os seus problemas. Um monstro irracional e de pavio curto. Joe Pesci, muito famoso pelos filmes de máfia que fez,  também aparece muito bem na obra e foi até premiado como melhor ator principal estreante em cinema no Bafta.

Outro aspecto muito interessante da obra é seu trabalho de fotografia. O primeiro ponto a se analisar é que a decisão de fazê-la em preto e branco foi crucial para que tivéssemos uma maior sensação de realidade e até mesmo de que chegássemos a imaginar que estávamos diante de um documentário. Além disso, importante é que com as tonalidades mais acinzentadas,  o sangue, que seria um sério problema de classificação que o filme enfrentaria, se tornou menos agressivo, considerando que não foi nem um pouco economizado. Como curiosidade fica a informação de que foram caldas de chocolate, que simularam o sangue, o que comprova mais um ganho com a utilização em preto e branco.

A premiada montagem também merece seu destaque, pois Thelma Schoonmaker dá um show particular em sua apresentação. A primeira coisa que pude perceber foi a forma como ela conduziu as lutas. La Motta apanhava mil socos com uma velocidade implacável, mas revidava com uma câmera lenta de tirar o fôlego. Por sinal, muito marcante os banhos de sangue saindo dos lutadores em câmera lenta. Os sentimentos do protagonista eram expressados através da velocidade e fúria dos seus golpes. Sua raiva fazia com que a arena fosse gigantesca, um espaço único em sua vida. A mixagem de som também se destaca com a utilização de som de animais representando a platéia nas lutas. Que grande sacada!

Touro Indomável é sem sombra de dúvidas um grande filme e me deixou bastante empolgado para continuar visitando o universo dos clássicos. É muito bom ver um Robert De Niro diferente do que eu conhecia e conhecer a história de um diretor, que já gostava bastante pelos últimos trabalhos e que gosto ainda mais ao conhecer seus clássicos.


Trailer do Filme:






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