Crítica do Filme: Taxi Driver (Taxi Driver 1976)
Cinema

Crítica do Filme: Taxi Driver (Taxi Driver 1976)



Conforme havia prometido, depois do Oscar 2012 (Reveja nossa incrível cobertura) irei começar a abordar filmes antigos, que são considerados os grandes clássicos de toda a história do cinema. Não estou falando que você não encontre alguns destes já comentados aqui no site, mas o que posso garantir é que a presença de trabalhos marcantes de décadas passadas será mais presente do que o habitual. Motivado pela paixão que Júlio Pereira, amigo do Lumi7, ostenta por Scorsese, pela admiração que tenho ao diretor e pelo seu estupendo trabalho, recente, em A Invenção de Hugo Cabret, decidi começar este ?estudo? da sétima arte com o longa Táxi Driver, de 1976.

Historicamente falando, o longa foi produzido em um momento hollywoodiano que os temas abordados estavam mais voltados para sexo, violência, caos e solidão. O Código Hays, que resumidamente era uma censura as abordagens depreciativas (Saiba Mais), há pouco tempo havia sido encerrado, permitindo assim o surgimento de um cinema mais obscuro e com protagonistas sendo mais Anti-heróis do que heróis. Nessa época, o hoje aclamado, Martin Scorsese desenvolvia uma carreira que seria uma das mais marcantes do mundo cinematográfico e justamente se aproveitando dessa temática, que até hoje lhe é marcante, desenvolveu este longa, que é uma obra prima. A película foi louvada pela crítica, sendo indicada a 4 prêmios do Oscar, 3 prêmios do BAFTA, 2 Globos de Ouro, ao Grammy, DGA E WGA e sendo vencedora da Palma de Ouro, em Cannes, e dos BAFTAs de Melhor Atriz Coadjuvante e Estreante, para Jodie Foster e melhor Trila Sonora.

Esquecendo um pouco a introdução da obra e voltando para a análise do longa propriamente dito, começo vangloriando a atuação de Robert De Niro, muito diferente do ator que assistimos hoje em filmes fracos como Os Especialistas, Homens em Fúria e as continuações de Entrando Numa Fria Maior Ainda, ele nos presenteou com um personagem complexo,  sendo capaz de transparecer todos os seus sentimentos, mesmo os mais ingênuos, e com um sorriso de ar cínico, irônico e amedrontador, que me marcou durante toda a execução da obra. Gostei de dizer que este é, literalmente, um sorriso sacana e sem vergonha, que não consegue disfarçar que os pensamentos estão muito longe do que o corpo e a fala estão fazendo no momento. Além do monstro De Niro, não posso deixar de citar o surgimento, no auge dos seus 14 anos, de Jodie Foster (O Silêncio dos Inocentes, Carnage). Dei um pause na execução do longa para admirar a atriz e tentar fazer as relações com seus trabalhos recentes. Incrível pensar que quando ainda era uma pré adolescente ela já fosse capaz de entregar uma atuação deste escalão. Cativante, marcante e emocionante foram as três melhores palavras que encontrei para lhes descrever o trabalho da atriz. O elenco de apoio formado por Cybill Shepherd, Albert Brooks e Harvey Keitel também tem boas performances. Ponto para o Scorsese que faz uma ponta, que ao menos para mim serviu de alívio cômico. Me diverti bastante com o diretor fazendo um papel de um "corno" paranoico.

O trabalho de fotografia do longa é notável e nos apresenta uma Nova York escura e assustadora. O vermelho predomina em grande parte da produção e principalmente quando somos apresentados ao personagem principal. É em tons vermelhos que enxergamos seus olhos e é através deles que enxergaremos o restante do filme. Uma curiosidade que encontrei pesquisando sobre a produção foi a de que o diretor de fotografia Michael Chapman foi forçado a reduzir o tom do vermelho das cenas finais, algo que Scorsese gostou, mas que ele queria que fosse mantida originalmente para garantir um impacto ainda maior perante o espectador. A ambientação de um local sujo e imundo, como costuma evidenciar o próprio protagonista, é perfeita e visitamos cinemas de filmes pornô, motéis baratos e um submundo caracterizado de forma brilhante.

O roteiro de Paul Schrader é feito para entregar uma obra completa e detalhista ao tempo em que utiliza metalinguagem e informações que ficam intrínsecas as observações. Típico roteiro que merece ser revisitado para uma melhor definição e melhor conceituação. Precisei assistir a produção duas vezes para me sentir capaz de escrever essa crítica e aqui vos digo que se a tivesse feito de primeira, poderia falar algumas asneiras que hoje não seria capaz de me perdoar. Este é o tipo de trabalho detalhista, que merece ser conferido em busca das mínimas observações, pois são elas que lhe permitirá desenhar um traço lógico para o entendimento da trama. A trilha sonora possui uma postagem especial na nossa coluna de trilhas, escrita por Zé Felipe. Vou deixar apenas que achei muito boa a ideia de utilizar o Jazz como expressão do sentimento de um personagem como este motorista de táxi. Confira a coluna especial clicando aqui.

A direção de Scorsese merece um parágrafo a parte. É com brilhantismo que ele rege a orquestra da produção e enriquece os detalhes com técnicas de direção muito interessantes. Depois de passar quase 30 minutos vendo coisas feias e absurdas, tive quase um colapso quando vi Betsy aparecer em cena. A atriz Cybill Shepherd é muito bonita, mas a câmera lenta que ele deu nela e o brilho que reluziu ao seu redor a fez uma diva, que encantou não somente a Travis, como todos nós. Outra coisa muito interessante foi a forma como ele adotou que deveríamos ver o desenrolar da história. Nossos olhos são os olhos do protagonista, já citei isso acima, mas não custa reforçar. O mundo que enxergamos nos permite estar mais próximo deste ser que poderia ser facilmente abominado por nós. A forma encontrada para adentrarmos a cabeça do personagem é outra ideia marcante, pois a narração e off ganha muita força ao sabermos que estamos diante do diário de Bickle e de seu momento de desabafo.

O final é tão impactante como o resto da produção. Não sei dizer porque, mas me lembrou um pouco o fim de Laranja Mecânica. A sociedade que tinha repugnado Alex Delarge lhe aceitou novamente e lhe transformou em algo bom, exatamente como podemos evidenciar isso com Travis Bickle, que depois de tal ato heroico é reaceito por alguém que no passado tinha lhe desprezado por sua essência. Fica parecendo que Betsy fosse o símbolo da sociedade, que mesmo ciente de estar diante de uma pessoa incomum, se torna capaz de encontrar algo nela que valha a pena ser apreciado. Outro filme que lembrei um pouco, disse um pouco, foi Drive, com Ryan Gosling, lançado este ano.

Não teria opção mais acertada para começar essa minha viagem no tempo. Uma Obra prima, um aula de cinema. Obrigado aos que me motivaram a começar por um trabalho que já me desafiou a escrever uma crítica. Uma película que precisou se revista, reinventada e reinterpretada. Espero que tenham gostado do texto, pois agora, quase 5 horas pensando nestas palavras, concluo o primeiro passo de minha nova missão.


Trailer do Filme:



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