Crítica: Trabalho Interno (Inside Job)
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Crítica: Trabalho Interno (Inside Job)



Esse fim de semana definitivamente me dediquei aos documentários, depois de conferir Ao Sul da Fronteira, resolvi finalmente assistir ao filme Trabalho Interno que ganhou o Oscar nessa categoria esse ano. Como sempre os problemas com a nosso distribuição afetarem também essa ótima obra, que ficou pouco tempo em cartaz nos cinemas brasileiros. O filme foi dirigido por Charles Ferguson autor de outro documentário igualmente contundente, No End in Sight (2007), que infelizmente não chegou aos nossos cinemas. Nesse outro projeto, ele abordou as razões do governo George W. Bush para a guerra do Iraque.

Narrado por Matt Damon, o documentário revela verdades incômodas da crise econômica mundial de 2008. A quebradeira geral, cujo custo é estimado em US$ 20 trilhões, resultou na perda do emprego e moradia para milhões de pessoas. Com pesquisa e entrevistas, o filme revela as corrosivas relações de políticos, agentes reguladores e a Academia (universidades).

O filme chama a atenção pela ampla pesquisa que foi feito para monta-lo, além de ser muito conciso, extremamente didático e muito detalhado. Creio que não foi nada fácil lidar com um tema bastante complexo, mas o diretor soube utilizar as diversas entrevistas além de materiais de arquivo (muitos gráficos e vídeos dos envolvidos) para conseguir ser claro e incisivo ao mesmo tempo.

O documentário explica como diversos bancos norte-americanos promoveram agressivamente o financiamento e refinanciamento de hipotecas, mesmo para aqueles que claramente não podiam pagá-las, ao mesmo tempo em que especulavam em cima desse não-pagamento e por fim obtiveram lucros astronômicos mesmo com a perda e falência de diversas instituições.

Ao mesmo tempo enquanto crescia essa bolha da ciranda financeira, os lobistas (bem pagos pelo setor financeiro) se empenhavam junto a políticos para que não se aprovasse nenhuma legislação dificultando seus movimentos.  Enquanto estes mantiveram forte pressão nos altos altos escalões do governo a desregulamentação do setor iniciada nos anos 1980, com o presidente republicano Ronald Reagan foi mantida pelo democrata Bill Clinton, na década de 1990 e continua até hoje.

Trabalho Interno é um documentário infelizmente  realisticamente sombrio. Ao longo de nossa jornada concluímos que os idealizadores destas operações de alto risco sabiam que suas ações poderiam gerar grandes prejuízos e até uma grave crise financeira a médio e longo prazo, mas ao mesmo tempo muito lucro a curto prazo. É incrível, mas vários dos envolvidos nesse processo criminoso e corrosivo não foram punidos, além disso, alguns continuam assessorando o governo atual de Barack Obama. O que piora a situação é que vários intelectuais de influência no setor, professores e até coordenadores das faculdades de renome que deveriam oferecer um contraponto crítico na verdade serviam de apoio para o sistema. Eles produziam artigos e publicações que sancionavam essas transações ao mesmo tempo em que eram pagos com milhares de dólares das empresas especuladoras.

O documentário Trabalho Interno é mais uma prova que bons filmes podem vir de temas complexos e complicados. Ao contrário de Oliver Stone (Wall Street - O Dinheiro Nunca Dorme, Wall Street - Poder e Cobiça, Platoon) em Ao Sul da Fronteira, Ferguson mostra-se um entrevistador altamente preparado, pode não ser tão cativante quando Sam Dunn  (Global Metal, Metal - Uma Jornada Pelo Mundo do Heavy Metal) ou Michael Moore (Tiros em Columbine, Fahrenheit 11 de Setembro, Capitalismo: Uma História de Amor), mas com certeza tem muito a acrescentar. Aguardarei ansiosamente por mais trabalhos seus e espero que os leitores confiram essa obra que é essencial para entender e conhecer algumas verdades sobre a crise de 2008, duvido que alguém assista e não saia revoltado.

Nota: 9,0


Trailer:




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