Crítica: Tudo Que Aprendemos Juntos
Cinema

Crítica: Tudo Que Aprendemos Juntos


Por Fabricio Duque

?Tudo Que Aprendemos Juntos? definidamente corrobora a maestria do cineasta Sérgio Machado, um escultor de ficção-realista, em contar histórias. Após a sessão no Festival do Rio 2015, filme este que concorre ao Troféu Redentor de Melhor Longa-Metragem de Ficção, ?batemos" um papo-conversa com Lázaro Ramos (que está brilhante no papel de protagonista), que disse que ?tudo é o trabalho do diretor? e complementa ?apenas um por cento? de seu talento. O filme literalmente ?desconcerta" o espectador, pelo perfeccionismo da espontaneidade interpretativa (preparado de forma magistral, como sempre, por Fátima Toledo - que ?causa" medo por suas técnicas radicais de ?se tornar o próprio personagem? e ?esquecer" a atuação) de todos seus atores, sem exceção, como as cenas de violência realista da briga na escola e a do pai que ?obriga" o filho a suas regras (o espectador sente os tapas e a cabeça batendo na parede). Aqui, os detalhes conduzem a trama não linear por uma câmera fluida e sensorial, que intercalam memórias, medos, a espera ?paciente", culpas, preconceitos, intolerâncias, problemas, empecilhos, pressões consequentes da vida social e decepções sem perspectiva de futuro. As peças vão se juntando e mostrando a elipse temporal de um menino prodígio à professor em uma comunidade (?favela, né??). O roteiro a quatro mãos (Maria Adelaide Amaral, Marcelo Gomes, Marta Nehring e do próprio Sérgio) é corajoso por humanizar e trazer à realidade possível o universo da música clássica (com seu didatismo, rebuscamento, elegância e suas definições - de ?igualdade" com os ?jogadores de futebol?). Tudo sem ?estimular" clichês, gatilhos comuns e paralelos bregas. Como foi dito, o destaque maior é sem dúvidas para Lázaro Ramos, que imprime com nuances perspicazes não apelativas e de total segurança da não interpretação (de uma existência no limite - uma ?panela de pressão"), como se fosse um tradução literal do comportamento convincente sem a presença da câmera. É uma sucessão de instantes criativos que não encontram a mesmice, tampouco a repetição, como a versão musical ?samba" do violino clássico com o cavaquinho. Ele ?reaprende" o social e a ?aceitar" o rap típico e a se ?adequar" as limitações do ?morro? (e as ?escolhas" de seus alunos que ?entram" no crime). ?Tudo Que Aprendemos Juntos? ?arrepia?, ?emociona" e ?chapa" o espectador por uma edição ?fantástica" que mitiga qualquer possibilidade de ?se deixar? a história apresentada (como a cena da perseguição - Que câmera!). Uma das características da arte cinematográfica é o sentir físico. E ?Tudo Que Aprendemos Juntos? é uma obra-prima, que segue isto a risca em suas catarses libertárias e perfeitas finalizações. Concluindo, o longa-metragem possui tudo: uma parte técnica competente, uma narrativa cadenciada, interpretações excessivamente realistas (que chegam a incomodar pela veracidade - tanto que suavizada em camadas) e um Lázaro Ramos digno (e obrigatório) do prêmio de melhor ator. Excelente. Recomendadíssimo.



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