Crítica: Um doce olhar (Bal)
Cinema

Crítica: Um doce olhar (Bal)


 

O filme turco Um Doce Olhar (Bal ou Mel em turco) chega aos cinemas brasileiros com altas credenciais por ter sido o grande vencedor do Festival de Berlim. No entanto é bom frisar que não se trata de um filme para as massas. Um Doce Olhar é o típico filme de festival, bem lento, muito contemplativo e econômico. Não há trilha sonora e esta foi subistiuida por sons naturais, o barulho do vento batendo nas árvores, a água da chuva nos telhados ou passos do menino Yussuf (Bora Alta?) andando pela lama no seu caminho para a escola.

Poucos também são os movimentos de câmera, que prefere se manter parada pegando o cenário real a acompanhar os personagens o que é bem peculiar para quem já tem contato com os filmes de arte e pode incomodar quem frequenta os filmes hollywoodianos. Ao contrário dos filmes que se passam em cidades grandes como Istambul, Um Doce Olhar nos transporta para uma região montanhosa com paisagens de tirar o fôlego, em meio a uma comunidade tradicional, onde é impossível definir em que década se passa a história (passei boa parte do filme sem saber precisar em que ano se passaria a história). Lá acompanhamos a vida do garoto Yusuf, de seis anos, ao lado de seu pai apicultor Yakup e sua mãe lavradora Zehra.

O filme conta a história de Yusuf (Bora Altas) uma criança que mora com os pais numa isolada área montanhosa da Turquia. Para ele, a região de floresta torna-se um verdadeiro mistério e aventura a partir do momento em que ele acompanha o pai em um dia de trabalho. O filme acompanha sua incrível jornada pela busca de algum sentido a sua vida.

O longa não se apega muito a simbolismos, não sendo uma produção transcendental com psicoldelias de outro mundo, mas sendo bastante transparente e direto, mostrando por exemplo no quanto um simples copo de leite pode significar o amadurecimento de uma criança. E ao mesmo tempo também não se prende apenas ao mundo real, mostrando sonhos e quanto eles são importantes para o pequeno Yussuf e seu pai, a ponto de não deverem ser contados em voz alta, mas apenas sussurrados ao ouvido um do outro.

O enredo não conta com reviravoltas abruptas e é visto pelos olhos do próprio Yusuf, que tem poucas falas exatamente por causa de sua personalidade reservada. Por outro lado, o menino é uma graça e seus olhos combinam muito bem com o título que o filme ganhou por aqui. E ele é o grande trunfo do filme quando lança orgulhosos olhares em direção ao seu pai, ignora os apelos de sua mãe e sofre com uma veracidade impressionante na hora da leitura da escola, cercado por risos dos colegas da classe que o levam a gagueira, silêncio e solidão.

A direção é o ingrediente final dessa receita que pode funcionar como sonífero para o espectador não-habituado a essa levada. Kaplanoglu insere bastante tempo morto nas cenas do filme. Fato curioso é que Um doce olhar é a treceira parte de uma trilogia que conta a vida de Yusuf, nos filmes anteriores, Yumurta (Ovo), de 2007, e Sut, (Leite), de 2008, a vida de Yusuf adolescente e adulto é explorada. O diretor resolveu filmar em ordem inverssa as outras infelizmente não chegaram no circuito comercial no Brasil e seria muito bom vê-los saindo posteriormente em DVD captaneados pelo sucesso do ultimo longa da saga. Um doce olhar é uma ótima pedida para os fãs de filmes de arte e para aqueles que desejam sair um pouco das mesmices hollywoodianas, uma produção belíssima e com um protagonista mirim tendo uma atuação cativante.

Nota: 8,8

Trailer:




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