Um Doce Olhar
Cinema

Um Doce Olhar


Ficha Técnica

direção: Semih Kaplanoglu
roteiro: Orçun Köksul e Semih Kaplanoglu
Elenco: Erdal Besikçioglu, Tülin Özen, Alev Uçarer, Bora Altas
fotografia:Baris Ozbicer
edição:Ayhan Ergürsel, Suzan Hande Güneri e Semih Kapanoglu
produção:Semih Kaplanoglu
estúdio:Kaplan Film Production / Heimatfilm
distribuidora:Paris Filmes
Duração: 103 minutos
País: Turquia / Alemanha
Ano: 2010
COTAÇÃO: MUITO BOM



A opinião

Quando se é criança, os acontecimentos possuem um sabor de aprendizado. Busca-se o entendimento sobre questões do mundo dos adultos. Os detalhes são mais importantes do que a própria ação. A fase constrói princípios, valores e enfrentamentos iniciais, que precisam acontecer.

O filme conta a sensível jornada de Yusuf, um garoto turco que está aprendendo a ler e a escrever, e que nas horas vagas ajuda o seu pai, um simples apicultor que guarda as colméias nos galhos mais altos das maiores árvores de uma misteriosa floresta. Mas quando seu pai parte, sem retorno, em busca de descobrir porque as abelhas estão sumindo, Yusuf se prepara para viver a sua maior aventura, tentando dar algum sentido à sua vida.

O garoto aprende a conviver com o novo. Transformar a ingenuidade em uma cruel vivência. Sentir a morte, ver o sofrimento da mãe, tentar entender a floresta, andar, lutar para que o próprio caminho não o ultrapasse.

O diretor Semih Kaplanoglu escolhe a espera e o tempo interno do fato. A narrativa retrata a espera, o introspecção, a dúvida e o sofrimento. Assim, apresenta-se lenta e detalhista, com uma fotografia espetacular e com enquadramentos, inventivos e simples. A camera utiliza o vidro para mostrar personagens e detalhes. O foco e o fora de foco acrescentam uma naturalidade despretensiosa. O filme, que ganhou o Urso de Ouro no Festival de Berlim deste ano, segue, contempla e observa, deixando acontecer, sem a intervenção da correria para que caiba no tempo de duração almejado.

O espectador embarca na fábula criada pelo diretor. Este longa faz parte da trilogia épica do personagem Yusuf. Então escrever sobre este filme é escrever sobre todos, já que elementos são explicados nas três partes. Mas essa trilogia é oferecida ao público às avessas. É de trás para frente.

"Os sonhos não deveriam ser espalhados", sussurra o pai. Não há muitos diálogos, objetiva-se o silêncio, que neste caso diz mais que palavras. O garoto vê na figura paterna um aliado, um amigo. Alguém que possa confiar, amar e se espelhar. Muitas características dos pais são absorvidas, sem o devido questionamento, pelos filhos. Fica-se a lembrança. E nesta idade, há uma visão diferenciada. Quando o pai some, ele se busca, viajando para dentro de si.

É um filme de imagens, captadas com sensibilidade e uma pureza escondida, que necessita a todo custo o não desaparecimento. A mensagem que fica é a da conservação dessa ingenuidade, desta vida comum e banal, com sofrimentos repetitivos de família em família, mas com níveis e tipos de dor. O menino é pequeno demais para vivenciar o que acontece como um adulto. As interpretações são contidas e ou exageradas, dependendo do momento, que se contrastam com sons (ruídos) sem ou com algo aparecendo na tela.

Incrível é a palavra certa. Resgata-se a pureza (como disse) desta fase tão mágica e tão incompreendida. Nada se entende muito bem. Nem a morte. Mas a aventura do auto-conhecimento, ou o caminho a uma nova fase, é o mais importante.

Yusuf levará para toda a vida os ensinamentos e particularidades de sua família, mesmo que não lembre. Adotará sintomas físicos para expressar saudades e a incontrolável vontade do retorno. É por isso que o longa toma a posição de direcionar o espectador ao próprio mundo interno e assim ter a percepção de uma narrativa que utiliza o tempo que precisa para ser ela mesma. Vale muito a pena ser visto. Recomendo.

O Diretor

Nasceu em 1963, na Turquia, e formou-se em Cinema e Televisão na Universidade de Dokuz Eylül em 1984. Trabalhou como roteirista e diretor de televisão, e em 2002 realizou seu primeiro longa, Away from Home. Em 2004, exibiu Angel?s Fall no Festival de Berlim. Desde 1987, escreve também artigos sobre arte e cinema. Este é o segundo filme de sua Trilogia de Yusuf, que com Yumurta (ovo) e o filme Bal (mel) sobre as transformações econômicas e sociais de regiões rurais da Turquia. A sequência é ovo, leite e mel.



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