Cinema
Crítica: Um Filme Francês
Por Fabricio Duque
O diretor Cavi Borges encontrou de vez sua inspiração, e o nome dela é Patricia Nidermeier. Assim como a ?figura nomeada? de Priscilla Rozenbaum foi para Domingos Oliveira, aqui, a união dos dois ?rende? trabalhos e mais trabalhos ininterruptos. Em seu mais recente filme, de gênero experimental, ?Um Filme Francês?, talvez seja uma possibilidade-homenagem para que sua ?musa? brilhe, em fotografia preto-e-branco. Apresentações à parte, vamos à crítica. O longa-metragem em questão aqui também é uma ode incondicional à sétima arte e ao universo da cinefilia. Talvez por isso, pelo alto grau passional, que ?Um Filme Francês? seja menos francês e muito mais latino, à moda "Kitsch" editada de Pedro Almodóvar, mais por causa da presença do tango que do jazz ?rasgado? propriamente dito e das constantes ?tiradas? de camisa do papel interpretado pelo ?sarado? Erom Cordeiro. É compreensível, talvez devido à inocência hiperbólica da paixão empregada. Cavi segue a máxima do dramaturgo Domingos quando diz que ?uma biografia pode e talvez deva ser descontinua como um filme de Godard?. Sim, a descontinuidade existe tanto na ficção (principalmente na cena da montagem), quanto na própria existência narrativa. Aqui falta ?pretensão? (característica dominante da Nouvelle Vague) e sobra ?condescendência? amigável. ?Godard dizia que a montagem é a pulsação do coração?, diz-se. E é assim que esta obra se comporta. É um filme de amigos (explicitamente presente nas cenas ?reuniões? na casa e no cinema Odeon ? este inferindo à estética de ?Love Film Festival?), que mais encontra a estrutura ?hippie? de Glauber Rocha (e a de Cristiano Burlan) que a técnica sistemática de François Truffaut, perceptível no desejo de se abordar o documentário (bastidores) do filme que está sendo filmado (a metalinguagem da vida privada contemporânea). A trama ?refaz? em homenagens cenas clássicas e icônicas de ?Acossado? e ?Jules e Jim?, por exemplo, buscando a nostalgia da linguagem ?mais naturalista? do ?somos nossos personagens? (com alusões palpáveis ao curta-metragem ?Em Trânsito? do mesmo diretor). Uma das maestrias do filme é seu conhecimento textual ao usar a Cinemateca do MAM como pano de fundo da memória fílmica. É inevitável não recorrermos também à lembrança da Cinemateca de Paris, lugar que influenciou e ?ensinou? os grandes cineastas, que agora são ?livremente? referenciados. ?Se você for tentar, vá até o fim?, diz-se e é exatamente isso que o diretor e sua fiel equipe executam. Não desistem e lutam por seus ideais utópicos, sensíveis e intensos, já que ?desconstroem? o próprio cinema com a própria essência ?raiz? da arte que eterniza momentos. Aos poucos, do meio ao final, o jazz ?finca? sua bandeira e ?instaura? a cadência e o ?poliamor? entre a Patricia (a musa principal), Juliana Terra e pelo lado "cafajeste, inocente e safado" do Jean Paul Belmondo tupiniquim. Concluindo, ?Um Filme francês? pode até se ?afastar? das características marcantes francesas, mas não podemos negar sua ?disritmia? emocional em ?desconstruir? tudo, representando a ingenuidade sem limites e ou ressalvas, criando um infinito possível da arte, e traduzindo que ?seu tempo é menor que a realidade?. Cavi e sua trupe ?resgatam a inocência perdida?, adaptada à modernidade. Diante de sua tela, ?somos de novo criança ouvindo histórias dos adultos queridos?, já disse Domingos Oliveira, o poeta visual.
loading...
-
Crítica: Adeus à Linguagem
Por Fabricio Duque ?Adeus à Linguagem? representa a mais nova experiência sensorial do diretor Jean-Luc Godard. O ?mestre? francês (que objetiva estender a ?nouvelle vague? aos dias atuais) desconstrói a narrativa visual ao se utilizar da linguagem...
-
Crítica: L'ombre Des Femmes
Por Fabricio DuqueDireto do Festival de Cannes 2015 "L'ombre Des Femmes", de Philippe Garrel (de "Amantes Constantes", "O Ciúme", "A Fronteira da Alvorada"). O novo filme do cineasta do existencialismo revolucionário busca abrigo na cinefilia, de...
-
ExposiÇÃo: Expo(r) Godard No Oi Futuro Flamengo
EXPO(R) GODARD Por Fabricio Duque Acontece no Oi Futuro do Flamengo, até o dia 07 de julho, a exposição EXPO(R) GODARD. Os curadores, Dominique Païni e Anne Marquez, tentaram traduzir a essência revolucionária do cineasta francês Jean-Luc Godard,...
-
Cineastas, Do Nosso Tempo: Jean-luc Godard
?Jean-Luc Godard ou o cinema desafiado? integra a mostra Cineastas, do Nosso Tempo, da Caixa Cultural do Rio de Janeiro. O documentário, por Hubert Knapp, faz um retrato do cineasta francês, intercalando reportagem sobre o realizador em questão,...
-
Crítica: Primeiro Dia De Um Ano Qualquer
A Arte de Domingos Oliveira Por Fabricio Duque O cineasta e dramaturgo Domingos Oliveira é um ?workaholic? (apresentou um novo filme e já espera para lançar outro), extremamente viciado na profissão que escolheu: a de captar momentos...
Cinema