Cinema
Crítica: Whiplash - Em Busca da Perfeição
Por Fabricio Duque
O tema da superação, de vencer os próprios limites e chegar à perfeição, é recorrente e estimulado no meio social em que vivemos. Ser o melhor, mais que qualquer um, torna-se o único objetivo possível, e o fracasso alimenta a punição de impedimento de segundas chances, conduzindo o pobre perdedor a um perpétuo limbo, que desencadeia a tortura psicológica que por sua vez leva à degradação humana por meio das drogas, bebidas e até mesmo o suicídio. Inúmeros exemplos já pulularam no cinema, ?Cisne Negro?, de Daren Aronofsky talvez seja um dos mais radicais. E há outros, como ?Whiplash - Em Busca da Perfeição?, personificam no concretismo físico a obsessão do impedimento patológico do erro. O longa-metragem, dirigido por Damien Chazelle (de "Guy and Madeline on a Park Bench? e roteirista de ?Toque de Mestre?), e estrelado pelo iniciante ?aluno" Miles Teller (que se entregou até o esgotamento, incluindo levar realmente o tapa) e pelo ?determinado-rígido-insensível? professor J. K. Simmons (quase um ?Dr. House?), eleva a própria narrativa a uma experiência-sinestesia do espectador, tanto pelo universo musical do "drums jazz? (do swing ao tradicional - de raiz ?New Orleans") e pela edição de ritmo compassado. O filme foi precedido por um curta-metragem homônimo de dezoito minutos, com Johnny Simmons (sem relação com J.K Simmons) no papel de Andrew. O curta recebeu o prêmio do juri no Festival de Sundance de 2013, e obteve apoio do programa de longa-metragem do SAG para a produção, que contou com Jason Reitman como um dos produtores executivos. ?Whiplash? busca a vivência naturalista-realista-coloquial do desenvolvimento obsessivo do protagonista principalmente pela câmera próxima-intimista que objetiva o ?orgasmo-catártico? musical. ?Faça ela gozar?, esbraveja-se. O ator J.K Simmons está um ?vilão?, majestosamente no papel, criando a ?raiva? de quem assiste por se comportar intolerante, metódico, sistemático, de ?verdade agressiva?, que ?faz chorar?, e que quer ?criar" robôs ?confiantes? e cirúrgicos (quase a personagem Miranda de ?O Diabo Veste Prada?). ?O segredo é relaxar?, finge-se na educação. ?Quem não tem talento, acaba em uma banda de rock?, alfineta. O ?treinamento? (de ?abuso psicológico? e com ?adjetivos depreciativos-sarcásticos?) manipula seu ?mancebo? a ?aproveitar a única oportunidade de sucesso? (?Jazz não é para todo mundo?), e assim sente o transe de seu sangue visceral e o limite ?perdido?, transmutando-se em decisivo e incisivo. ?Whiplash" corrobora a estrutura americana da determinação (passional, emotiva e patriótica). Não desistir, de competir sempre contra todos (e si mesmo) e não se deixar vencer por qualquer adversidade que acontecer, mesmo que esta seja impossível de transpassar. A transcendência tem que ser inteira, completa, plasmática, de outro mundo. Agir como ?Superman?, e ou como o baterista-ídolo Buddy Rich, é a máxima latente e reinante, que fica explícito e um deleite ao espectador na cena prólogo do solo final (arrepiante e libertador mitigando clichês mas aproveitando a emoção essencial da sensação experimentada). Concluindo, ?Whiplash" sabe conduzir com competência, cadência, liberdade e politicamente incorreto, equilibrando tempo, espera e genialidade. Há traços autobiográficos no roteiro escrito pelo diretor, que também foi um estudante de bateria e sofreu com a rudeza de um professor. Venceu o Prêmio de Audiência e de Juri no Festival de Sundance; Melhor Ator Coadjuvante para J.K. Simmons no Globo de Ouro e no Oscar (este que também premiou Melhor Montagem e Mixagem de Som). Recomendado.
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